Histórias Gabicente

Carta Aberta Parte II

VICENTE

Ela estava linda. Um pouco descabelada e sonolenta, mas linda.  Estava com os olhinhos de sono arregalados pela surpresa,  mas eles ainda possuíam todos os sentimentos do mundo,  ainda tinham nosso universo todo dentro deles.
Nem mesmo oito anos haviam sido capazes de lhe transformar, aquela mulher em minha frente continuava sendo a minha Gabs.

- Vicente.... o que... - palavras hesitantes,  aos tropeços.

Entrei em seu apartamento e tranquei a porta com cuidado,  buscando seu olhar com o meu, buscando o encaixe de nossos sentimentos.  Ela estava surpresa, mas em momento algum fugiu,  recuou,  pelo contrário,  Gabriela estava aberta à mim.

Antes de me explicar ou e deixá-la falar algo, puxei seu corpo para o calor do meu, levei minhas mãos ao seu pescoço e cintura e olhei por breves e significantes segundos no fundo de seus olhos antes de unir meus lábios aos seus.

Um gemido escapou dela ao sentir meu contato,  ao retribuir meus toques com fervor.  Minha língua pediu desesperadamente passagem, e ao senti-la ceder, foi como se meu mundo tivesse desabado. Se tudo terminasse ali mesmo, eu estaria feliz e grato por poder beijá-la mais uma vez.

Desci e subi minha mão repetidas vezes por sua coluna depois de perceber o quanto seu corpo estava gelado por baixo daquela camisa fina. Minha camisa,  que curiosamente havia sumido após nosso término. Ela não havia esquecido de mim.

Me mantive a beijando até que o último resquício de fôlego sobrasse em meus pulmões,  até que fosse impossível continuar,  e então deslizei meus lábios por sua bochecha e puxei-a para um abraço doloroso de tanta saudade.

- Vicente.... Vicente!  - seus braços se apertaram ao redor de meu corpo,  e suas lágrimas naquele momento se misturavam com a neve que descongelava em minha roupa. Um reencontro que havia esperado oito anos para acontecer.

- Eu tô aqui Gabs, eu tô aqui!
Foi sua vez de buscar meus lábios com os seus, com ainda mais desespero que antes.  Era minha.

Deslizei minhas mãos por suas coxas hesitante, com medo de uma rejeição,  mas ela me ajudou,  e buscou impulso para subir em meu colo. Gemi baixinho, com meu coração ardendo de felicidade.  Cada centímetro de pele dela buscava a minha  e o contato nos incendiava de um modo que, com toda a certeza do mundo,  ninguém mais conseguiria.
Meu paletó e toda a neve dele foram ao chão através das mãos geladas de Gabriela,  e logo depois elas passaram a trabalhar de forma atrapalhada nos botões de minha camisa social  que fora tão bem escolhida por Ashley.

Bloqueei ela de minha mente quando me ajoelhei no tapete felpudo da sala de estar de Gabriela e a acomodei cuidadosamente em meu colo, fazendo sua blusa subir e revelar mais do que eu estava ansioso para redescobrir.

O gosto de álcool em sua boca finalmente me fez recuar, me afastando o mínimo possível para olhá-la.

- Você bebeu... por quê?  - minha voz saiu sussurrada,  e busquei acariciar seu rosto com todo o carinho que ainda sentia por ela.

- Bebi, eu não tava legal.
Encostei minha testa na dela. Por que não havíamos dado certo?

  - Você joga, não deveria beber tanto ao ponto do cheiro ficar em seu corpo.

- Nem bêbada eu não fiquei. Você não veio até aqui pra me dar bronca, né?

O tom marrento em sua voz... me questionei por um momento se não seria um sonho, se não era apenas um delírio de minha cabeça Gabriela estar em meus braços mais uma vez.

- Não,  mas se precisar eu vou.

Ela suspirou,  e sua pele se arrepiou.  Estava frio demais para sua pouca roupa.
Puxei a coberta que estava no sofá e envolvi seu corpo antes de descer meus beijos por seu pescoço.  O  cheiro tão familiar ainda se instalava lá,  e eu facilmente poderia nomeá-lo de lar.
Desamarrei seus cabelos ao senti-la puxar os meus com força,  traçando desesperadamente uma trilha de beijos por meu pescoço até onde a camisa permitia.  Suas mãos puxaram as minhas até a barra do tecido,  em um pedido silencioso e suplicante para que a retirasse de seu corpo.