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Eu nem preciso mencionar que, depois daquela noite na biblioteca, eu mal conseguia dormir e muito menos prestar atenção às aulas. Nada era capaz de me impedir de pensar no ocorrido. Afinal, o que foi que deu nele? Ele quase me beijou na biblioteca da universidade! O Marcos é o meu professor, se alguém tivesse nos visto, isso poderia ter nos gerado consequências graves, especialmente para ele mesmo. Além disso, aqueles desenhos ainda me perturbam, a ponto de me causar medo.
É claro que o Marcos foi um completo inconsequente. No entanto, acredito que eu tenha a minha parcela de culpa. Eu não tive nenhuma reação, apenas me deixei levar — eu deveria ter fugido assim que descobri os desenhos. Porém, eu estava — ou ainda estou — apaixonada por ele (eu sou obrigada a admitir isso). Se as circunstâncias fossem outras, eu estaria completamente feliz por ter descoberto o que ele sente por mim. Mas nós dois somos forçados a aceitar a realidade: nós somos maiores de idade, porém ele é um professor e eu, a sua aluna. Um relacionamento entre nós não seria nada ético — pelo menos é o que eu acho.
Eu cogitei não ir à sua próxima aula — ou melhor, eu pensei em não ir à universidade por alguns dias. A possibilidade de que alguém possa ter nos flagrado ainda me apavora. Eu sei que já fugi antes, mas não posso dar a ele mais uma prova de que me deixou abalada. Afinal, ele é um homem e tem o seu ego. Além disso, eu já o conheço o bastante para ter uma ideia de como ele irá reagir na sala de aula: algo me diz que ele vai me tratar da forma mais natural possível, como se nada tivesse acontecido, a fim de não levantar suspeitas com ninguém — e é isso que eu devo fazer também. Caso alguém tenha desconfiado de algo entre nós, o meu sumiço seria ainda mais suspeito.
Eu me detesto por sentir medo. Confesso que gostaria de ser mais confiante nessa situação, ou até mesmo um pouco mais "ousada". Eu não posso deixar que algo assim interfira ou prejudique os meus objetivos. Aliás, eu deveria usar as minhas metas como uma forma de driblar ou de silenciar esses sentimentos. Entretanto, é mais fácil falar do que colocar essa ideia em prática.
Enfim, o tão temido dia chegou. Antes de sair de casa, eu já estava tremendo, com o rosto avermelhado de vergonha, e sentia o meu estômago já se revirando de ansiedade (eu me odeio tanto por ser assim!). Apesar de eu estar agonizando, eu deveria me mostrar confiante — afinal, isso fazia parte do plano de agir naturalmente.
Assim que cheguei à sala, o Marcos ainda não tinha chegado e os alunos conversavam alto entre eles. À primeira vista, tudo parecia normal, mas o meu coração continuava acelerado. Eu fui até a minha carteira habitual, sentando-me próximas das meninas que já estavam lá. Assim que me viram, elas me cumprimentaram e voltaram a conversar normalmente, inclusive a Ashley — aliás, se alguém desconfiava de algo, essa pessoa seria ela, já que vive praticamente grudada no Marcos. No entanto, o meu nervosismo passava despercebido.
Não demorou muito e senti o meu corpo gelar quando avistei o Marcos entrando na sala. Já de início, eu tive uma ligeira impressão de que ele estava diferente: geralmente, o professor chegava alegre, cumprimentando a todos. Mas, desta vez, ele chegou cabisbaixo, completamente em silêncio, e era possível ver que ele não estava com uma cara não muito boa. Assim que chegou lá na frente, ele colocou rapidamente as suas coisas em cima da mesa, virou-se para o quadro negro, escrevendo o assunto que estávamos estudando nos últimos dias. Ele continuava em silêncio e nem sequer olhava para a turma. Já os alunos, ao perceber a presença do professor, ficaram todos em silêncio.
Finalmente, ele se virou e levantou a cabeça, encarando a classe com um olhar extremamente sério, que chegava até ser um pouco frio. Tudo indicava que ele estava de mau humor. Eu nunca o tinha visto assim, desse jeito.
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Memórias Ocultas
Roman d'amourApós passar por um incidente, Alina perde uma parte de suas memórias. Sem saber em quem confiar, só há uma maneira de descobrir os seus feitos passados: ler o seu diário. No entanto, à medida que avança em sua leitura, Alina começa a acreditar que e...