07 ; toca pra mim

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Depois daquele café que eu deliberadamente paguei pra ele, ele me convidou para ouvir a mais nova música dele. Ten me contou que se inspirou em mim para fazê-la, se inspirou na minha paixão pela arte. Logo quando eu entrei na garagem dos pais dele, eu tirei uma foto dele tocando o piano. Ele me disse que sabia tocar, mas raramente fazia. 

— Que ocasião rara é essa que você tá tocando? 
— Minha nova música! — ele respondeu, sorrindo. Não aguentava mais ver aquele sorriso sem elogiar ele.
— puxei o ar pra elogiar, mas não consegui. Se ele já ficou confuso com a saída no café, imagina agora. — U-hm, e aí? Eu quero ouvir. — me aproximei do piano e logo me sentei ao lado dele.
— Você pode tocar? — Ten fez questão de fazer um bico e olhar pra mim com uma cara de cachorro triste. 
— Ten, você sabe que eu não gosto…
— Eu sei. É que eu me apaixono quando você toca. — ele cobriu a própria boca em seguida. — Espera! Digo, quando você toca, não me apaixono por você e sim pela sua paixão pelo-
— Eu entendi. — tive que interromper ele. Ele se embolada cada vez mais e eu não queria rir disso na frente dele.
— Johnny, você tem tanta coisa guardada… queria saber o que você anda pensando. — Ten colocou suas mãos sobre o piano, tocando algumas notas soltas enquanto esperava por uma resposta minha.
— Ultimamente? Na sua voz. — cacete.
— Quê?

Cacete. Não imaginei que falaria aquilo. Foi do nada, não pensei no que falar, eu só falei.

— Sua voz é bonita, Chittaphon. — foda-se. Já chutei o balde, entrei de cabeça. — Seu sorriso também.

Fiz questão de olhar diretamente pra ele, só pra ver a reação dele. O rosto dele ficou tão vermelho, não sabia que ele recebia elogios assim. Sempre pensei que Ten era o tipo de pessoa que falaria "eu sei", sem nem um pingo de vergonha na cara.

— Eu sei. — ele desviou o olhar pro piano em seguida. Ele até sabia, mas não sabia que eu achava isso. — Não me distrai, toca o piano.

Sorri. Ah, como eu sorri. Ele era fofo do jeito dele. Coloquei meus dedos sob as teclas e comecei a ler a partitura, assim tocando o piano. Era uma melodia bonita e calma, lenta, mas que combinava com o contexto. Logo, Ten começou a cantar. Mais baixo do que ele normalmente cantava, talvez ele estivesse com vergonha pelo meu comentário. Fofo. Ele era fofo. Ainda mais quando cantava e tocava. Eu sempre me distraia na voz dele quando ele começava a cantar, mas foquei ao máximo para não errar alguma nota.

— Ah, Johnny. — ele parou de repente e olhou pra mim, sorrindo. — Valeu por aquele dia, eu tava precisando.
— Eu que agradeço! Você falou tanto que me deixou cansado, dormi muito bem. — brinquei. 
— Ei! Nunca mais falo nada. — ele cruzou seus braços, virando o corpo pro lado oposto ao meu.
— É brincadeira. Mas obrigado de qualquer forma, foi bom sair contigo. — sorri. Foi incrível, eu adorei o quanto ele falou. Adorei que ele se soltou completamente e cagou se eu pensaria merda dele. Eu adoro o quão autêntico ele é. 
— ele riu. — Você quer sair de novo outro dia? Agora que parei pra pensar… nós saímos sempre juntos, mas nunca realmente conversamos sobre nós. — Ten comentou, apoiando seu queixo em sua mão e olhando pra mim. — Aliás! Tem falado com Hendery?

Ah… porra. 

— Mais ou menos. Saímos uma vez depois daquele dia e trocamos algumas mensagens, mas nada de mais. — completei, pegando o caderno de partitura e fechando ele.
— Ten acompanhou minhas ações com os olhos, suspirando. — Hmm, entendi. — assim que comecei a folhear o caderno, Ten rapidamente recolheu ele da minha mão. — Tem segredo aqui. 
— Ah, desculpa.
— Pra onde vamos sair? Dessa vez, quero algo divertido. — ele voltou com o sorriso no rosto, se levantando da cadeira e indo sentar no sofá ali perto.
— Cinema é legal. 
— Pra você analisar o filme inteiro como um fotógrafo? Tô fora. 

É, ele me conhecia bem. Sorri, respirando fundo. Coloquei meus dedos por cima das teclas e toquei Gymnopédie n°1. Eu fiz uma apresentação dessa música, foi a minha última. Depois dela, eu desisti. 

— Eu toquei essa música antes de parar. — me sentia confortável o suficiente com Ten pra contar isso pra ele. — Meus pais… bom, eles não foram na minha apresentação. — merda. — Eles estavam ocupados demais transando e não conseguiram ir. — eu descobri isso depois. Meus pais nem sequer se desculparam. — Eu desisti porque… se nem meus pais gostaram de me ouvir, quem gostaria?

Ten gostava. Me sentia livre o suficiente com ele pra tocar. Kun gostava. Na época, eu não tinha eles. 

— Porque ninguém gostava de me ouvir. — logo, interrompi. Interrompi no meio da música. Queria olhar pra ele, por alguma razão desconhecida.
— Eu gosto de te ouvir. — ele voltou pro meu lado e sorriu. — Eu gosto de ouvir você tocar, Johnny. 

Nos olhamos por muito tempo. Minha cabeça estava vazia e eu só conseguia sorrir. Eu ouvi aquelas palavras e sorri.

wedding band › johnten (nct)Onde histórias criam vida. Descubra agora