Capítulo 15

444 28 2
                                    

Fui  para o meu quarto e abri o meu armário, pensando em que roupa eu colocaria para sair. Guilherme não me disse aonde iríamos e eu, como adoro uma surpresa, resolvi que não iria perguntar a ele. Olhei para todas as minhas roupas, pensando no tanto que eu gostaria de sair com a roupa mais brega e confortável que eu tivesse, mas sabia que isso não seria possível, ainda mais agora. Se era para ser fotografada, pelo menos eu ia dar algo digno de ser fotografado.  

Olhei para todas as roupas penduradas e me decidi por um vestido branco, soltinho e florido, feito de renda. Era descontraído e era bonito, combinava com o dia ensolarado que fazia. Para complementar, calcei uma sapatilha vermelha. Depois de me vestir, passei somente um básico de maquiagem (até porque eu não sabia fazer melhor do que isso). Um rímel, um batom vermelho e voilá, eu estava pronta. Quando já estava saindo do quarto, no entanto, me lembrei do mais importante: o perfume! Passei um dos melhores perfumes que eu tinha, doce como eu gostava, e fui para a sala. 

Quando cheguei, Guilherme estava em pé olhando para as fotos que haviam em cima da pequena mesa de centro da sala. Eu tinha vários porta-retratos lá, alguns com fotos minhas e de Daniel e outros com fotos minhas e do meus pais. Eram as únicas pessoas dignas de uma foto no meu pequeno antro, já que eu não tinha espaço para colocar fotos de qualquer um ali. Assim que cheguei perto dele, Guilherme se virou para mim. Ao olhar-me, abriu um sorriso gigante e disse: 

— Sua transformação foi rápida, você está escondendo alguma fada madrinha lá dentro? 

Eu ri da sua referência aos filmes de princesa da Disney, e não pude deixar de pensar que ele não podia estar mais longe da verdade. De princesa eu não tinha nadinha! Mas a parte da fada madrinha, se eu considerasse a transformação da empresa que eu recebi, até que tinha um fundo de verdade. Ele não me reconheceria se eu voltasse a ser hoje do jeito que eu era há pouco tempo atrás. 

— O que você está insinuando com isso? — perguntei, por fim, fingindo estar brava. — Que eu não estava bonita antes? 

— Ah, fala sério!, você, Eduarda Ramos, está querendo pescar um elogio de mim? — brincou. — Acho que você sabe bem o que eu penso sobre você desarrumada... Pelo menos parecia saber quando você estava debaixo de mim no sofá.

— Que o quê, tá ficando doido? — respondi. 

— Ah!, não, estou com todas as minhas faculdades mentais — disse ele, virando-se em seguida para as fotos expostas à sua frente. — São os seus pais? 

— São — respondi a ele. 

— Sua mãe parece muito com você. Mas nenhum deles é ruivo, de onde você puxou a cor? 

— Ah, essa aí veio da minha falecida avó — eu disse. — Dizem que o ruivo pula gerações, não é? Parece que fui agraciada com isso. 

— Dizem? Não sabia. Aliás, nunca antes havia conhecido uma ruiva natural que tivesse os cabelos da cor dos seus. São da cor de cobre. 

— É verdade, são meio incomuns mesmo.  

— Eu gosto — disse-me ele, fazendo cara de lobo mau. E, por cara de lobo mau, quero dizer que tinha uma expressão de quem quer comer você. Quando pensei nisso, corei. Eis o lado inconveniente de ser ruiva. 

Com aquela expressão em seu rosto, eu me sentia um pouco vulnerável, de uma maneira que eu odiava. Assim, para mostrar quem estava no comando, puxei-o pela camisa e dei-lhe um beijo de tirar o fôlego. Quando as suas mãos vinham para a minha cintura, no entanto, me afastei. 

— É melhor nós irmos — eu disse. 

Guilherme olhou-me com uma cara de quem não estava gostando nem um pouco da minha proposta. Suas sobrancelhas estavam enrugadas, como quem tenta resolver um problema dificílimo de matemática. 

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora