Estados Unidos
Leonardo
- Hoje o dia será longo - suspiro e abro a porta do escritório.
Paraliso com a cena a minha frente, e me irrito ainda mais quando percebo exatamente em que ele está mexendo.
- Mas que droga Ryan! - falo alto e firme
Ele me olha assustado, com os olhos azuis idênticos aos da mamãe.
- Sabe o quanto odeio que remexam minhas coisas e mesmo assim você faz!!
- Desculpa mano, sabe que sou curioso... - o loiro irônico sorri na maior cara de pau, após eu pegar ele com alguns dos meus livros nas mãos e vários papéis pessoais espalhados sobre a mesa.
- O que está procurando? Quem sabe eu possa ajuda-lo a bisbilhotar ainda mais os MEUS pertences!
- Já que está se oferecendo tão gentilmente, estou procurando algo que prove que aquela garota foi real, quem sabe ela não consiga te convencer das coisas certas, já que seu próprio irmão não consegue...
- Olha, hoje não estou para suas gracinhas. Então antes que me faça socar a sua cara, guarda tudo e se manda.
Tiro o terno, e essa gravata que está me sufocando, enquanto ele volta a falar, agora com um papel, que eu conheço muito bem, nas mãos.
- Até hoje não entendo porque você guarda esse bilhete...
- Não é da sua conta.
- Tudo bem, não está mais aqui quem falou.
Vou até o armário onde guardo algumas bebidas, inclusive uma bem específica; vinho rosé.
Pego uma garrafa de whisky, deixando as lembranças de lado e me sirvo.
Mesmo depois de ter sido pego em fragrante meu irmão continua sentado na minha poltrona, com os pés na minha mesa e com o mesmo sorrisinho na cara.
- Cadê o meu? - ele pergunta apontando para o copo
- Até te serveria...se merecesse irmãozinho - respondo usando da mesma ironia que ele, mas sem sorrisos. Não costumo mais... deixa pra lá.
Ele finalmente para com os sorrisos e as brincadeiras, senta direito e fica sério assim que entende sobre o que estou falando;
O tal evento que ele me enfiou na lista, sem ao menos perguntar minha opinião.
- Ah Léo para com esse draminha de adolescente que não quer ir a escola! Você sabe que a esse compromisso não pode faltar, dessa vez eu não pude fazer nada a não ser confirmar a sua presença - ele diz sincero, mas sei que está amando essa exibição toda.
Mesmo sendo o irmão mais novo, Ryan insiste em querer me dar sermões e lições de boas maneiras.
- A sua presença lá é de extrema importância, não pode fugir das câmeras para sempre. Está na hora de todos verem quem é o chefe irmão. O papai disse que...
Imediatamente o interrompo
- O papai morreu Ryan!
- Não diz isso Léo...
- BASTA! - explodo
Ele se encolhe um pouco com meu tom de voz do mesmo jeito que fazia quando criança, e eu me sentia o pior dos irmãos. Me apresso em fugir dessa situação.
Respiro fundo e digo com calma
- Sabe o quanto odeio essas coisas, eventos, câmeras, perguntas, exibição...mas tudo bem...
Depois de alguns segundos de cabeça baixa, ele me olha sem entender, e então continuo.
- Esteja pronto as nove, não pretendo chegar atrasado por sua causa.
Ele abre um sorriso e assente com a cabeça.
Agora não tem volta! Me ferrei!
- Vai ficar aí sorrindo como um idiota?
- Já estou indo...te amo irmão
- Eu também te amo, agora some moleque! - digo com um tom de voz mais amigável, e talvez até com um sorriso de canto que se desfez assim que ele saiu e fechou a porta.Não gosto de tratar meu irmão mal, ele é tudo que tenho, a única família que me restou. Minha única companhia já que me afastei de todos meus amigos depois da morte da Ayla Mas essa mania que ele tem de tocar no assunto do nosso pai me tira do sério. Para mim o homem que me lembro de ter sido o meu pai, morreu no instante em que virou as costas para nós, no pior momento de nossas vidas; a morte da mamãe!
Que inclusive, foi culpa dele. Ela não aguentou a decepção de ter descoberto o caso que ele mantinha a anos com a irmã dela, e sofreu um infarto. Ele nos deixou sozinhos e com muitas dívidas. Mas eu consegui cuidar de tudo, trabalhei, e hoje sou dono de dois hospitais.
O Ryan, diferente de mim, conseguiu perdoa-lo; meu irmão tem um coração puro.
Eu ainda não estou pronto para isso. Não depois do que aconteceu com a Ayla, deixei meu orgulho de lado e procurei por ele, pedi ajuda e ele simplesmente me virou as costas de novo. Meu irmão não sabe disso, eu não quis destruir o recomeço deles.
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Paris, onde tudo começou...
Romance2011. Estados Unidos (EUA). A Jovem e escritora Anny Kathleen de 22 anos, embarca numa viagem a Paris em busca do amor paterno e de respostas. Leonardo, um médico recém formado de 24 anos, vai a França por outro motivo: levar as cinzas da noiva, qu...