Prólogo

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Prólogo

9 anos atrás...

Guilherme Saurin

Guilherme estava com os dias contados naquele orfanato. Ele não se lembra ao certo como chegou ali. Pelo que lhe contaram, ele chegou no "Lar Sol da Guia" aos cinco ou seis anos de idade. Seus pais morreram ambos num acidente de carro, mas ele não se lembra de nada. Os psicólogos chamaram esse "apagão" da mente dele de estresse pós-traumático. Disso ele não sabia. A única certeza que tinha era que, daqui a pouco mais de um mês, completaria 18 anos e seria jogado para fora, como todos os outros.

Claro que ele, certamente, não estava reclamando disso. Guilherme nunca havia sido querido por ali. As outras crianças não gostavam dele e, quando ele não estava sofrendo nas mãos delas, estava sozinho. Ele fora uma criança solitária e carente. As irmãs do "Lar" (que não tinha nada de acolhedor) tampouco faziam esforço para que ele fosse bem querido. Com tantas crianças para cuidar, elas tinham outras prioridades.

Por causa das vezes que apanhava das crianças mais velhas, Guilherme aprendeu muito cedo a se defender. Lutava muito bem atualmente. De tanto treinar nas academias comunitárias, criou um corpo digno de atleta e tinha força e habilidade sem iguais. Não porque ele quisesse, mas, para sobreviver, foi necessário.

Quando saísse dali, o adolescente sabia que não teria lugar para ir; não tinha ninguém o esperando e estaria nas ruas por pelo menos um tempo, até arrumar um emprego, ganhar o seu primeiro salário e conseguir alugar qualquer antro pelo qual pudesse pagar. Mas isso não o desanimava. Só a perspectiva de sair daquele lugar já era incentivo suficiente.

Uma tarde, contudo, pouco tempo antes de ele se ver livre da "prisão", irmã Celeste lhe avisou que ele tinha uma visita. O garoto estranhou, lógico, nunca antes teve ninguém visitando-o a não ser quando era menor e algumas famílias visitaram-no para tentar a adoção. Nunca quiseram-no, porque era uma criança magra, esmirrada e esquisita. Até que ele cresceu, se tornou forte e bonito — mas aí já era tarde demais. Ninguém adota adolescentes; eles têm medo da má índole e mau caráter que eles podem ter. Um preconceito que todos os que passam pelo orfanato sofrem.

A tal visita se tratava de dois homens vestidos de preto, fortes, executivos e muito bem arrumados. Com cara de gente fina. A princípio, Guilherme não entendeu o que aqueles senhores gostariam de falar com ele, mas logo uma proposta lhe foi feita.

Um lugar para morar. Uma casa bonita, com jardim e tudo. Um carro, se ele quisesse. Um salário com mais zeros do que ele já tinha visto na vida. Um treinamento especial, que duraria mais de um ano de dedicação. 24 horas por dia, 7 dias por semana. Um emprego. Um emprego muito tentador que mudaria a sua vida.

E ele não tinha como dizer não.

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora