Capítulo 12

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Eduarda Ramos

Não importando a temperatura do banho que tomasse (que acabou por ser morno, porque frio já era demais), ainda assim dormi quente e incomodada naquela noite, mas não só por causa do beijo-de-deixar-pernas-bambas que recebi.. Primeiro, eu não podia acreditar no quão facilmente eu havia cedido à minha atração pelo senhor taciturno. Cheguei ao ponto de tentar seduzi-lo, pelo amor de Deus! O que, não posso negar, tinha dado bons resultados. E, segundo, era realmente muito estranho que houvesse uma emergência em seu escritório àquela hora da noite. Fiquei desconfiada. 

Eu sabia que Guilherme, sendo um empresário com empresas por todo o mundo, devia ter problemas grandes e pequenos sem hora para acontecer, com tantos fusos-horários diferentes existentes. Mas, alguma coisa me dizia (meu sexto sentido poderia até levar o crédito, mas acho que isso é culpa da expressão feita por Guilherme ao atender o telefonema misterioso) que aquilo nada tinha a ver com um problema de negócios. Saurin ficava um pouco assustador com aquela expressão tão fria e eu entendi como ele tinha se saído tão bem nos negócios. Não devia existir alguém que ousasse negar o que ele falasse quando usava a máscara de frieza. 

Na manhã seguinte ao encontro, acordei com a campainha tocando. Levantei vestida apenas com a camiseta roubada de Daniel e olhei pelo olho mágico. Era Guilherme, e ele estava segurando coisas nas duas mãos. Logo que me dei conta do que aquilo significava, meu cérebro lento teve um estalo e percebi que não podia abrir a porta vestida do jeito que estava e, ainda por cima, com os cabelos embolados na cabeça, mal hálito de quem acaba de acordar e com a maquiagem de ontem (que tive preguiça de tirar) borrada no rosto. Merda

—  Quem é? —  perguntei bobamente. 

—  Duda? É o Guilherme, será que dá pra abrir a porta? Tô com a mão cheia de coisas. 

—  Hã... Calma aí! 

Corri para o quarto, peguei a primeira roupa que vi pela frente, que acabou por ser uma calça de ginástica e uma camiseta antiga, e fui para o banheiro. Me assustei com o que vi no espelho, mas eu precisava ser rápida, então, passei apenas uma água no rosto, tirando o rímel borrado debaixo dos olhos, bochechei enxaguante bucal e coloquei a roupa. Voltei rapidamente para a sala e abri a porta para ele. 

—  Que horas são para você aparecer aqui? —  perguntei, de mal humor. 

—  Onze horas. Você está com cara de quem acabou de acordar, então, bom dia —  disse alegremente enquanto entrava na minha casa como se fosse a sua própria. 

Guilherme entrou e sentou-se no sofá, que parecia pequeno demais para a sua estatura e porte.  

—  E você está fazendo o que aqui mesmo? —  perguntei. 

—  Você já viu o jornal? —  perguntou-me. 

—  Você reparou que acabei de acordar? 

—  Você sempre acorda de mal humor?  

—  Não importa, intrometido. Vou fazer café, quer um pouco?  

—  Não, obrigado, vou te esperar aqui mesmo — respondeu-me. 

Fui para a cozinha e preparei o café vagarosamente. Eu não era uma das maiores fãs da cafeína, mas, para fazer o meu corpo e mente raciocinarem com a velocidade que me era exigida, eles precisavam de algum incentivo. Guilherme surgiu aqui, no dia seguinte à nossa primeira aparição pública, e com o humor aparentemente restaurado e bom. O que ele pretendia? Espera... Ele disse jornal? Deve ser alguma matéria sobre a saída de ontem a noite!

Voltei para a sala com a caneca em mãos, esperando ver do que diabos ele estava falando. Com a mente mais ligada, pude perceber coisas nas quais não tinha me ligado antes. A primeira delas foi que Saurin parecia muito à vontade vestido com uma bermuda jeans e uma camiseta azul. A segunda foi que em cima da minha mesa tinha um ramalhete de flores silvestres, ao lado de um jornal que tinha uma foto minha e de Guilherme na capa. 

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora