01 : o guitarrista

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Bom, apesar de eu ser um fotógrafo e ter aceitado a proposta de um casamento gigantesco... eu odeio casamentos. Claro, é um momento de felicidade pra todos, a curtição, as músicas, os brindes e todo o resto, mas captar o sentimento de todos através de uma simples foto é meio complicado. Sim eu fiz a faculdade, mas eu não casei pra saber o sentimento complexo que é. Apesar disso, quase enchi a memória da minha câmera tirando fotos dos recém-casados e dos convidados. Sorte minha que a banda ainda não tinha chegado, eu tinha tempo o suficiente pra apagar todas as fotos borradas da dança. A luz também estava horrível, nada tinha contribuído pro meu trabalho ficar mais fácil.

— Uh-hm, um, dois... — o microfone ainda estava alto o suficiente pra me dar um susto. — Primeiro eu gostaria de parabenizar os recém-casados, minha irmã sempre sonhou em encontrar alguém como você, cara.

Depois de apagar mais algumas fotos, eu finalmente apontei a câmera pra pessoa com o microfone na mão. Eu só não esperava que tivesse uma guitarra em seu pescoço.

— Enfim! Meu nome é Chittaphon e eu espero que curtam nosso som e o resto do casamento. Parabéns mais uma vez, mana. — ele terminou, ajustando o microfone no tripé e suspirando em seguida. Ele não parecia nervoso e muito menos um iniciante.

Por instinto, dei um zoom gigantesco na cara do garoto assim que ele sorriu pra irmã dele e tirei uma foto. Essa com certeza foi pra pasta "pessoas que eu nunca mais vou ver". Ajustei o contraste, o brilho e todo o resto pra deixar a banda com uma iluminação fantástica, afinal, tinha um cara bonito ali e era o irmão da noiva. Logo, ele começou a tocar a guitarra e a banda o acompanhou, formando uma sincronia indescritível. Sua voz forte se juntou à melodia, fazendo com que tudo fosse hipnotizante. Depois de um tempo admirando a música e o cantor, finalmente tirei uma foto da banda agindo como um todo, todos sorrindo e suando.

Estava perto da meia noite e, aparentemente, a festa só estava começando. A banda tinha dado uma pausa e enquanto isso, um DJ meia boca tocava algumas músicas pedidas pelos convidados.

— Sr. Suh? — a noiva me chamou e logo eu sorri. Queria continuar com a imagem impecável que passei pra ela. — Creio que conheceu o meu irmão no palco. — ela trouxe o guitarrista pelo braço, todo desengonçado e sem graça.
— Oi. — ele disse enquanto olhava pra irmã com o mais puro ódio que eu já vi.
— Olá. — estendi a mão para ele e ele logo me cumprimentou. Haviam calos em seus dedos por conta das cordas da guitarra e eu entendia a dor. — Johnny Suh.
— Chittaphon Leechaiyapornkul. — até ergui uma sobrancelha tentando decifrar de qual país ele seria, mas eu era horrível nisso. — Mas, pode me chamar de Ten. — sorriu.

Porra, esse me derreteu. Se de longe o sorriso desse garoto já era incrível, de perto então... Quase puxei a câmera pra tirar foto da arcada dentária dele.

— Bom, Chittaphon precisa de alguém pra ajudar com as fotos da banda dele, e... você é um fotógrafo. — se não fosse pela irmã dele ali, tenho certeza que o clima ficaria estranho entre nós.
— Ah, mesmo? — sorri. — Claro, eu posso ajudar sim.
— Que bom! — ela mostrou um sorriso imenso e depois ouviu o marido chamar por ela. — Eu vou lá, conversem!

Ela saiu. O clima até ficou estranho. Suspirei, puxei a cadeira da mesa na qual eu estava sentado e olhei pra ele, logo deixei a câmera por cima da mesa e sentei na cadeira ao lado. Depois de um curto espaço de tempo, ele finalmente entendeu e se sentou também.

— Posso ver? — Ten apontou para a câmera com seus olhos brilhando, como um gatinho pidão.
— Claro. — entreguei a câmera para ele. — Aperta aqui pra ir pra galeria. — instrui, mas ele parecia saber de tudo.
— ele apontou a câmera pra mim e sorriu, maravilhado. — Cacete, esse zoom é incrível! — assim, eu sorri para a lente da câmera, ouvindo o "click" da foto.

Depois de se divertir com as lentes, cores e zoom, ele olhou as fotos da galeria e eu tinha esquecido do detalhe principal.

— Essa foto da banda tá muito boa. — ele virou a tela da câmera para mim por alguns segundos. — Ah... nossa. Você conseguiu me deixar muito bonito nessa foto. — ele sorriu, do mesmo jeito da foto. Justamente a que ia pra pasta.
— Ah, sério? — perguntei só por educação, o garoto já era bonito de qualquer jeito.
— É... bom. — ele devolveu a câmera para a mesa. — Você pode me ajudar? Eu tiro algumas fotos, mas é mais um hobby.

Segurei a câmera e vasculhei a galeria atrás da foto que ele tinha tirado de mim. Porra, ele era bom.

— Conseguiu me deixar muito bonito nessa foto. — brinquei, desligando a câmera em seguida.
— Não foi a câmera. — ele pegou uma caneta de seu bolso e puxou a minha mão. — Aqui. — ele anotou o que parecia ser o número dele e voltou a caneta pro bolso. — Quando sua agenda estiver vazia, me liga.

No final do número, ele deixou um "- Ten :)". A vontade que eu tive de cancelar todos os meus compromissos do mês, só pra ver ele de novo foi gigantesca. Ele se levantou da cadeira e voltou para o palco quando a música do DJ tinha acabado, colocou a guitarra em suas mãos e se ajeitou, olhando para mim. Virei minha cadeira completamente para o palco, apontando a câmera para o mesmo. O olhar do garoto era penetrante até mesmo através da lente da câmera.

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