Capítulo 11 - parte I

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Eduarda Ramos

Às seis horas o meu expediente acabou e eu estava finalmente livre para ir para casa. Eu não tinha muito trabalho na empresa depois que aceitei a proposta o meu amigo para aquela missão com Guilherme Saurin. Sendo assim, gastei o que restou da minha manhã e a minha tarde fazendo coisas para mim mesma. Até pedi para Daniel que ele me desse contratos para analisar, ou, não sei, qualquer coisa. Eu fiquei entediada, porque sou um pouco hiperativa; ficar parada por muito tempo me agonia. Contudo, meu amigo me explicou que já tinha incumbido outra pessoa para fazer o serviço que comecei fazendo na empresa. Eles nunca precisaram de mim naquela área, no fim das contas. 

Sendo assim, claro que aproveitei para olhar uns blogs de livro, aflorando o meu lado nerd. Comprei uns romances na amazon e baixei para o meu Kindle. Li o primeiro livro da série "Segredos", da Nana Pauvolih, e amei. Consegui acabar com as muitas páginas bem rapidamente. Lendo, a minha tarde passou relativamente rápido, já que entrei na história e me distraí.  

Antes de ir embora da minha sala, Guilherme me ofereceu uma carona de volta para casa, dizendo que poderia passar para me pegar, já que estaria perto da empresa, mas recusei, alegando que já tinha pedido para Daniel. Claro que isso não era verdade, entretanto, ele não precisava saber disso. E o que eu menos precisava era passar tempo desnecessário sozinha com o homem que mais mexia com os meus hormônios e sentimentos. E, claro, eu sabia que o meu melhor amigo jamais me recusaria uma carona. 

Assim, antes do horário de ir embora eu pedi carona para o Dani, que, como eu já previa, me zoou até não poder mais sobre a minha "lata velha" e depois acrescentou que eu precisava comprar um carro decente urgentemente. Lógico que eu fiz o favor de lembrá-lo da minha atual situação; apesar do meu salário ter melhorado 1.000%, eu precisaria enviar muito mais dinheiro para os meus pais, para ajudá-los na situação difícil em que se encontravam. 

Falando nos meus progenitores, eles estavam numa situação um pouco melhor. Depois da água da enchente já ter baixado, algumas pessoas conseguiram voltar para as suas casas, ainda que com tudo destruído. Meus pais eram duas dessas pessoas, e agora estavam lutando para reconstruir o que havia ido para o brejo. O dinheiro que eu estava mandando, eles tiveram que admitir, estava ajudando demais. Conseguiram comprar geladeira, cama e fogão novos, já que os antigos estragaram com a água. O meu pai conseguiu arrumar um emprego novo como ajudante de obra e, no tempo livre, fazia as coisas em casa e ajudava seus vizinhos —  meus velhos sempre prestativos.  

Quando cheguei em casa, descobri que as coisas pareciam finalmente estarem ficando melhores. O meu chuveiro, por uma glória dos céus, voltou a funcionar normalmente, com água quente e tudo. Aproveitei para fazer todo o meu ritual com muita calma, me depilando, passando mil cremes e ficando de molho debaixo d'água para relaxar.  

Depois que saí do banho, comecei a pensar em qual seria a melhor alternativa para irritar mais Guilherme: colocar o meu moletom mais velho ou colocar a roupa mais provocante que eu tinha. Acabei chegando à conclusão de que a roupa mais provocante ia irritá-lo mais e não me faria passar nenhum vexame, caso a saída fosse aparecer na mídia. Assim, optei por ela. Escolhi um vestido longo —  que era cortesia da empresa do meu amigo — grudado na parte de cima e esvoaçante na saia. À primeira vista, era comportado. Já não podia dizer o mesmo da parte de trás, pois era totalmente nu nas costas. Além do decote, uma fenda que se abria até metade das minhas coxas. Para completar, coloquei um salto alto provocante. Eu me vesti para matar. Como tinha os cabelos compridos, resolvi prendê-los numa trança largada, assim não esconderia o decote escandaloso.  

Não apliquei muita maquiagem, simplesmente porque eu não sabia como fazê-lo e não parecer uma palhaça. Ao terminar a minha produção e me olhar no espelho, percebi que eu estava maravilhosa —  deixando a modéstia de lado. Fiquei pronta pouquíssimo tempo antes do horário e, quando apenas esperava pelo Saurin, me dei conta de que eu não havia lhe dado o meu telefone e, muito menos, o meu endereço, e fiquei me perguntando como ele saberia me pegar em casa.  

Vida dupla: uma identidade secretaOnde histórias criam vida. Descubra agora