Capítulo 11 - parte II

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Quando olho para o lado, vejo que há dois fotógrafos na parte de fora do restaurante, com câmeras grandes e com um ótimo zoom. No lugar onde estávamos, eles conseguiam ter uma visão da nossa mesa por uma janela. Assim que a recepcionista do restaurante percebeu a enxurrada de flashs, fechou as cortinas e se desculpou pelo incômodo. Contudo, já havíamos chamado a atenção do resto dos clientes, que perceberam as luzes chamativas. Eles olhavam para nós, alguns com curiosidade, outros com reconhecimento em suas feições. 

Fiquei um pouco tensa, pois não era o tipo de pessoa que gostava de ficar no centro das atenções. Eu sei, você deve estar se indagando como posso não gostar de chamar a atenção e me vestir da maneira como o fiz essa noite. E eu respondo que, a verdade é que eu não pensei em tudo; a única coisa que eu tinha em mente era como eu poderia me vingar pelas palavras do Guilherme. E, além de tudo, acho que chamar a atenção também era um objetivo que o Dani e o Guilherme tinham em mente ao me colocar nessa. Eu tinha que ter certeza de que eu seria notada.   

—  Relaxa, linda, só aja naturalmente —  Guilherme disse, ao notar a tensão no meu corpo e rosto. 

Respirei fundo e contei até dez. Relaxei um pouco com isso, e Guilherme olhou para mim com uma sombra de sorriso nos lábios. Ele se encurvou por cima da mesa e chegou muito perto de mim, fazendo-me esquecer onde estávamos, e fazendo-me ficar tensa por um motivo completamente diferente dessa vez. Ah, aquele homem cheirava bem! Suspirei um pouco com os meus pensamentos e ele disse: 

—  O que eu mais quero é te dar um beijo agora, você parece tão bonita. 

Eu tinha certeza que estava parecendo um pouco atônita, tanto pelas palavras quanto pela proximidade, e até mesmo um pouco insípida, pois já nem lembrava que eu tinha raiva desse homem quando eu tinha uma visão tão privilegiada dos seus olhos e boca perfeitos. Eu apenas esperei, novamente com a boca ligeiramente aberta. Contudo, ele deu um único beijo no meu rosto e se afastou. Não sabia se ria ou chorava pela situação! Foi então que notei que o garçom estava com as comidas na bandeja somente esperando que o meu "encontro" saísse de cima da mesa, e percebi que ele deve ter se afastado por isso. Perspicaz, hein? 

O cheiro da comida estava me dando água na boca e não me arrependi de ter feito aquele pedido. Depois de termos sido servidos, esperei que Guilherme começasse a comer. Tive a brilhante realização de que eu estava faminta. Sorri, pensando em como a qualidade do restaurante é boa. Tudo, além de cheirar admiravelmente bem, não demorou quase nada para ficar pronto.  

—  Bon appetit —  gracejou ele. 

Assim que coloquei a comida na boca, senti a explosão de sabor e gemi um pouco, pelo prazer de comer. Quando olhei para o meu acompanhante, vi que ele me olhava com um olhar faminto (e algo me diz que não tinha nada a ver com a comida).  

—  O que? —  perguntei. —  Tem alguma coisa na minha cara? 

—  Não, você está bem. Mas... Será que você, por favor, pode tentar não dar esses gemidinhos? —  perguntou, parecendo perturbado. 

Abri um sorriso de orelha a orelha ao pensar no efeito que eu tinha sobre ele, mas depois corei com a minha mente suja.  

—  Hã... Er... Tudo bem, desculpe —  eu disse. 

—  Não se desculpe. Só não faça mais, ou vamos ter que ir embora mais cedo e eu não serei muito cavalheiro, se é que me entende. 

Eu estava achando o controle dele um tanto chato, pois estava esperando um beijo desde mais cedo, mas é claro que eu não ia admitir isso. Assim, fingi que não entendia, mas a minha mente rodava com uma ideia em mente. Já que eu ia ter que passar tanto tempo com ele, por que não aproveitar o benefício que eu poderia ter? Ele era um chato na maioria dos momentos, e um arrogante no resto do tempo, mas não dava para negar que era o cara mais gostoso que já havia visto. Eu poderia muito bem ter algum benefício ao me estressar tanto na maioria do tempo. Por que não usá-lo como relaxante natural? Nada mais justo, afinal, era por causa dele que eu me estressava. Eu ia seduzi-lo

Com esse objetivo em mente, comi olhando para ele, tentando fazer as minhas expressões mais sensuais. Queria ter a certeza de que eu chamaria a sua atenção. Fazia questão de dar um gemidinho de vez em quando, tentando provocá-lo. Acho que deu certo, pois assim que acabei de comer, Guilherme pediu a conta. Parecia um pouco bravo, mas ainda estava com a expressão faminta que me dava anteriormente.  

Depois que pagou a conta —  e fez questão de pagar tudo sozinho —  ofereceu o braço para mim, com uma calma fingida, e eu aceitei de muito bom grado. Saiu a passadas largas do restaurante, e eu tive que quase correr para acompanhá-lo, pois as minhas pernas eram muito menores. Fiquei um pouco irritada com a atitude obviamente controladora, mas pensei comigo mesma que eu ia mostrar a ele que não estava no controle da situação coisa nenhuma. 

Logo que estávamos fora do restaurante, esperando pelo carro, Guilherme me puxou pela cintura, colando o meu corpo ao dele. Nós estávamos o mais perto que a física permitia no momento, e eu senti todas as partes de mim despertarem.  

—  Você, senhorita, vai pagar por isso —  disse, com o rosto muito próximo do meu. 

—  O que? Mas eu nem fiz nada... —  dissimulei. 

—  Não fez nada uma ova, porra. Não vem me dizer que você faz todas aquelas expressões sensuais cada vez que come, porque eu sei que não é verdade. E ainda continuou gemendo, sua pequena provocadora. Espero que nenhum outro homem tenha ouvido, porque se tiverem eles estarão tão animados quanto eu. 

E eu percebi que ele estava muito animado. Eu podia sentir a sua masculinidade cutucando a minha barriga, na posição em que estávamos.  Não posso negar que todas as partes de mim se animaram com a realização. No entanto, aparentemente, eu era a pessoa mais transparente da face da Terra, porque ele percebeu e disse: 

—  Não vá ficando tão animadinha, você mal sabe o que lhe espera.

E então ele me beijou. E não foi nada gentil. Pelo contrário, a sua boca movia-se de forma selvagem sobre a minha e tudo o que ainda restava de racional em mim se derreteu. Tenho certeza de que, se ele não estivesse me segurando tão firmemente contra si, eu teria desfalecido, já que os meus joelhos tornaram-se como gelatina numa rapidez impressionante. A sua língua pediu passagem na minha boca e eu cedi alegremente. Não consigo dizer por quanto tempo ficamos nos beijando, mas pareceu muito pouco.

Ele logo se afastou e disse: 

—  Acho que esse não é o melhor ambiente pra isso, vamos embora. 

—  Hã... Vamos —  respondi e me impressionei que consegui processar uma resposta. 

Guilherme abriu a porta do carro no qual Maurício nos esperava e entrou logo depois de mim. Tenho certeza que ele ia dizer alguma coisa, mas foi interrompido pelo celular que tocava. Ele olhou para a tela, profanou e atendeu. 

—  Guilherme Saurin. 

Ele ouviu alguma coisa que a pessoa do outro lado falava, e soltou meia dúzia de palavrões. Depois de desligar, disse ao Maurício: 

—  Para a casa da senhorita Ramos, Maurício, por favor. 

—  Sim, senhor —  o motorista respondeu prontamente e deu partida no carro. 

Fiquei um pouco ressentida, pois estava cheia de expectativas para a noite, e perguntei: 

—  O que aconteceu? 

—  Emergência no escritório —  respondeu ele.  

Guilherme usava novamente a sua expressão mais fria, e eu sabia que algo sério deveria ter acontecido. Apesar de decepcionada pelo fim da noite, não tive coragem de protestar. Quando chegamos à minha casa, ele abriu a porta do carro para mim e, ao se despedir, disse: 

—  Isso não acaba aqui, pode ter certeza, Duda —  e me lascou um beijo de tirar o fôlego. 

—  Fico feliz de saber disso —  respondi, depois que ele me soltou. 

Entrei em casa com uma frustração gigante e me perguntado como raios as coisas haviam chegado naquele nível e o ódio mortal havia se transformado numa atração inevitável.

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora