𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟏𝟔

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A baia da biblioteca onde eu passava o intervalo ficava em um canto meio escondido, longe dos corredores. Eu não estava acostumada a ter companhia. Por isso, vi Momo procurando por mim no intervalo do último dia de aula antes do Natal antes que ela me visse.

No início, só percebi um borrão vermelho de canto de olho, passando uma, duas vezes. Tirei os olhos das anotações da aula de inglês que estavam espalhadas à minha frente para uma última lida e observei ao redor: nada. As mesmas prateleiras silenciosas. Um instante depois, ouvi passos. Quando virei, ela estava em pé atrás de mim.

— Ah, você está aí — Momo disse, em voz baixa, mas audível.

Como se até então eu estivesse perdida. Como se eu fosse uma meia que a secadora tivesse engolido e ela finalmente encontrara. Eu não disse nada, distraída pelo pânico. Tinha escolhido aquele lugar porque era isolado, distante de tudo, o que dificultava muito a possibilidade de ser abordada.

Momo veio na minha direção. Sem perceber, fui para trás, batendo na divisória que havia ali. Ela parou e cruzou os braços.

— Olha só, sei que as coisas estão estranhas entre a gente este ano, mas... preciso conversar com você.

Em algum lugar ali perto, ouvi vozes, uma masculina e uma feminina, conversando enquanto se movimentavam pelos corredores. Momo também ouviu e virou a cabeça em direção ao barulho, até ele desaparecer. Então pegou uma cadeira, arrastou para perto de mim e sentou. Com a voz bem baixa, disse:

— Sei que você sabe o que aconteceu. O que Will fez comigo.

Ela estava tão perto que eu sentia seu perfume, frutado e floral.

— Andei pensando em você — Momo continuou, sem tirar os olhos verdes de mim. — E naquela festa antes das férias.

Eu ouvia minha própria respiração, o que queria dizer que ela provavelmente também. Atrás de Momo, as árvores do outro lado da janela se mexiam, e um raio de sol se estendia pelas prateleiras, com a poeira dançando nele.

— Você não precisa conversar comigo sobre isso — Momo disse. — Quer dizer, eu sei que você me odeia.

Pensei em Sana, olhando para mim daquele jeito na Bendo. "É isso que você acha?", ela tinha perguntado quando eu dissera a mesma coisa.

— Mas a verdade é que, se aconteceu mesmo alguma coisa... como aconteceu comigo — Momo continuou —, isso pode ajudar. Podemos fazer parar. Quer dizer, podemos fazer com que ele pare.

Eu ainda não tinha dito nada. Não conseguia. Fiquei sentada ali, imóvel, enquanto Momo enfiava a mão no bolso e tirava um cartão branco de lá.

— Este é o nome da mulher que está cuidando do caso — ela disse, me oferecendo o cartão. Como não peguei imediatamente, Momo o deixou em cima da mesa, ao lado do meu cotovelo, virado para cima. O nome estava escrito em preto e havia um emblema no canto superior esquerdo. — O julgamento começa segunda, mas eles ainda querem conversar com mais gente. Você pode ligar e contar... o que quiser. Ela é muito legal.

Aquilo que me assustava mais do que qualquer coisa, o motivo pelo qual eu não tinha sido sincera com Jung-kook quanto ao que estava me incomodando naquela noite na Bendo — Momo falava como se fosse fácil. Se eu não tinha conseguido contar a ele, uma pessoa que eu achava que aguentaria ouvir, como ia contar a uma estranha? Não tinha jeito. Mesmo que eu quisesse. E não queria.

— Pense — ela disse. Então respirou fundo, como se fosse acrescentar alguma coisa, mas não o fez. Só levantou e disse: — A gente se vê, tá?

Momo colocou a cadeira de volta no lugar e entrou no corredor mais próximo. Depois de dar uns dois passos, no entanto, virou para mim de novo.

— Lalisa? — ela chamou. — Desculpa.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora