Capítulo 15

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Sim, é isto: eu estou namorando o meu professor de Estudos Literários. No entanto, essa informação permanecerá em segredo absoluto até que surja a hora certa para revelar oficialmente a todos — ou seja, a data da minha formatura. Sim, eu sei que faltam ainda quase dois anos para me formar, mas não encontramos outra maneira. Eu confesso que não queria esconder a novidade do meu pai, da Selena e nem da Lanita. Mas, quanto a minha mãe, é melhor que ela não saiba de nada — aliás, eu posso imaginar qual seria a reação da "grandiosa" Sônia Mendes ao descobrir que a sua filha está saindo com um "simples" professor universitário.

Em relação ao Marcos, ele parece não se importar em manter a relação em segredo ou não, pois ele insiste em dizer que nós somos adultos e o nosso relacionamento não tem nada a ver com a universidade. Entretanto, eu não consigo ver as coisas por esse ângulo: suponhamos que todos saibam sobre a gente. Então, se eu alcançasse as melhores notas da classe — ou até mesmo do curso —, os alunos poderiam acusar o Marcos de ter facilitado e beneficiado tudo a meu favor. No entanto, ele diz que eu já estou sendo dramática, a ponto de parecer paranóica. Porém, nós dois não sabemos qual seria a reação do Senhor Mendel ao descobrir a nossa relação. Aliás, se o Marcos tiver a sua carreira destruída por minha causa, eu jamais me perdoaria! Além disso, eu devo admitir que tenho medo dos julgamentos, o que pode não só prejudicar a ele, mas também a mim mesma.

Voltando a falar sobre a minha família, eu não acredito que o meu pai e a Selena me condenariam, ao contrário da minha mãe. Mas, infelizmente, nós não podemos prever as suas reais reações e eu não gostaria de ser um problema na vida deles. Sendo assim, algo me diz que, por enquanto, é melhor deixar as coisas como estão — o que é uma pena, pois eu estou ansiosa para apresentar o Marcos ao meu pai. Até onde eu saiba, eles têm muito em comum, especialmente a paixão pelas artes, eu tenho certeza de que eles se darão muito bem.

Apesar de termos assumido o nosso "relacionamento", nós estamos ainda em um processo de conhecimento. Em comum acordo, nós estamos tentando construir uma relação dentro dos limites da discrição. Durante as aulas, nada mudou significamente: o Marcos continua gentil comigo, assim como os demais alunos, mas mantendo a distância entre professor e estudante. As nossas habituais olhadelas e sorrisos discretos permanecem, mas com mais frequência — o que é praticamente inevitável. Sobre a Ashley, ela não tocou mais naquele assunto absurdo — ou melhor, naquela mentira —, e nem sequer se gaba mais por ser a assistente do Marcos.

O tempo tem passado rápido e já faz alguns dias que temos nos encontrado para conversar, porém sempre de modo rápido e discreto, é claro. Sei que pode parecer um pouco absurdo, mas os nossos encontros geralmente acontecem na biblioteca, à noite. Obviamente, nós tomamos cuidado para não levantar suspeitas, e já tem sido o bastante para nos conhecermos melhor. Por exemplo, eu descobri que o Marcos tem 32 anos de idade — ou seja, nós temos uma diferença de 11 anos e, pensando bem, acho que é a mesma coisa entre o meu pai e a Selena. Além disso, ele aparenta ser fisicamente mais jovem, logo, eu acredito que não chamaremos muito atenção.

Nós temos também conversado bastante pelo celular, e o nosso relacionamento me fez descobrir que eu sentia falta destes pequenos e simples detalhes: saber que é especial por alguém; que uma pessoa espera ansiosamente pelos meus telefonemas e que se interessa em saber como eu estou e o que eu tenho feito todos os dias... Mesmo levando uma relação típica da época dos nossos avós, isso já tem sido o bastante para nós. Talvez seja ainda um pouco prematuro dizer isto, mas fazia muito tempo que eu não sentia este tipo de felicidade. Até então, o meu único namorado tinha sido o Josh e eu não me relacionei com mais ninguém depois que rompemos. Eu me pergunto como eu pude me tornar uma pessoa tão reclusa.

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