Capítulo 12

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~ x ~

Após mais um dia terrivelmente frustrante, tudo o que queria era mergulhar na minha cama e não ter hora de levantar — e assim foi feito. Quando cheguei em casa, eu nem consegui dar atenção à Lanita durante o jantar, pois eu estava realmente muito ansiosa para voltar ao meu quarto, a fim de tentar colocar os meus pensamentos no lugar com a ajuda do descanso.

Depois de uma boa ducha quente, e na companhia de um pijama confortável, eu me joguei na cama e abracei o travesseiro. Algo me dizia que não conseguiria dormir naquela noite. As cenas ocorridas na sala de aula transitavam pela minha mente e, com elas, o comportamento do Marcos em relação a mim. Naquele momento, sozinha, agarrada ao travesseiro, pude perceber o quanto as suas atitudes me machucaram: o fato de ter sido completamente ignorada, como se a minha existência ali, na sala, não valesse para ele. Além disso, o seu olhar frio chegava a cortar o coração — na verdade, eu não o conheço tão bem, mas admito que eu nunca esperaria um olhar como aquele vindo do Marcos.

Ok... Eu sei que o Marcos já explicou o porquê de ter sido um idiota comigo. Mas mesmo assim, a sua atitude provocou uma estranha reação em mim — ou melhor, despertou um sentimento que ainda tento entendê-lo. Afinal, se eu fiquei triste por ter me esnobado, isso significa que eu dei uma significativa importância a ele... Então, eu me pergunto: por que eu me importo com isso? Aliás, há outro ponto nesta história que me preocupa ainda mais.

"Já que estamos neste momento de honestidade, eu gostaria de aproveitá-lo para tirar esta dúvida: você sente o mesmo por mim ou eu estou me iludindo durante todo este tempo?". Um arrepio percorreu o meu corpo e o meu coração disparou repetidamente quando ouvi a voz do professor na minha mente. Aquela pergunta, acompanhada pelo seu olhar sério e brilhante, dificultava a minha respiração e os meus pensamentos. Então, ele tem se perguntado se eu gosto dele? Ele estaria inseguro? Pelo visto, ele realmente tem pensado em mim desde o dia em que nos conhecemos, conforme havia me revelado antes.

Como tenho dito, eu poderia estar pulando de felicidade e vomitando aquelas borboletas que brotam do nada no nosso estômago quando estamos apaixonados. Um homem bonito, inteligente e bem sucedido, por quem eu estou atraída, está interessado em mim. Tudo indica que os nossos sentimentos são recíprocos. Então, por que não daríamos certo? A resposta é mais simples do que se imagina.

Em primeiro lugar, ele é o meu professor (apesar de que ele me deu a impressão de não se importar com isso). Nós somos adultos, mas eu temo que um relacionamento entre nós possa nos prejudicar na universidade. Mas, pensando bem, acredito que eu esteja sendo precipitada ao falar em "relacionamento", pois ele não mencionou essa palavra em nenhum momento até agora — e isso me deixa mais insegura, pois sugere o fato de que ele queira apenas uma "diversão" comigo, o que consequentemente validaria aqueles boatos. Afinal, por que ele se declarou para mim? Se ele não quer um relacionamento, quais seriam as suas intenções?

Em segundo, há uma pedra no nosso caminho: a sua ex-noiva que, ainda por cima, é um mistério. O Marcos mudou completamente de assunto, deixando muito nítido que não queria falar sobre ela. No entanto, ele ainda usava o colar com a aliança — e arrisco dizer que as fotos dela estejam ainda na tela do seu computador. Sendo assim, vamos aos fatos: o Marcos se declarou para mim, enquanto usava ainda uma aliança de noivado de uma outra mulher, a qual ele diz não fazer mais parte da sua vida. Eu não consigo enxergar nenhum sentido nisso! Esta história está muito mal contada e eu já começo a sentir medo. Eu não sei se vale a pena desvendá-la, pois eu poderei sair extremamente machucada disso tudo. A ideia de que ele planeja me fazer de otária chega a embrulhar o estômago!

Foram esses questionamentos e receios que me fizeram rolar pela cama, até que eu finalmente consegui adormecer na noite passada. Eu não quero soltar um spoiler agora, mas eu mal sabia que o dia seguinte seria ainda mais inacreditável do que o anterior.

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