~ x ~
Apesar da desagradável surpresa de ter encontrado o quadro da ex-noiva do Marcos, o nosso fim de semana tinha sido maravilhoso. Nós realmente precisávamos daquele momento. Após a "sessão de pintura" — e depois de ter nos limpado bem, é claro —, nós passamos o restante do tempo com conversas, assistindo a filmes, preparando refeições e entre outras coisas de casal.
Obviamente, eu não comentei sobre o quadro, pois quero manter a minha ideia de não tocar no assunto de seu relacionamento passado. No entanto, eu não consigo impedir que certos pensamentos desconfortantes invadam a minha mente. Não se trata apenas de um simples retrato. Muito amor havia sido colocado naquela obra, qualquer um poderia perceber isso já na primeira olhada. O Marcos me falou pouco sobre ela, mas aquela tela afirma com toda certeza de que ele realmente a amava. Eu não queria me comparar a ninguém, mas eu não deixo de me perguntar se o Marcos sente o mesmo por mim — se ele me vê da mesma maneira que via a Claire. Entretanto, caso a resposta seja "sim", eu não sei se isso seria algo de fato bom. Eu estaria, então, cumprindo apenas um papel de "substituta"?
Esses questionamentos são insistentes, mas eu tento afastá-los com um pouco de racionalidade. Pense bem, Alina: aquele quadro estava guardado, escondido em um porão. Se os sentimentos do Marcos por ela fossem ainda tão vivos, aquela tela estaria na parede da sua sala de estar ou do seu quarto. Além disso, esse ciúme me faz pensar de uma forma precipitada e infantil. Eu sinto que o Marcos tem se esforçado para ser um bom parceiro, e isso exige também a minha colaboração, sendo paciente e compreensiva.
Retornando ao nosso fim de semana, foi na tarde do domingo que eu decidi voltar para casa — apesar do Marcos ter insistido muito para que eu esperasse mais um pouco, até que a noite chegasse. Mas por mais que quisesse ficar, eu precisava voltar logo: além de preparar algumas coisas para a semana, fazia quase três dias que eu usava as roupas do Marcos.
Enquanto ele procurava pelas chaves do carro, eu o esperava na sala de estar — e foi quando eu finalmente pude observar os seus porta-retratos em cima de uma estante. Mesmo não tendo ficado surpresa, aquele sentimento angustiante preencheu-me novamente: em alguns porta-retratos, havia fotografias da mesma mulher de seu quadro misterioso. Não restavam mais dúvidas: aquela era a sua falecida noiva. Apesar de não ser várias fotos (duas apenas, se não me engano), aquilo não deixou de me incomodar. Em um dos porta-retratos, eles estavam abraçados, com largos sorrisos e olhos brilhantes — o que é típico de quem está feliz ao lado de quem ama. Na outra fotografia, ela posava sozinha. Como venho dizendo, mesmo se tratando de uma pessoa que já se foi, é duro ver uma foto de seu namorado com a sua ex, como se aquilo ainda fosse real. Eu compreendo que o Marcos queira preservar a memória de uma pessoa que lhe foi importante no passado. No entanto, até que ponto ele teria superado a sua morte?
Assim que ouvi os passos do Marcos se aproximando, eu me afastei da estante, fingindo prestar atenção em outra coisa. Ele chegou com as chaves na mão e, antes de sair, deu uma rápida olhada pela janela, verificando o movimento da rua.
— Não há uma viva alma, como de costume — Ele se virou para mim e o seu olhar mudou completamente — Você está bem?
Eu acredito que eu tenha perdido a minha habilidade de esconder os meus verdadeiros sentimentos. Naquele momento, sentia-me ainda incomodada por causa do quadro e, agora, pelos retratos na estante.
— Não é nada... Eu já estou sentindo saudades do nosso fim de semana — Menti, mesmo odiando isso.
O Marcos se aproximou, ainda com o seu olhar preocupado — pelo visto eu não consegui ser muito convincente. Ele segurou delicadamente o meu rosto com as mãos e beijou a minha testa.
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Memórias Ocultas
RomanceApós passar por um incidente, Alina perde uma parte de suas memórias. Sem saber em quem confiar, só há uma maneira de descobrir os seus feitos passados: ler o seu diário. No entanto, à medida que avança em sua leitura, Alina começa a acreditar que e...