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O dia seguinte à eliminação de Karol correu tranquilo apesar dos ânimos acirrados por conta da prova do líder que aconteceria naquela noite. Sarah não podia acreditar que não dormiria mais na confortável cama king size, rodeada apenas por pessoas que gostava de verdade. Eram tantas memórias do que tinha vivido naquele cômodo...

Antes que sua mente pudesse ir para lugares proibidos, ela deixou o quarto e caminhou pelo jardim em busca de seus amigos. Juliette e Gil estavam sentados nos sofás da ala externa, próximos à entrada da casa, conversando animadamente com Viih, Thais, João, Caio e Rodolffo.

Sarah tentou não demonstrar emoções quando viu Juliette com o braço ao redor de Viih no sofá. Ela sabia que Juliette era uma pessoa muito tátil e que vivia encostada em suas amigas; além disso, todos eles enxergavam Viih quase como uma irmã mais nova ali dentro. Entretanto, já fazia três dias que Sarah não tocava em Juliette e seu corpo começava a gritar de abstinência.

Sem pensar duas vezes, ela sentou ao lado de Juliette e colocou a mão em sua coxa. Imediatamente, foi como se um choque elétrico corresse entre as duas. Juliette quase pulou de susto com a intensidade do contato, mas rapidamente se recompôs e removeu o braço que estava ao redor de Viih.

— Meu casal! — disse Gil, fazendo coraçãozinho com as mãos.

— O que tá rolando? — disse Sarah, procurando mudar de assunto. Sua palma queimava em contato com a perna de Juliette, que parecia estar segurando a respiração ao seu lado.

— Eu Nunca — disse João. — Acabou de começar.

— Sem bebida?

Sarah estranhou e alguns deram risada. Juliette aproveitou para colocar sua mão sobre a de Sarah. Por um instante, a loira achou que sua mão seria removida, porém Juliette entrelaçou os dedos com os de Sarah e manteve a mão sobre sua coxa.

Sarah virou-se para Juliette e encontrou um olhar carregado de desejo. Seus olhos desceram rapidamente para a boca da morena...

— A regra é simples: cada pessoa fala uma coisa, aí quem já fez levanta a mão — explicou João.

— Eu começo, bora — disse Gil. — Eu nunca beijei uma pessoa do mesmo sexo.

Várias risadinhas percorreram o grupo, menos da parte de Rodolffo e Caio, que claramente tinham problemas com esse assunto. De resto, quase todo mundo levantou a mão para indicar que já havia feito. Não parecia ser nada de mais para as mulheres ou para os homens abertamente gays da casa.

— Gente, essa casa é o próprio vale — comentou Gil, divertido.

— Vamos com calma, que nem todo mundo que beija gosta, né — disse Sarah em meio a risadas.

— A senhora no caso gostou foi muito — retrucou o amigo, resultando em risadas e palmas de todos os presentes.

Sarah sentiu o rosto corar. Seu jogo estava dando certo — todo mundo acreditava que ela e Juliette estavam envolvidas. Isso quer dizer que lá fora todo mundo também achava a mesma coisa. Se ao menos fosse tudo mentira...

— Agora uma pra agitar o jogo — disse Rodolffo. — Eu nunca fiz sexo dentro da casa do Big Brother.

As conversas e risadas morreram e, de repente, todos os olhos estavam em Sarah e Juliette. Sarah arregalou os olhos como se tivesse sido pega em flagrante, enquanto Juliette abriu e fechou a boca algumas vezes como um peixe fora d'água.

Gil teve uma reação parecida com a delas, porém seu choque foi misturado a uma alegria explosiva.

— Bicha, eu não acreditoooooo! — gritou, animado. — As duas tavam de cachorragem esse tempo todo e não me disseram nada?

— Eu não levantei a mão! — disse Sarah, tentando contornar a situação.

— Nem precisou, que tua cara disse tudo.

— Juliette, é verdade isso? — perguntou Caio, sabendo que a paraibana não conseguia nunca mentir.

Juliette virou para Sarah procurando ajuda. A loira segurou sua mão com força. Havia um acordo silencioso entre elas, uma linha tênue que separava a mentira da realidade. A noite de sexo delas era verdade, por isso não haviam contado para ninguém. No entanto, era o tipo de verdade que ajudaria a reforçar a mentira — o efeito colateral seria o apagamento cada vez mais evidente da fronteira entre o que era real e o que era teatro.

O barulho dos gritos e risadas dos participantes havia chamado a atenção de outros participantes, que saíram de dentro da casa para ver o que estava acontecendo. Entre eles estavam Pocah e Lumena, o resquício do veneno de Karol dentro da casa, que fitavam Sarah e Juliette com desgosto. Elas cochicharam alguma coisa entre si e Sarah se aproximou ainda mais de Juliette, como se quisesse protege-la.

Sarah trocou um olhar silencioso com Juliette, como quem pede desculpas pelo que vai acontecer em seguida. O momento de intimidade delas seria público agora, mas era por uma boa causa — se pretendiam convencer até mesmo o Gabinete do Ódio sobre sua aliança, era melhor que usassem todo o arsenal que tinham disponível.

— Já rolou, sim — disse Sarah, finalmente, para loucura de todos os presentes. — É que a gente é bem discreta.

Os participantes soltaram alguns "uuuuuuhs" e assovios, outros demonstraram apoio ao ship. Lumena e Pocah, no entanto, seguiam desconfiadas assistindo tudo do canto.

— Não é assim que eu lembro, não — diz Juliette, travessa. — Tu não é nada silenciosa, Sarah.

Mais uma vez, o grupo explode em risadas e gritinhos. Dessa vez, Lumena e Pocah pareciam mais convencidas. Sarah trocou um olhar de gratidão com a namorada fake, que apertou sua mão indicando que estava dentro do jogo.

— Que horas que foi isso, meu pai amado? — indaga Gil. — Foi quando eu tava lá no quarto?

— Claro que não — responde Sarah, dando um empurrão no amigo com o pé.

— Menina, eu tô passada.

Juliette viu perfeitamente quando Sarah assumiu sua expressão de jogo e procurou uma das câmeras do jardim para mandar um recado aos espectadores.

— O pessoal do pay per view agora vai fazer mutirão pra descobrir quando foi que rolou. Façam suas apostas!

E, com isso, ela virou para dar uma piscada para Juliette. Sarah era muito boa em estratégia, mas, ultimamente, estava conseguindo cavar muitos momentos de destaque que certamente movimentariam a internet nas próximas horas.

— E agora, que não tem mais quarto do líder? — perguntou Gil.

— Sempre tem um edredom — responde Sarah, ligeira.

— Só que aí tu vai ter que ser mais quietinha, visse? — completou Juliette.

Gil arregalou os olhos e os outros participantes fizeram a maior zoação. Mas os olhos de Sarah estavam cravados em Juliette, que a olhava com a mesma intensidade. Falar a verdade dentro de uma mentira era um movimento perigoso, e a morena sabia que estava brincando com fogo. Mas ela não podia — não queria mais fingir que nada daquilo havia acontecido. Falar sobre aquele momento delas era ao mesmo tempo um alívio e uma maldição, pois ela sabia que outra noite de sexo jamais poderia acontecer.

Sarah não resistiu mais à atração que os lábios de Juliette exerciam sobre ela. Se aproximou com leveza, sem apressar as coisas, e deu um longo selinho nos lábios da morena. Quando sua língua pediu passagem, Juliette se afastou, como se despertasse de um transe.

Sarah sentiu o corpo da morena se recolher quando ela tirou a mão que estava sobre a de Sarah e se ajeitou no sofá. Ela precisou se esforçar para não demonstrar a tristeza que era sentir Juliette a rejeitando, porém sabia que aquilo era culpa sua. Elas haviam feito um trato e Sarah precisava cumprir com sua parte: todos os beijos e carinhos eram exclusivos para as câmeras.

Com um último olhar para os lábios de Juliette, Sarah disse que precisava arrumar as malas e rapidamente refez o caminho de volta para o quarto do líder.

Enganando BoninhoOnde histórias criam vida. Descubra agora