𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟐

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— Sophie!

Era finalmente a hora do almoço, o que queria dizer que o primeiro dia de aula estava na metade. À minha volta, o corredor estava lotado e barulhento, mas mesmo com portas de armários batendo e anúncios sendo emitidos pelos alto-falantes, pude ouvir nitidamente a voz de Hirai Momo.

Olhei para a escada no fim do corredor e, claro, ela estava vindo na minha direção, o cabelo vermelho se destacando na multidão. Quando finalmente ficou a menos de um metro de onde eu estava, nossos olhos se encontraram, mas apenas por um breve instante. Ela logo seguiu em frente, avançando pelo corredor até onde Sophie estava.

Como Momo era minha amiga fazia mais tempo, pensei que talvez, só talvez, ainda pudesse ser. Mas parecia que não. Barreiras tinham sido erguidas, e agora eu tinha certeza de que estava do lado de fora.

Tinha outros amigos, claro. Pessoas que conhecia de outras turmas, da Lakeview Models, onde estava fazia anos. Ficava claro, no entanto, que o isolamento a que havia me obrigado a viver durante o verão tinha surtido mais efeito do que eu imaginava. Logo depois que tudo acontecera, tinha me isolado completamente, achando que seria mais seguro do que arriscar ser julgada pelas pessoas. Havia ignorado ligações e evitado as pessoas quando as encontrara no shopping ou no cinema. Não queria falar sobre o que tinha acontecido, então parecia mais seguro ficar na minha. O resultado, no entanto, foi que a manhã inteira, quando parava para cumprimentar garotas que eu conhecia ou me aproximava de grupinhos conversando, sentia uma frieza e uma distância instantâneas, que duravam até eu dar uma desculpa para me afastar. Em maio, tudo o que eu queria era ficar sozinha. Agora, meu desejo tinha se realizado.

A ligação com Sophie não ajudava, claro. Ter sido amiga dela me implicava em todos os seus crimes e delitos sociais — que eram muitos —, então boa parte dos alunos não fazia questão de correr para me abraçar. As garotas que Sophie tinha insultado e isolado enquanto eu fingia não ver deviam achar que eu merecia uma dose do meu próprio veneno. Se não podiam fazer nada com ela, iam descontar em mim.

No caminho para a entrada principal, parei na frente das portas de vidro que davam para o pátio. Do lado de fora, os vários grupinhos — atletas, artistas, politicamente engajados, lesados — estavam espalhados pelo gramado e pela calçada. Todos tinham um lugar próprio, e eu costumava saber qual era o meu: o banco de madeira à direita da entrada principal, onde Sophie e Momo estavam sentadas. Agora eu não tinha nem certeza de que deveria sair para o pátio.

Mais uma vez chegou aquela época do ano... — alguém disse com uma voz fina atrás de mim. Houve uma explosão de gargalhadas e, quando virei, vi um grupo de jogadores de futebol americano na porta da secretaria. Um garoto alto com dreadlocks imitava o modo como eu pegava o braço do cara do comercial, enquanto os outros riam. Eu sabia que eles estavam brincando, e talvez em outra época aquilo não me incomodasse. Mas, naquele momento, senti meu rosto ficar vermelho enquanto abri as portas e saí para o pátio.

Havia um muro comprido à minha direita, então virei em direção a ele, procurando por um lugar, qualquer lugar, para sentar. Só havia duas pessoas ali, e a distância entre elas era suficiente para que ficasse claro que não estavam juntas. Eram Sana e Jeon Jung-Kook. Eu não tinha muita opção, então sentei entre os dois.

Senti os tijolos quentes contra minhas pernas enquanto desembrulhava o almoço que minha mãe tinha preparado naquela manhã: sanduíche de peru e uma nectarina. Abri uma garrafa de água, tomei um gole e finalmente me permiti observar ao redor. Vi que Sophie estava me encarando do banco de madeira. Quando nossos olhos se encontraram, e ela deu um sorrisinho, balançando a cabeça antes de desviar o rosto.

Patética, ouvi sua voz dentro da minha cabeça, então afastei esse pensamento. Não queria sentar com ela, mas jamais tinha me imaginado na companhia em que estava agora, com Sana de um lado e o cara mais nervoso da escola do outro.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora