Destino - parte 2

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GABRIELA

Seu nariz se roçou ao meu e ficamos assim, desfrutando de tudo aquilo que um ainda estava disposto a proporcionar ao outro. Sua mão subiu para minha nuca, me trazendo para mais próximo de si enquanto a minha vagava por seus cachos, os bagunçando ainda mais. Era gostoso, envolvia tantos sentimentos que eu seria incapaz de inúmerar.

Podia sentir o calor de seus lábios contra os meus em um delicado selinho, cheio de saudades, quando meu coração voltou a se apertar, saindo daquela bolha mágica que eram meus sentimentos por Vicente.

- Eu não posso fazer isso - sussurrei, tentando em vão me afastar. Minha cabeça gritava para que eu dissesse não, mas meu coração a traía com uma facilidade impressionante.

Seus viciantes olhos castanhos se abriram, e olharam com tanta intensidade dentro dos meus que senti como se enxergasse minha alma através deles. E enxergava mesmo. Vicente conseguia.

- Sinto sua falta.

Poderia ser diferente. Poderíamos ter tido um futuro juntos caso brigas e mais brigas não houvessem acabado com nosso relacionamento. Estávamos em intensidades diferentes naquela época, desejávamos coisas que percebendo hoje, não tinham a menor importância.

Do que adiantava conquistar o mundo sem Vicente ao meu lado?

- Eu também - sussurrei, mal reconhecendo minha voz. Seu corpo contra o meu me incendiava, e eu precisava admitir que sentia falta daquilo.

Sua mão ajeitou um cacho atrás de minha orelha, me admirando com aquele mesmo olhar apaixonado de sempre, redecorando cada traço meu. Alguns anos haviam se passado, e pude perceber analisando com mais atenção as marcas de seu rosto. Vicente estava mais cansado, algumas marcas de expressões começavam a surgir... e ele também havia ganhado músculos, percebi ao pressionar com mais força meus dedos em suas costas.

- Por que a gente não deu certo?

Havia desespero em sua voz.

- Eu não sei. A gente deixou outras coisas entrarem na frente do nosso amor. - coisas, não pessoas. E isso era o que mais doía.

- Quando consegui tudo o que queria para minha vida, não teve mais sentido.

Uma lágrima tão solitária e leve deslizou por seu rosto, me fazendo não impedir o impulso de secá-la. Sua pele continuava com a mesma textura macia da qual me lembrava, e deixei que meus dedos deslizassem para sua barba. Era como uma volta para casa.

- Por quê?

- Porque não tinha você.

A pior e melhor coisa que pude ter feito fôra olhar em seus olhos naquele momento. Por aquela curta fração de tempo nada havia mudado, e ainda éramos o mesmo casal apaixonado de anos atrás.

- Isso não mudou.

Vicente ainda me tinha. E tinha meu amor também. Aquilo não havia mudado.

- O que não mudou?

Implorei para que minha boca liberasse aquelas palavras, mas nada saía. "Meu amor por você". Era tão simples... mas não consegui pronunciar. O medo de me entregar e terminar em ruínas era maior que tudo aquilo. Vicente era a única pessoa a qual me entreguei de corpo e de alma, e em ambas às vezes que o fiz, saí magoada.

Uma terceira vez seria demais.

- O que não mudou, Gabs? - ele insistiu, com mais desespero.

Era estranho. Eatava acostumada a ter tudo com Vicente. Ouvi-lo repetir meu amor milhares de vezes ao dia, a esperar seu toque ansiosamente, a buscar seus braços ao final de um jogo. Mas naquele momento a estaca era zero. Tudo o que havíamos tido se transformara em nada, toda a intimidade estava guardada, mas não podia ser demonstrada. A ponte entre nós não existia mais.

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