Capítulo 13

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Depois da discussão com o Marcos, eu não o vi mais ao longo da tarde — afinal, nós não teríamos aula naquele dia. Ele nem mesmo insistiu para que eu ficasse em seu escritório, a fim de tentar se explicar. No entanto, não havia mais nada para ser esclarecido. Tudo estava nítido, eu tinha descoberto as suas reais intenções. Talvez a minha última palavra tenha lhe causado um choque de realidade. Eu não me arrependo de nada que eu tenha feito ou dito, pois eu não poderia admitir que ele continuasse brincando com os meus sentimentos — e eu espero que isso lhe sirva de lição para não assediar as outras alunas.

Falando em "outras alunas", eu reencontrei a Ashley no primeiro horário. Nós não nos falamos, mas também não trocamos olhares "rancorosos". Porém, era perceptível um clima pesado entre nós. A Vanessa e a Ana estavam também silenciosas e cabisbaixas. Certamente, as suas reações ao meu lado se devem à pequena discussão que tivemos mais cedo.

Durante o intervalo, a Vanessa e a Ana vieram falar comigo, mas não tocaram no assunto. Já a Ashley, ela não voltou para assistir às aulas restantes, o que foi extremamente estranho, pois ela nunca faltou a uma aula até então. Nesse caso, eu perguntei às meninas se elas sabiam de algo, mas elas estavam mais surpresas do que eu. A Vanessa enviou uma mensagem para a Ashley, mas não obteve resposta até o final da aula.

Agora, quanto a mim, eu não sei como consegui prestar atenção nos conteúdos que nos foram ensinados. As cenas da discussão com o Marcos, as suas declarações anteriores, os seus desenhos, e simplesmente a imagem de seu rosto transitavam incessantemente pela minha mente. Eu devo admitir que a raiva me ajudava a me concentrar nos meus objetivos. Mas em meio à ira, lá no fundo, havia também um pouco de tristeza. Eu estava magoada com o Marcos, é claro. Porém, eu não deveria me deixar abater — afinal, esta não foi a primeira e nem a última decepção amorosa pela qual passaria.

O meu dia foi longe de ser 100%, mas pelo menos sobrevivi naquela universidade. Após o fim das aulas diurnas, eu fui à biblioteca, como de costume. Não posso negar que eu estava um pouco receosa de encontrar o Marcos por lá, mas acabei me lembrando de que ele trabalhava no horário noturno naquele dia. Então, durante a minha visita à biblioteca, eu não o avistei em nenhum momento. No entanto, era inevitável pensar nele.

Em meio aos estudos, o fato de ele não ter insistido em vir falar comigo começava a me estranhar — aliás, o Marcos sabia que eu estava sempre na biblioteca durante a noite. Como disse anteriormente, ele nem mesmo me impediu de partir. Se o Marcos realmente fosse inocente e gostasse de mim conforme alegava, ele teria lutado para que eu o ouvisse. Logo, tudo indicava, infelizmente, que eu estava certa.

A minha sessão de estudos noturnos havia chegado ao fim e, desta vez, eu tive que correr para não ficar presa na biblioteca. Eu havia perdido completamente a noção da hora. O campus estava mais vazio do que o costume — talvez porque já era tarde em plena sexta-feira à noite. Seguindo o meu velho hábito, eu saí de lá e fui em direção ao meu atalho para chegar em casa — ou seja, o parque.

Enquanto seguia o meu trajeto, eu notei que aquela noite era diferente. Havia um clima estranho, como se o ar estivesse pesado. Já que muitos estudantes não tinham ido ao horário noturno e estava muito tarde, havia pouca movimentação no parque, estando praticamente vazio. Era possível ouvir apenas o barulho dos meus passos. À medida que prosseguia, eu começava a sentir mais frio — aliás, eu usava apenas um vestido e uma jaqueta jeans. Eu não esperava que a temperatura cairia tão bruscamente.

Além do frio, um sentimento estranho me abateu: eu tive a impressão de que, de repente, não estava completamente sozinha naquele lugar. Talvez isso fosse por causa daquele clima estranho, mas uma sensação de insegurança não parava de me incomodar. Eu apressei o passo. Porém, eu continuei ainda com a impressão de que estava sendo seguida e vigiada. Então, eu decidi olhar para trás enquanto caminhava. Não havia ninguém. Mas nesse rápido intervalo de tempo, eu acabei me chocando contra algo ou alguém à minha frente, fazendo-me recuar também com o susto.

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