Planos

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GABRIELA

- Uma hora e meia já. Aposto que ele arrumou outra e não vem.

Lucas riu.

- Você é doida. Ele só deve ter pegado trânsito!

- Ele nunca pega trânsito - bufei, ficando na ponta dos pés para enxergar a entrada do estacionamento, parcialmente tampada pela fileira de Ipês que a rodeava. Nada.

- Gabi, o cara é apaixonado por você, ele viaja  todo santo final de semana mais de 200km só para te ver. Desencana, logo ele chega.

Mas Vicente não havia atrasado uma vez sequer naqueles longos meses. Toda sexta-feira, às 22:00h em ponto seu carro entrava no estacionamento da Universidade. Já eram 23:31h.

E faziam dois meses que contratempos nos impediam de passarmos um final de semana juntos. Eu estava morta de saudades.

- Será que aconteceu alguma coisa? Tô preocupada.

Viajar no escuro sempre era uma preocupação, tanto para Eugênia, quanto para mim.

- Olha, não é o carro dele entrando?

Uma onda de alívio percorreu meu corpo no exato instante que reconheci aquele veículo familiar, me obrigando a apoiar o corpo em Lucas para não cair. Vicente estava bem.

Beeeem atrasado.

- Viu só? Seu amor chegou - Lucas me envolveu em um abraço, enquanto eu pensava nas  diferentes formas de matar Vicente. - Usem camisinha, lembrem de sair da cama e também de que a água não é você quem paga.

Revirei os olhos dramaticamente.

- Valeu por me fazer companhia, e não se preocupe, Vicente precisa de uma boa desculpa para entrar no meu dormitório hoje.

Meu amigo mostrou seus dentes brancos e alinhados em um sorriso radiante.

- Não mata ele, tá? Se você não quer, eu quero!

Gargalhei enquanto observava o carro parar na vaga logo ao nosso lado, e um Vicente descabelado descer dele.

- Gabriela! O que vocês....

Seu olhar parou sobre nós, abraçados e rindo. Mudei minha expressão para furiosa outra vez.

- Você olhou o relógio, por acaso? Sua mãe e eu quase morremos de preocupação! - me desvencilhei dos braços de Lucas e dei alguns passos ameaçadores na direção de Vicente, que ainda parecia juntar pensamentos em sua cabeça.

- Eu... o que ele está fazendo aqui?

Vicente ainda não sabia que Lucas era gay? Seria mais plausível eu ter ciúmes deles do que ao contrário.

- Só vim fazer companhia pra Gabi. Inclusive, se ela te deixar para fora hoje, pode dar uma passadinha no meu dormitório que eu vou adorar te ajudar!

Segurei o riso para fingir indignação. Lucas era a melhor coisa que a Universidade havia me dado.

- Ah...- Vicente levou as mãos aos cachos, visivelmente envergonhado. Pelo menos aquilo. - Obrigado por ficar aqui com ela, eu demorei mais que o esperado.

- Sem problema, agora vou deixar vocês sozinhos antes que a tensão pegue. Beijos!

Esperei até que Lucas sumisse de nossas vistas para me virar para Vicente outra vez.

- Uma hora e meia. O que deu em você?!

Mas seu olhar não revelava arrependimento, apenas felicidade e saudade. Alguns segundos se passaram até que ele voltasse até o carro e tirasse de lá sua mochila e uma linda e solitária rosa vermelha. A minha favorita.

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