Carta aberta

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Pessoas, essa one NÃO TEM relação com as últimas duas. A continuação daquela virá em breve, mas não é essa.

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GABRIELA

Para meu gato ~(sem)~ de coleira,

Que saudades que eu estou de você!  Me vi na obrigação de vir aqui, em uma noite entediante onde todos os jogos do campeonato foram cancelados, lhe escrever. Por que? Eu também não sei. Fazem anos, né? Hoje é o dia do seu  casamento,  Ramon me contou,  e agora,  pensando com calma, percebi que é por isso que estou escrevendo isso. Pura saudade.... e um tanto de ciumes, confesso!
  Planejei passar o dia treinando e treinando para o jogo no final da tarde, e de noite,  enquanto você estivesse na cama de outra,  eu apenas sairia para alguma caminhada no Central Park.  
   Bom, a nevasca cancelou meus planos.  Estou presa em meu apartamento,  enrolada em várias e várias camada de pano, bebendo solitariamente mais uma taça de vinho. Lembrando e lembrando. Um ponto ao meu favor é a ausência de estrelas no céu,  assim não terei que me lembrar daquela noite no acampamento.
     Dez e meia da noite. Você deve estar deitadinho na cama do hotel mais caro de toda Londres, de conchinha com sua esposa.  A milhares e milhares de quilômetros de distância de mim. Sequer pensando em mim. Sequer me tocando.
       Isso me dói, porque foram dois anos e meio de nós dois, para de repente, tudo acabar em guerra. Nossas ideias não batiam, nossos planos também não.  Isso acabou com o amor, com a conexão só nossa. Você, aquele típico inglês bem-sucedido, e eu,  a Brasileira buscando se encaixar em um país totalmente diferente do seu. Você se deu bem. Eu, nem tanto.
Sabe aquela camisa sua? Mesmo com esses poucos graus negativos,  eu a estou usando. Não tem mais seu cheiro,  mas tem lembranças, e boas. Da primeira vez que fui sua. Quando achei que fosse pra sempre.
Sim, vou enviar essa carta pra você.  Consegui seu endereço. Talvez quando o álcool evapore de meu corpo ou vá embora, eu me arrependa, mas já será tarde demais. Pretendo me manter bêbada por um bom tempo.
  Sabe aquele meu namorado?  Terminei com ele. Ou melhor,  ele terminou comigo.  Adivinha por quê? Eu o comparava vinte e quatro horas por dia com você.  O coitado se irritou.  Bom, quem manda você transar tão bem e ele não?
Ou quem sabe fosse  coisa da minha cabeça conturbada, que só queria te reencontrar em alguém.
   Não vou fazer a linha clichê e dizer que desejo que seja feliz, mesmo  não sendo ao meu lado, porque seria a maior mentira já contada por mim.  Não desejo seu mal, mas meus sentimentos não permitem te desejar felicidade ao lado de outra que não seja eu. Não desejo que sinta o mesmo frio na barriga ao beijar ela como sentia comigo.  Não desejo domingos de amor.
Eugênia agora deve estar soltando fogos de artifício,  certo?  Finalmente casou o único filho com uma moça rica e de boa família.  Tudo o que eu não sou. Afinal,  para a Sra. Machado,  o que é uma suburbana perto de uma filha de diplomatas? Mas ela sabe quem te ama de verdade.
Enquanto você segue sua vida, eu sigo a minha, esquecendo dia após dia da sensação de seu toque,  dos seus olhos,  do seu sorriso. Esquecendo de como nosso amor é bonito. Ou era.
Sim, eu estou bêbada,  mas fazer o que? Pelo menos nesse estado não me sinto tão culpada em desejar o homem de outra, porque nos dois estados não consigo te tirar da cabeça.  Inferno de homem.
Bom, acho que já chega,  me humilhei demais por um bom tempo,  quem sabe depois disso eu aceite a realidade.  Vou dormir com a sua blusa, mas gelada sem você.  Espero que essa carta lhe traga alguma lembrança boa, não raiva.
Enfim, gatinho sem minha coleira,  foi bom falar com você!

Com muita falta de sanidade,

A Marrenta de NY.

Desci e coloquei a carta nas correspondências,  voltando para meu apartamento mais gelada ainda.  Apesar das várias taças de vinho,  a tristeza ainda me consumia,  eu ainda estava sóbria demais.

Já estava quase enfiada em minhas cobertas quando a campainha tocou. Resmunguei antes de cambalear até a porta,  vestida apenas com aquela blusa de Vicente, com a luz baixa.

E lá estava ele. Com um terno perfeitamente amassado, os cabelos bagunçados como eu ainda me lembrava e um tanto de neve espalhada pelo corpo. Ofegante, com um olhar melancólico.

Meu coração parou.

- Eu preciso de você,  Gabs.

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