Capítulo 30

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E mais um dia de aula se foi na casa da família Ross. Quando cheguei à biblioteca, o Arthur ainda não estava lá, mas o que mais me chamou atenção foi um forte barulho que vinha lá de fora. Quando olhei pela janela, avistei um daqueles grandes carros luxuosos e vintage com o capô levantado. O motor roncava fortemente enquanto o pai do Arthur o observava. De repente, o barulho parou e, de dentro do carro, o Leonard saiu, juntando-se ao irmão.

Inevitavelmente, os meus olhos foram atraídos por ele. Naquele momento, ele vestia uma regata branca, já um pouco suja com manchas de graxa, e uma calça jeans — um visual muito diferente do que aquele que costuma usar. Enquanto conversava com o irmão, ele mexia no motor do veículo, estando bem concentrado no que fazia. Os seus braços eram fortes e torneados, o que já era perceptível mesmo com os seus trajes sociais. Sem que eu mesma percebesse, eu o observava fixamente, como se eu estivesse presa em um encanto hipnótico. Mas quando eu menos esperava, os nossos olhos se cruzaram, e de um modo instintivo e involuntário, eu desviei o olhar e saí imediatamente da janela. Droga! Além de ter sido flagrada, eu fugi de um modo bastante suspeito, deixando claro a ele que eu estava o espionando.

Não preciso mencionar que passei o restante do dia me sentindo uma completa idiota. Enquanto lecionava, a imagem do Leonard invadia a minha mente, não apenas sobre o recente ocorrido, mas também as últimas vezes em que nos encontramos. É inegável que o Leonard seja um homem bonito e atraente. Mesmo assim, eu me sinto ridícula pela minha "curiosidade" em torno dele. Além do mais, tive recentemente uma experiência um pouco traumática com um homem mais velho.

Quando a aula estava quase no fim, fortes estrondos de trovões ressoavam pelo ambiente, que pareciam chacoalhar toda a casa. Nuvens escuras cobriram de repente todo o céu, dando a impressão de que havia anoitecido em questão de segundos. Ótimo! Certamente não daria tempo para eu chegar em casa antes da tempestade — e assim aconteceu.

Chovia e ventava forte, sendo completamente impossível sair, muito menos pilotar uma scooter. Naquele dia, a aula havia sido bastante cansativa, então, tudo que eu queria era um banho quente e uma cama macia. De qualquer forma, eu tinha me preparado para partir, já estando no salão com a minha mochila nas costas.

— Você não deveria sair agora, Senhorita Tillmann. Você pode esperar aqui sem problemas.

— Obrigada, Arthur. Talvez a chuva já esteja passando.

— Tem certeza? Pelo barulho, parece que ela está caindo muito forte lá fora.

— Vamos dar uma olhada — Assim que abri a porta, uma forte rajada de vento quase me jogou para trás, além de ter me molhado com a chuva. No mesmo instante, o Arthur correu para me ajudar a fechar a porta — Pois é... Acho que você tem razão — Disse sem graça enquanto tirava as mechas molhadas do meu rosto.

— O que está acontecendo? — Ao reconhecer aquela voz masculina, eu e o Arthur nos viramos e nos deparamos com o Leonard, que havia chegado repentinamente ao local. Desta vez, ele havia retornado com os seus trajes formais. Droga! Eu pensava que ele já tivesse ido embora.

— A Senhorita Tillmann insiste em sair agora.

— Com o mundo desabando lá fora? — Disse em um tom preocupado — De maneira alguma! É melhor ficar aqui e esperar a tempestade passar.

— É isso que eu tenho dito a ela!

— É muito gentil da parte de vocês, mas eu não quero incomodar — Falei meio envergonhada.

— Eu também fiquei preso aqui por causa da chuva. Eu imagino que o Phil e a Beatrice não tenham voltado ainda da casa do papai pelo mesmo motivo.

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