05.2 ; o show

67 6 0
                                    

Era, aproximadamente, 17 horas. Eu tinha um evento e um show pra ir naquele dia, confesso que lidei com a maior calma do mundo.

— Cadê a porra da minha chave? — murmurei, olhando pro meu cachorro como se ele fosse me responder. 

Ele virou a cabeça, como se não tivesse entendido. Eu, como sou uma pessoa fraca em relação à cachorros, peguei ele no colo e beijei o topo de sua cabeça, fazendo carinho em sua barriga logo em seguida. Eu estava atrasado e ainda tinha que chegar lá.
Procurei minhas coisas e fui achando de pouco a pouco, até ter tudo em minhas mãos. Bolsa, celular, chaves, carteira, fotos... tudo que era necessário. Tranquei meu estúdio e corri até o meu carro, deixando as coisas no banco do passageiro.

— Ok... se tudo der certo, eu posso sair antes das 23 e ir pro show de Ten. — disse, um pouco antes de ligar o carro. Queria me acalmar.

Coloquei logo uma música do Kun, que eu particularmente adoro. Eu lembro que ele fez tudo da música, não me deixou ajudar nem no piano. Naquela época éramos muito próximos, então ele fez pra nossa amizade. Ok, talvez eu tivesse uma paixãozinha por ele, mas ele é hetero e nunca rolaria. Até hoje eu admiro ele, sempre vou admirar. Ele me ajudou com muitas coisas, sempre vou lembrar dele.
Algumas músicas tocadas e eu já estava lá. Era longe, mas mal tinha percebido a viagem. Peguei meus pertences e deixei as chaves do carro com o motorista, que estacionaria o mesmo. Merda, minhas mãos estão suando. Não lembro da última vez que fiquei nervoso por conta de um trabalho... talvez seja pela pressão de ir embora.

— Oh, Johnny Suh! — era Yukhei, o chefe do dia.
— Lucas. — o cumprimentei.
— Quero que conheça um amigo meu, Doyoung. — o garoto que estava do lado dele sorriu.
— Prazer em conhecê-lo, Johnny.
— Igualmente. — eu sorri de volta. 

Não queria ser rude, mas não estava ali pra conhecer alguém. Yukhei é um conhecido e pro meu azar, ele sabe que sou gay. Toda vez que faço um trabalho pra ele, ele sempre tenta empurrar algum de seus amigos pra mim. Suspirei, fundo. Pedi pra ele me mostrar o lugar e se ele tinha algum canto de preferência pra tirar fotos dos convidados, ele disse que não. Menos mal. Pude deixar os meus pertences em um quartinho especial, não queria deixar espalhados.
Enquanto eu tirava algumas fotos, Doyoung eventualmente vinha conversar comigo. Ele era bonito, interessante, sexy… só era uma pena ele ter sido empurrado pra mim. Odeio quando fazem isso. Ele não parecia estar confortável com a situação.

— Posso te fazer uma pergunta? — deixei minha câmera de lado, me encostando na quina de uma porta.

Ele só assentiu.

— Você queria? Sabe, ser apresentado pra mim.
— Bom… eu não gosto muito de ser empurrado pra cima de caras. — respondeu, cruzando os braços e suspirando em seguida. — Yukhei faz isso comigo quando conhece algum outro homem gay.
— Ah… — ri fraco. Nossa situação era exatamente a mesma. — Você conversou com ele sobre isso? 

Ele negou.

— Mas… você parece ser gentil. Não foi segurando no meu braço e nem pegou uma bebida pra mim. — Doyoung comentou, rindo. 
— Ah, desculpa pela bebida. 
— Relaxa! Eu não gosto mesmo. 

Fofo. Ele era fofo.

— Gostaria de ter te conhecido em outro contexto. — comentei, e realmente gostaria. — Podemos sair outra hora, tomar um café. — peguei minha câmera mais uma vez e apontei para Yukhei. Ele estava sorrindo, então era uma ótima oportunidade. Cacete, que cara gostoso.
— Claro! — Doyoung sorriu. Queria ter apontado a câmera pra ele também. 

Tirei fotos, várias. Uma hora comecei a sentir que já era suficiente, mas Yukhei não parecia satisfeito. Era um evento grande e importante, então ele queria muitas. Porra, quando olhei pro meu relógio eram 22:50. Porra.

— Yukhei, tenho outro compromisso às 23. Tirei todas as fotos principais que pediu, tudo bem se eu for mais cedo?
— Uhm. — murmurou enquanto assentia. — Gostou de Doyoung?
— Yukhei… 

Eu suspirei. Era assunto dele, mas o desconforto dele era gigantesco e eu não poderia deixar passar.

— Doyoung é incrível, tenho certeza que ele conseguiria alguém sem a sua ajuda. — sorri de canto, sem graça. Queria ajudá-lo com isso.
— Ah… sim. — ele riu, também estava sem graça. — É mesmo. — Yukhei desviou seu olhar para um amigo que estava próximo a ele e assentiu. — Pode ir, Johnny. Obrigado por tudo.

Sorri. Espero chegar a tempo para ouvir Ten cantar. Espero chegar a tempo para me derreter com a voz incrível dele. Cheguei no carro e apressei o passo, nunca corri tanto assim. O lugar que eles tocavam era consideravelmente longe do evento, levava uns 30 minutos de carro e eu já estava atrasado. 

— Obrigado por nos ouvirem hoje! — é. Cheguei tarde. Ten saiu do palco sem um sorriso no rosto. Queria vê-lo.

Perguntei se tinha algum jeito de chegar no camarim, eu até inventei de ser irmão de Ten pra conseguir ir mais rápido. Ele estava sentado, chorando e abraçando a guitarra. 

— Ten? — me ajoelhei ao lado da cadeira que ele estava sentado e olhei pra ele.
— Johnny… você tá atrasado. — ele disse entre soluços.
— Eu sei, me perdoe. Eu tentei, eu juro. — suspirei.
— Johnny, ninguém mais veio. Eu esperei que você viesse, esperei e esperei. Esperei você com a sua câmera no pescoço e você não veio. — Ten apoiou a guitarra na parede e olhou pra mim. Que merda, o rosto dele já estava inchado de tanto chorar. 
— Ten… 
— Johnny, era meu primeiro show em uma casa de shows. Eu queria que algum amigo viesse, mas… 
— Ten, me desculpe. Eu tinha um evento antes e não consegui chegar a tempo. 

Tentei afagar os cachos do cabelo dele, mas ele logo desviou. 

— Johnny, eu fui tão bem.

Eu adoraria saber como ele foi. Adoraria ter visto.

— Chittaphon, eu adoraria ouvir como foi hoje.
— Você teria visto se tivesse chegado a tempo.
— Não é isso que eu quero discutir agora. — sorri fraco, tentando amenizar a situação. — Quer sair amanhã? Pra contar tudo.

E pra comer junto comigo. Pra eu conseguir ouvir você cantando mais uma vez. Ele reagiu com o silêncio, até parou de soluçar.

— Sair? Sair… sair?
— Não entendi a confusão.
— Sair como…? — ele inclinou a cabeça para o lado, semicerrando os olhos.
— Amigos, ué. Não somos amigos?
— Ah, sim! — Ten abriu um sorriso em seus lábios.

Ele achou... que eu estava chamando ele pra sair? Como um encontro? Espera... e se eu tivesse chamado? Ele aceitaria?

wedding band › johnten (nct)Onde histórias criam vida. Descubra agora