Capítulo 16

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Já fazia algum tempo que eu e o Marcos não nos encontrávamos, mas não pelo ocorrido no carro dias atrás, e sim pelos nossos compromissos — pelo que me disse, ele ficou sobrecarregado naquela semana, especialmente depois que aceitou participar da produção da exposição de artes. De qualquer maneira, nós mantínhamos contato pelo celular e não tocamos mais naquele assunto. Afinal, eu prefiro também nem pensar nisso, pois temo que a história de sua ex possa prejudicar a nossa relação de alguma forma (aliás, não é muito convencional falar sobre os nossos relacionamentos passados em nosso atual).

Mesmo sabendo de sua agenda apertada, eu sentia ainda que ele estava um pouco distante, como se algo não estivesse completamente bem entre nós. Talvez o Marcos não tivesse ainda se perdoado por causa do colar. Então, eu acreditei que ele estivesse um pouco sem graça comigo por causa disso. Enfim, essas foram as minhas impressões sobre ele, até que eu tive uma surpresa.

Na última sexta-feira, nós não tivemos aulas devido ao feriado. No entanto, eu e o Marcos não havíamos planejado nada — ou melhor, ele não me sugeriu nada, e eu deduzi que ele queria aproveitar o tempo livre para descansar ou simplesmente para ficar um pouco sozinho (às vezes, todos nós precisamos disso). Eu também não premeditei nada para aquele dia e o passaria, então, em casa e sem fazer nada útil. Nesse caso, eu aproveitei para dormir até mais tarde (o que tem sido algo raríssimo em minha vida ultimamente).

Já eram quase treze horas quando eu finalmente acordei. Sentia-me revigorada. Após fazer a minha primeira higiene do dia, eu nem me preocupei em me trocar, pois para aproveitar 100% um feriado, é preciso passá-lo inteiramente de pijama. Sendo assim, eu fui diretamente à cozinha, onde encontrei a Lanita preparando o seu almoço.

— Bom dia! Ou melhor, boa tarde! — Brincou ao me ver, enquanto cortava alguns legumes na mesa — Acho que nem preciso perguntar se a nossa Bela Adormecida dormiu bem.

— Eu nem lembro qual foi a última vez em que dormi tanto! — Fui até a geladeira e peguei um iogurte e algumas frutas — Isso realmente me fez muito bem. Eu não sabia que eu estava tão cansada.

— Você se esforça muito nos estudos, Alina. Você deveria fazer uma pausa às vezes.

— Assim como você, eu não vejo a hora de me formar — Disse, já sentada à mesa e preparando o meu "café da manhã" — Além disso, eu preciso ter excelentes notas, caso eu queira estender os meus estudos ao Mestrado.

A Lanita sorriu de volta e voltou a se concentrar no preparo de sua refeição. Apesar de não nos vermos sempre, é muito bom conversar com ela, pois acho que nós duas temos muito em comum: a Lanita é também uma garota esforçada e focada em seus objetivos, por isso ela vive na universidade e mal fica em casa. Mas quando está aqui, ela é uma pessoa discreta e reservada e que, assim como eu, não sai muito de seu quarto. Ás vezes, eu tenho até a impressão de que moro sozinha.

Voltando àquela manhã na cozinha, eu decidi quebrar o silêncio que começou a se instalar entre nós, puxando um assunto qualquer enquanto tomava o meu iogurte.

— Mas então, novidades?

— Eu não sei se te contei antes, mas o meu pedido de estágio foi aprovado.

— Sério? — Eu parei de comer e a encarei com um ar entusiasmado — Isso é ótimo! Meus parabéns! Onde será o estágio?

— Será no próprio Hospital Universitário da Rutherford. É aquele que fica perto do Centro da cidade — Dizia colocando os seus legumes em uma panela com água, levando-a ao fogão.

— Não era esse o hospital onde você queria trabalhar?

— Sim, esse mesmo. Na verdade, todos os estudantes de medicina devem passar por lá em algum momento.

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