Capítulo bônus 2

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POV Daniel Wolter

— Vera, por favor, você anota os recados para mim? Estou indo para casa mais cedo hoje — disse para a minha secretária meio-mãe ao sair da minha sala. 

— Claro que anoto, senhor Daniel. Tenha uma boa noite — respondeu-me prontamente. 

Vera era uma das funcionárias mais antigas que eu tinha; ela trabalhava como secretária do meu pai antes dele se aposentar, e eu a conheço desde moleque. Era praticamente da família, mas nunca deixava de acrescentar o "senhor" à frente do meu nome sempre que falava comigo ou se referia a mim. Nunca adiantou falar para ela que o senhor está no céu; ela não era dada a abusos e intimidades. Às vezes se dava o direito de me oferecer alguns conselhos, o que sempre gostei e admirei nela. Vera era uma mulher de ouro. 

— Você também, Vera, boa noite, e manda um abraço para o seu marido — disse a ela. 

— Mando sim, senhor Daniel. E você manda outro para os seus pais. 

— Pode deixar. Até mais! 

Fui para casa exausto naquele dia. Era legal ser o presidente de uma empresa como a Wolter Segurity, mas, muitas vezes, se tornava cansativo demais. Quando assumi o cargo, fiz um propósito comigo mesmo de que jamais levaria trabalho para casa, afinal, eu precisava separar a vida pessoal da profissional. Se eu não o fizesse, eu sabia que o trabalho (que era muito) ia acabar consumindo cada pedaço da minha vida sem que eu nem percebesse. 

Agradeci aos céus porque era sexta-feira e eu teria finalmente o meu descanso semanal. Não ia trabalhar aos sábados, porque já ficava na empresa até tarde todos os dias. Às vezes a Duda até brincava comigo que seria melhor se eu dormisse por lá mesmo, assim facilitava a minha vida. Tenho vergonha de admitir que algumas vezes até considerei a opção seriamente. Mas depois reconsiderei; afinal, o trabalho não ia fugir correndo de mim, muito pelo contrário: estaria me esperando lá pelo tempo que fosse. 

Cheguei em casa, tirei o meu terno, tomei um banho, me vesti e preparei um sanduíche natural bem gostoso. Isso era o que eu sempre comia no jantar, pois precisava preservar o meu corpo. A uma hora de academia que eu fazia todos os dias, às cinco da manhã, não era o suficiente para manter a forma. Eu estava cansado, mas, mais do que isso, estressado. Eu tinha tantas coisas para fazer e tantas coisas para me preocupar... A pressão era muito grande, assim como as responsabilidades. É claro que, quando assumi a empresa do meu pai, sabia o que me esperava, mas as consequências às vezes faziam eu me perguntar se tomara a decisão certa. 

Percebendo como estava tenso, resolvi ligar para uma das minhas "amigas", que estavam sempre a apenas um telefonema de distância. Nada melhor para desestressar do que sexo, vamos combinar. E as mulheres estavam sempre prontas quando eu precisava delas; havia montes e montes que só esperavam por uma ligação. Confesso, eu era meio galinha, mas eu podia, afinal, era bonito, rico e solteiro, modéstia a parte. Eu adotei esse estilo de vida depois que percebi que as mulheres não prestavam (claro, não incluo a minha mãe e a minha melhor amiga nesse grupo). Como cheguei a essa conclusão? Bem, quando você é humilhado e pisado pela única mulher que já amou na vida, você repensa todos os seus conceitos. 

Flávia era uma menina da universidade, da minha turma. Eu me apaixonei por ela à primeira vista, com aquele corpo escultural e os cachinhos pretos perfeitos. Tentei tornar-me amigo dela, e deu certo por um curto tempo. Só que a amizade só serviu para fazer-me gostar mais ainda dela, e, quando percebi, eu já a amava muito. Só que não era recíproco. Eu sempre brincava, insinuando que eu queria sair com ela, namorar com ela... Mas a menina sempre se esquivava. Quando finalmente me declarei, em público, ela humilhou-me dizendo que eu jamais seria o suficiente para ela. Em suas palavras eu era "uma pessoa sem futuro", e que ela jamais poderia namorar com um fracassado. Ela não sabia que o meu pai era o dono da Wolter Segurity na época e, depois disso, fiquei feliz por nunca ter contado. Nunca entendi como a Flávia pôde dizer aquilo para mim, pois ela não era aquele tipo de menina. Nem um pouco. Claro, aquela humilhação, quem não viu, nunca ficou sabendo. Nem mesmo Duda. Minha amiga só sabe que levei um fora. 

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora