"Eu sou seu único lar" - parte 1

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VICENTE

Los Angeles, EUA

- Meu amor? - chamei, e nada.

- Gabs? - chamei outra vez, largando as chaves e a mala perto da porta e percorrendo o apartamento ansiosamente em busca da minha esposa.

- Gabriela?

Tudo estava no mais completo silêncio, como se o lugar não fosse nem mesmo habitado. Tudo estava um perfeito caos, exatamente do jeito que Gabriela gostava, objetos jogados pelos cantos, porta-retratos cheios de fotos nossas e da família, bolas de basquete penduradas pelas paredes em sua enorme coleção.

A saudade dela me atingiu com ainda mais força quando adentrei em nosso quarto, sendo envolvido por seu cheiro único.

- Tem alguém aí?

Suspirei frustrado ao constatar que ela não estava em casa. Droga, eu havia dado meu couro para conseguir aquela folga de apenas dois dias, viajado mais de oito horas atravessando o país e ainda me metido em uma briga de trânsito para conseguir surpreendê-la e comemorar nosso aniversário de seis anos de casamento, e ela... ela simplesmente ignorava minhas mensagens e não aparecia em casa no horário que eu havia lhe avisado.

Era frustrante. O que estava acontecendo com o nosso casamento?

Chequei mais uma vez minhas mensagens, vendo que as últimas que eu havia enviado à ela continuavam sem qualquer tipo de resposta mesmo estando online há poucas horas, como se falar comigo já não tivesse mais importância. Como se eu não fosse o marido dela.

Joguei o aparelho no sofá, atingindo um pote sujo e uma meia avessa. Olhando ao meu redor, aquilo parecia mais um campo de batalha do que um apartamento. Bem típico de Gabriela, eu não julgava.

Peguei o pote e a meia e me dirigi até a cozinha, onde mais louças e roupas sujas estavam amontoadas, esperando para serem limpas. No tempo em que eu frequentava aquele lugar todos os dias, ele costumava ser limpo e cheiroso, não como se eu fosse um mestre na limpeza, mas dividíamos as tarefas. Tudo era uma alegria para nós.

Queria reviver aquele tempo. Queria tranformá-lo de novo em um lar novamente.

Meu coração ardia enquanto limpava aquele lugar e via retratos nossos espalhados pelos cômodos. Fotos de nosso namoro, casamento... fotos distraídos, com caretas, em viagens.... lembranças da época em que eu era o principal motivo dos sorrisos de Gabriela, e ela, dos meus.

Éramos tão felizes!

Bom, não era exatamente daquela forma que eu havia planejado passar o final de semana, limpando a bagunça dela, mas pelo visto a expectativa e ansiedade para estar novamente em meus braços como no primeiro ano já não existia mais. A casa poderia ficar suja, desde que eu e Gabriela estivéssemos juntos, mas já que os planos dela eram outros... Tudo bem, eu não me importava em me distrair um pouco.

Lavei e sequei as louças, coloquei as roupas sujas dela para lavar, guardei os objetos perdidos e passei pano no chão e em alguns móveis antes de me jogar no sofá, exausto. Depois de duas horas de limpeza, aquilo lá voltava a poder ser chamado de lar.

Bom, poderia, caso houvesse uma família de verdade morando ali.

Fechei os olhos e joguei minha cabeça para trás, odiando o silêncio mórbido que se fazia naquele lugar. Seria assim sempre? Gabriela deixaria a alegria e vida fugir dali sempre? Provavelmente não. Ela possuía vida dentro de si, nenhum lugar que estivesse se tornava sem graça. Quando estávamos juntos ali, não havia nenhum pouco de silêncio.

Sentia saudades.

- Não, e o melhor, você viu a cara dele quando a gente fe... Vicente?

Me voltei para a porta, assustado pelo barulho repentino, encontrando Gabriela e mais algumas pessoas paradas nela.

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