Vida dupla: uma identidade secreta

Capítulo 1

Eduarda Ramos

Olhos castanhos sexy olhavam para mim. Fui descendo meu olhar dos olhos ao nariz perfeito, seguido da boca carnuda, que se abriu em um sorriso reto e branco. Desci meu olhar mais um pouco e reparei que ele estava sem camisa. Ah, que tanquinho! Estiquei meu braço e, quando estava prestes a tocar aquela barriga maravilhosa, ouço uma música.  

Acordo assustada com "Moves Like Jagger", música do Maroon 5, tocando. Droga de despertador!, penso. Bem no melhor momento do meu sonho, quando eu estava prestes a me aproveitar do ser-humano tentador que estava bem à minha frente, ele resolve que é a hora de acordar. 

Levanto, relutantemente, e ando meio trôpega até o banheiro. Tiro minha camisola e entro no chuveiro. Só assim para eu acordar. Hoje é meu primeiro dia no novo emprego na empresa do meu amigo. Depois de meses sem conseguir arrumar emprego nenhum, resolvi me render e aceitar o emprego que ele vinha me oferecendo há tanto tempo.  

Veja bem, eu não gosto de pensar que estou em um emprego só porque sou amiga do dono da empresa. Tudo bem, Daniel vive me dizendo que ele só me ofereceu o emprego porque sabe o quão capacitada eu sou. Ele diz que ele é quem ficou feliz por eu não ter encontrado nenhum outro trabalho decente, porque assim eu poderia trabalhar para a companhia do seu pai. 

Dani e eu nos conhecemos na faculdade. Ele cursava engenharia mecatrônica e eu administração de empresas. Nos esbarramos logo no meu primeiro dia e ele já era um veterano. Como ele gosta de dizer: "eu estava parecendo uma coelhinha assustada que tinha acabado de sair do ensino médio e achava que as pessoas da universidade iam me engolir". E o pior é que essa é a mais pura verdade. Naquele dia, eu estava morrendo de medo, pois estava em uma cidade completamente nova, sem amigos e nem família. 

Sempre fui uma menina estudiosa. Passei para administração pelo ENEM assim que terminei meu terceiro ano. Eu morava numa cidade do interior de Minas Gerais chamada Barbacena, onde fui criada por um pai e uma mãe que não tinham muito dinheiro mas que deram duro para juntar tudo o que tinham para que um dia eu pudesse fazer uma universidade em outra cidade do Brasil. E foi assim que fui parar em Belo Horizonte, na UFMG. 

Quando Daniel esbarrou em mim e todos os meus livros voaram ao chão, ele soltou a piadinha "ora, ora, o semestre mal começou e os seus livros já estão querendo cometer suicídio?". À primeira vista, eu já sabia que teríamos uma amizade. E assim aconteceu. Daquele dia em diante, viramos amigos inseparáveis, quase como irmãos. Daniel era o irmão mais velho que eu nunca tive.  

Ele se formou em engenharia, mas era dono de uma empresa de segurança. Assim que o pai se aposentou, ele tomou a cadeira da presidência, de onde toma todas as "decisões" importantes para a empresa. Não entendo direito como funciona a companhia. Sei que possui automações de alarmes, câmeras e tecnologias relacionadas a segurança em geral, mas também possui homens que servem de guardas e seguranças, que, pelo que Daniel conta, são muito bem treinados. 

Me vesti com uma roupa típica de executiva: saia estilo secretária e blusa soltinha posta para dentro. Tomei só um iogurte, porque não sinto muita fome pela manhã, e saí apressada rumo à Wolter Segurity. Entrei no meu Corsel 2 (sim, esse tipo de lataria ainda existe) que eu carinhosamente apelidei de Corvette — porque o carro é meu e dou o nome que eu quiser para ele. Para a minha sorte, Corvette resolveu colaborar comigo hoje e pegou de primeira.  

Depois de pegar um trânsito insuportável, finalmente consegui chegar ao estacionamento do prédio onde iria trabalhar. Como cheguei cedo, pude estacionar logo perto da entrada. E não, eu não tenho vergonha de parar minha lataria para todo mundo ver; sou pobre, mas sou pobre com orgulho! Desci do carro e bati a porta com toda a força — já que caso contrário ela não fecharia. Entrei no prédio de vidros espelhados e fui direto à recepção, onde uma moça jovem e muito bem maquiada atendia as pessoas.