𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 - 𝟎𝟕

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Passei o fim de semana inteiro me perguntando o que esperar da próxima vez em que visse Jung-kook no colégio. Se alguma coisa seria diferente depois do que tinha acontecido sexta-feira ou se voltaríamos a compartilhar o silêncio e a distância, como se nada tivesse acontecido. Alguns minutos depois de sentar, ele decidiu por nós.

— E aí, você ouviu?

Larguei o sanduíche, virando para olhar para ele. Ele estava no lugar de sempre, de calça jeans e camiseta preta. O iPod continuava visível, mas os fones de ouvido estavam pendurados no pescoço.

— O programa?

— É.

— Ouvi, sim — disse, assentindo com a cabeça.

— E?

Apesar de ter passado boa parte do fim de semana atenta a quantas vezes eu omitia as coisas ou simplesmente mentia para evitar conflitos, meu primeiro instinto naquele momento foi fazer exatamente aquilo. A honestidade como princípio era uma coisa. Na cara de alguém era outra.

— Bom... — comecei — É... interessante.

— Interessante — ele repetiu.

— É — eu disse. — Eu... é... nunca tinha ouvido aquelas músicas antes.

Ele me observou, estudando meu rosto pelo que pareceu bastante tempo. Então me surpreendeu ao levantar e dar três passos para diminuir a distância entre nós antes de sentar ao meu lado.

— Tudo bem — ele disse. — Você ouviu mesmo?

— Sim — respondi, tentando não gaguejar. — Ouvi.

— Não sei se você lembra, mas você me disse que mentia.

— Eu não disse isso. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Disse que às vezes omito a verdade. Mas não estou fazendo isso agora. Ouvi o programa inteiro.

Ele continuava sem acreditar, era óbvio. E não exatamente surpreendente.

Respirei fundo.

— "Jennifer", Lipo. "Descartes Dream", Misanthrope. Uma música com um monte de apitos...

— Você ouviu mesmo. — Ele balançou a cabeça. — Então tá. Agora me diga o que realmente achou.

— Eu disse: achei interessante.

— Interessante não é uma palavra.

— Desde quando?

— É uma muleta. Algo que a gente diz quando não quer dizer outra coisa. — Jung-kook se aproximou um pouco mais. — Olha, se você está preocupada com meus sentimentos, não precisa. Você pode dizer o que quiser. Não vou me ofender.

— Eu disse. Eu gostei.

— Fala a verdade. Diz alguma coisa. Qualquer coisa. Manda ver.

— Eu... — comecei a responder, mas parei. Talvez tenha sido pelo fato de Jung-kook desconfiar claramente de mim. Ou minha consciência repentina de que eu raramente dizia a verdade. De qualquer forma, cedi. — Eu... eu não gostei.

Ele bateu na perna.

— Eu sabia! Para alguém que mente tanto, você não faz isso muito bem.

Aquilo era bom. Ou não? Eu não tinha certeza.

— Não sou uma mentirosa — eu disse.

— Certo. Você é gentil — ele disse.

— Qual é o problema em ser gentil?

— Nenhum. Só que geralmente envolve não dizer a verdade — ele respondeu. — Agora me diga o que realmente achou.

𝐒𝐨́ 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐭𝐞... • 𝐋𝐢𝐳𝐤𝐨𝐨𝐤Onde histórias criam vida. Descubra agora