Juliette soltou um longo suspiro e olhou pela milésima vez seu reflexo no espelho do teto do Quarto do Amor. Ela já tinha até memorizado a decoração que remetia a um motel: além do espelho no teto, as paredes sem janelas eram vermelhas e havia uma porção de pétalas de rosa em cima da cama esperando por elas. No canto, um frigobar e algumas cortesias oferecidas pelo patrocinador da prova, como chocolates e uma garrafa de champanhe que permanecia intocada.
A paraibana estava cada vez mais inquieta com aquela situação. Mais uma vez, seus olhos pousaram em Sarah, que estava deitada na cama king size de costas para ela.
– Tu não vai falar comigo mesmo? – perguntou Juliette, quebrando o silêncio sepulcral dentro do quarto.
Elas estavam ali há quase uma hora. Depois da despedida dos membros da casa e das brincadeiras que todos fizeram sobre aquele conveniente isolamento, elas entraram no quarto com as mãos dadas e sorrisos estampados nos rostos. Porém, assim que estavam fora do alcance das câmeras, Sarah soltou a mão de Juliette e não trocou mais uma palavra com ela depois de anunciar que ia tomar um banho.
Agora ela estava deitada, mas Juliette sabia que não dormia. O clima estava pesado. Alguma coisa tinha mudado desde a Prova de Amor e ela não conseguia entender exatamente o que era. As duas haviam tido uma semana tranquila de namoro falso, cheia de descobertas, risadas e leveza. Juliette sentia a verdade em cada palavra, cada jesto que saia de Sarah... Mas agora ela começava a achar que havia se enganado.
– Eu tô cansada só – respondeu Sarah com a voz grave.
Juliette sentiu uma onda de raiva dominar seu corpo.
– Sarah – disse ela, séria. – Todas as vezes que tu quis, eu conversei contigo. Agora que eu quero falar você vira as costas pra mim?
Alguns segundos se passaram até que Sarah finalmente virou de frente para Juliette. Seus olhos sempre muito verdes estavam avermelhados e um pouco inchados, como se ela tivesse chorado recentemente. Juliette se aproximou, preocupada.
– O que aconteceu? Tu tá bem?
– Tá tudo bem – garantiu Sarah, sentando na cama. – Foi só muita coisa. Essa semana toda, o namoro fake, a vitória, a imunidade... Agora que acabou eu baixei a guarda e senti o peso de tudo.
Juliette assentiu. Sarah continuou seu desabafo.
– É horrível ficar fingindo o tempo todo.
Juliette se sentiu magoada e até ofendida pelo comentário. Ela desviou o olhar para tentar esconder sua decepção.
– Não achei que fosse um sacrifício tão grande fingir gostar de mim – disse a morena em voz baixa.
– Não é nada disso... – Sarah se apressou para responder, mas hesitou em continuar suas palavras. – Quer saber, esse assunto não vai levar a nada. O que a gente precisa mesmo é descansar.
– Eu não quero mais fugir, Sarah. Finalmente a gente tá aqui sozinha sem câmera, sem produção, sem fingimento pro Brasil inteiro. Eu quero saber o que tá acontecendo de verdade.
– Não tá acontecendo nada – rebateu Sarah na defensiva.
– Tu acha que eu sou uma imbecil, né?
Juliette foi sentindo o calor subir ao rosto conforme sua raiva ganhava força. Ela levantou da cama e continuou encarando Sarah.
– Tu não precisa fingir que tá apaixonada por mim aqui dentro, mas respeito é bom e eu gosto. Tu simplesmente virou a cara quando a gente chegou nesse quarto. Eu achei que pelo menos amiga a gente fosse.

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Enganando Boninho
FanfictionDecida a ganhar o jogo a qualquer custo, Sarah faz uma proposta ousada para Juliette: que as duas formem um casal fake capaz de enganar até mesmo o Boninho.