03 ; alguns olhares enganam

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Poderia até ser no meio da semana, mas eu e Kun não queríamos saber. Não tinha dia certo pra encher a cara e tínhamos total ciência das consequências.

Cacete, essa tá boa. — recuperou o fôlego, logo depois de virar um copão de cerveja. — Tá demorando por que, Johnny? Antigamente você tomava cerveja igual água.
— olhei para o meu copo na metade e ri. Era verdade, mas eu prefiro vinho. — Eu virei um velho, Kun. Tô preferindo vinho. — dei um gole na cerveja escolhida por ele e instantaneamente fiz uma careta. Não estava boa.
— Mudou de gosto pra cerveja também, Suh? — ele riu assim que olhou pra mim.
— Que porra é essa, Kun? As cervejas que você escolhia eram aceitáveis, mas essa aqui é uma merda. — bufei, empurrando o copo para o lado dele na mesa. Sorte que a próxima rodada foi por minha conta.
— Faz um ano, as coisas mudaram tanto assim? — Quian suspirou, pegando o meu copo e virando-o em seguida. — Me conta, como tá tudo?

Sorri. Assim que parei pra olhar ele, acabei me distraindo com o olhar de um garoto numa mesa atrás da nossa. Era incrível que ele estava olhando pra mim, só pra mim.

— Johnny? — o chamado de Kun não me fez parar de olhar pro garoto, então ele só virou pra olhar também. Apesar de ter duas pessoas olhando pra ele, ele não desviou o olhar em momento algum. — Você vai lá? — Kun perguntou, terminando com a garrafa de cerveja.
— Hm... não. — dei de ombros. — Só quero ver até quando ele fica olhando pra mim. — sorri outra vez, especialmente para ele.
— Você é estranho. — suspirou. — E aí? É a sua vez.
— Ah sim! Vinho tinto suave! — desviei meu olhar do garoto, olhando rapidamente o cardápio. Procurei um vinho que sempre tinha em casa e felizmente achei, assim, mostrei o cardápio pra Kun. — Esse.
— Ok. — ele pegou a minha carteira e foi até o balcão pedir.

Enquanto esperava ele, peguei a câmera da minha bolsa. Quis tirar uma foto de Kun, mas antes mesmo de eu raciocinar, ouvi a cadeira ao meu lado ser puxada.

— Olá. — ah... droga.
— Olá. — olhei para o garoto com um sorriso enorme no rosto, colocando a câmera por cima da mesa.
— Você é Johnny Suh, certo? — ele se sentou ali, numa calma imensa.
— Sim. — sinceramente? Eu não queria conversa. Queria me divertir com um amigo.
— Prazer, eu me chamo Wong Kunhang. Eu estudo na faculdade que você faz palestras.
— Ah, sério?! Que legal! Sempre quis conhecer algum aluno que fosse nelas. Qual curso você faz?
— Música.

O meu sorriso se foi na hora. Ok, ele até ia pras minhas palestras, mas nunca pensei que elas interessariam algum aluno de música.

— Mas... se você faz música, por que vai nas minhas palestras? Todas são sobre fotografia.
— Você é bonito pra caralho. — ele disse, sem nem desviar o olhar.
— Ei. — Kun se aproximou, sentando na cadeira dele. — Quem... ah! Hendery! — sorriu.
— Olá, Sr. Quian! — ele levantou da cadeira, empurrando-na de volta. — Bom, obrigado pela conversa, Sr. Suh.
— Espera Hendery, fica aqui com a gente. — Kun disse.

Confesso que quis chutar ele por debaixo da mesa. Não queria compartilhar minha noite com um estranho... mas se Kun queria, eu queria também.

— Ahm... mesmo? — o garoto olhou para mim como um cachorro pidão, ele realmente queria ficar.
— Claro. — completei, me afastando um pouco da cadeira que ele sentaria.

Logo, ele sentou novamente. Ele estava sozinho, então não precisava se preocupar em deixar outra pessoa esperando.

— Eu tô sem óculos, por isso não te reconheci. — Kun riu, colocando vinho para nós dois. — Quer?
— ele assentiu. — Tá tudo bem, Sr. Qian.
— Por hoje, pode me chamar só de Kun. — ele colocou o vinho na taça do mais novo e sorriu para ele.
— Obrigado.

Estava desconfortável. Eu estava. Não sabia se Kun lembrava.

— O que te trás aqui? É preocupante ver um aluno bebendo sozinho no meio da semana. — comentou, dando um gole em sua taça.
— Bom, eu ia sair com Ten, mas ele disse que estava ocupado... então decidi sair sozinho.

Eles são amigos. Olhei pra Kun rapidamente, percebendo a sua olhadinha pra mim. Eles estavam prestes a ser algo a mais que amigos.

— Uhm... — limpei a garganta. — Que merda, né?
— É... mas acontece. — ele deu de ombros, tomando longos goles do vinho.

Depois de algumas mudanças de assunto repentinas, desconfortos e, algumas risadas, decidimos sair dali. Por mera coincidência, Hendery morava na mesma direção que eu, então fomos andando juntos. Sorte que não era longe, parecia que ele estava prestes a desabar.

— Cara... você é muito mais bonito de perto, sabia? — Hendery comentou, olhando pra mim. — Faz algum tempo que vou nas suas palestras... eu gosto de ouvir você. Eu gosto do jeito que você fala, de como você se empolga falando da sua paixão.
— Sempre achei que fico parecendo um idiota. — retruquei, rindo. 
— Fica. Mas, é fofo.
— É, eu acho que você tá bêbado. 
— Talvez. — Hendery olhou para o lado e parou, suspirando. — É aqui.
— parei logo na frente dele e o olhei. — Boa noite, então.
— Vamos sair para beber mais vezes, Sr. Suh. — o garoto estendeu a mão para um aperto e logo retribui. Recebi um abraço. Sem aviso prévio. — Seus ombros são mais confortáveis do que parecem.

Até levei numa boa. O garoto parecia estar abalado psicologicamente, além de que tinha acabado de levar um fora e pra completar, estava bêbado. Talvez eu que seja mole demais.

— Obrigado por me trazer até aqui.
— Claro. — o pior de tudo... eu também estava bêbado. 
— Boa noite. — ele sorriu, se afastando.

Assim, Hendery entrou em sua casa. 

— Johnny?

Susto.

— virei por instinto (e um pouco de medo). — Ten? — suspirei.
— Achei que era algum outro amigo dele, não imaginei que fosse você. — ele se aproximou. — Vocês estavam se pegando? 
— Não, não, não, não, eu jamais faria isso.
— Ele não é bonito o suficiente? 
— o olhei, confuso. — Não é isso, é que Kun me disse que...
— Ah! Qian te disse que a gente tava namorando? — Ten riu, muito. Muito mesmo. — Nós dissemos isso pra ele. Somos melhores amigos, ele sempre encheu nosso saco por sermos muito próximos.
— Ah...
— Na verdade, ele tem uma paixãozinha por você. — comentou. — Você é o cara das palestras, certo? Faz um ano já.

Eu só não tinha palavras. Tudo tinha feito um pouco mais de sentido.

Merda.
— Bom... eu vou entrar. Até mais, Johnny.

Era, realmente, muito pra digerir em pouco tempo. Fazia tempo que não me sentia assim, estranho. Fiquei alguns minutos a mais parado na frente da casa de Hendery. Era um aluno, um aluno. E esse aluno... tinha uma queda por mim.

wedding band › johnten (nct)Onde histórias criam vida. Descubra agora