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A festa não demorou muito para acabar, mas, para Sarah, parecia ter durado uma eternidade. Ela estava ansiosa para conversar com Juliette e colocar tudo em pratos limpos. Mas será que a morena ia concordar com seu plano maluco?

Outra coisa a deixava preocupada: o beijo tinha sido bom. Bom, não, incrível. Melhor do que qualquer outro que ela havia provado na vida. Quando Sarah escolheu Juliette para formar um casal fake, jamais poderia imaginar que teria essa química toda com a amiga engraçada e destrambelhada... Agora ela tinha um problema nas mãos.

Aconteça o que acontecer, eu não vou me apaixonar.

Sarah lembrou do seu juramento no dia que entrou na casa e seus pensamentos ficaram mais claros. Não existia paixão ali, apenas desejo — talvez por causa do tempo de confinamento e da carência que vem com isso. Era estranho sentir atração por uma mulher, afinal ela já havia beijado uma amiga e não tinha sentido nada, mas Sarah era uma pessoa de mente aberta e sabia que a sexualidade era fluida.

Finalmente, os participantes começaram a deixar a pista de dança e ela se recolheu junto com o grupo para o quarto. Para sua surpresa, Juliette já se encontrava em sua cama a esperando.

— Que que tu tá fazendo nessa cama, mulher — disse Gil, meio bêbado de álcool e de sono.

— A Sarah me convidou pra dormir com ela hoje.

Gil levantou uma sobrancelha, surpreso, e soltou um gritinho. Sarah riu, um pouco constrangida, do jeito direto de sua amiga. Com Juliette, não havia meias palavras.

— Vou deixar as bonitas à vontade então. Depois me contem tudo!

Gil saiu com um sorrisinho satisfeito. A loira se enfiou embaixo do edredom e puxou por cima da cabeça de Juliette, fazendo uma espécie de cabana para as duas.

— Que diabo é isso? — disse Juliette, surpresa, porém sem fazer nenhum movimento para impedir as ações de Sarah.

Sarah levou o dedo indicador à própria boca, pedindo silêncio. Juliette rapidamente emudeceu. Essa seria a parte mais complexa do plano: explicar tudo para Juliette sem que a produção do programa ou os espectadores ouvissem a conversa.

Sorrateiramente, Sarah tirou o microfone do pescoço e começou a fazer barulhos de beijo com a boca. Em seguida, ela deu umas batidas no edredom, indicando que alguma coisa quente estava rolando ali embaixo.

Juliette começou a rir, mas Sarah colocou a mão livre sobre a boca dela. Em seguida, colocou o microfone embaixo do travesseiro, abafando o som da sua própria voz. Ela indicou para Juliette fazer o mesmo enquanto simulava os movimentos sexuais embaixo do edredom.

Quando finalmente estavam livres da escuta, Sarah sussurrou seu plano:

— Eu te beijei pra gente fingir que tá junta. Casal sempre chega longe no BBB, a gente precisa se ajudar.

Juliette pareceu desapontada, e até mesmo ofendida com aquela frase.

— Mulher, tu me usou?

— Eu escolhi você porque é a única pessoa que eu confio aqui dentro além do Gil, que ninguém ia acreditar se começasse a namorar comigo. Juliette, eu não aguento mais ser alvo das pessoas nessa casa. Juntas, a gente vai chegar mais longe. Vem comigo, por favor?

— Isso é errado, Sarah. Meu irmão é gay, a gente não pode brincar com essas coisas.

— Não é brincar. A gente não tem nada contra os gays, pra falar a verdade eu nem sei mais o que eu sou — Sarah falou rapidamente, daquele jeito que fica difícil entender suas palavras. Mas Juliette não tirou os olhos de sua boca durante essa declaração. — Todo mundo vai shippar lá fora, eu tenho certeza. E aqui dentro vão pensar duas vezes antes de mexer com a gente, igual tá sendo Carlinha e Arthur.

— Sarah e Juliette, microfone — disse a voz do além que orientava os participantes quando faziam coisas erradas.

Sarah colocou a mão no rosto da amiga e olhou profundamente em seus olhos.

— Se a gente chegar na final, seja lá quem ganhar, a gente divide o prêmio.

— E se eles descobrirem?

— Sarah e Juliette, segundo alerta: coloquem o microfone — repetiu a produção.

— Vai ser tão perfeito que a gente vai enganar até o próprio Boninho.

Juliette ficou muda, sem saber o que responder.

— Por favor — suplicou Sarah. — Por mim.

Juliette hesitou, mas alguma coisa nos olhos verdes de sua amiga fizeram com que seu coração falasse antes que seu cérebro:

— Tá bem.

Sarah rapidamente colocou o microfone e tirou o edredom de cima da cabeça delas.

— Pronto, pronto! É que a gente tava ocupada.

Ela deu uma risadinha para uma das câmeras, do jeito que só mesmo Sarah sabia fazer. Juliette ainda estava meio abalada com a conversa e preferiu ficar quieta enquanto recolocava o microfone ao redor do pescoço.

— Boa noite, linda — disse Sarah antes de dar um selinho em sua mais nova namorada.

Ela colocou os braços ao redor da cintura de Juliette e fechou os olhos para dormir.

Enganando BoninhoOnde histórias criam vida. Descubra agora