Capítulo VIII

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ANNABETH

Acordo sobressaltada e puxo os cobertores em direção ao meu peito. Minha cabeça estava doendo, muito.

Olho o ambiente ao meu redor e me lembro pela vigésima vez que aquele não era o meu quarto, por isso, eu me sinto segura, porque estou protegida das palavras venenosas dele, estou protegida... Ele ia me bater? Ele nunca faria isso. Faria? Me lembro da raiva no olhar dele, me lembro de como eu vi o braço dele se movimentando, eu vi meu corpo respondendo aquilo, eu senti meu maxilar tremendo de medo, eu senti aquele medo dentro dos meus ossos. Eu senti, e estou sentindo de novo, está me deixando enjoada.

Levanto da cama afastando todo aquele tecido, que possuía o cheiro de uma colônia masculina por todo travesseiro e cobertor, ando em direção a porta tateando a maçaneta e me desesperando por não encontrar logo, o vômito se acumulando em minha garganta, eu queria chorar por não achar maçaneta. Quando finalmente acho, percebo que não faço ideia da onde fica o banheiro, dou dois passos para fora e vomito no chão do corredor, na entrada do quarto de Percy, apoio minhas mãos na parede e começo a chorar, eu ia causar mais trabalho ainda a ele, já estava usando seu quarto de abrigo e ainda estava fazendo bagunça. Eu acabo chorando mais ainda, até que alguém aparece no final do corredor e corre em minha direção, tomando cuidado ao passar pela poça de vômito que eu havia acabado de fazer, Percy passa as mãos por meus ombros e me guia em direção a outro cômodo. Não diz uma única palavra, mas seu toque é tão calmo, seu polegar acariciava o meu ombro enquanto ele abria uma porta que descubro ser o banheiro, assinto olhando o ambiente e ando até a pia, pegando um enxaguante bucal e colocando um pouco em minha própria boca.

- Vou limpar a frente do quarto enquanto você faz o que tem que fazer, tudo bem? - Assinto uma vez e ele toma aquilo como suficiente. Privacidade, o Percy está sempre me oferecendo espaço privacidade, ele não entra no próprio quarto sem bater na porta primeiro, não perguntou nada, me ofereceu comida três vezes mesmo quando não comi as duas primeiras, ele não me disse que vai ficar tudo bem, nem pergunta quando vou embora. Só diz que eu posso chamá-lo quando quiser.

Não sei quanto tempo fico me martirizando com os meus próprios pensamentos, mas Percy aparece de novo, dizendo que estava tudo limpo e que eu já podia voltar para o quarto, ando atrás dele até o quarto, seu corpo é alguns centímetros mais alto que o meu e ele era bem mais largo, parecia maior que Luke. Mas Luke me dava mais medo que ele, meu namorado me assustava mais que o meu parceiro de patinação. Ainda estávamos namorando? Pela primeira vez, eu gostaria que não. Assim, não preciso dar satisfações a ele, poderia fechar a porta sem me sentir na obrigação de abrir em seguida, eu poderia tantas coisas se eu não fosse mais namorada dele, mas eu acho que ainda sou, ele não terminaria assim.

Me sento na cama e Percy me olha ansioso, preocupado, e várias outras coisas que não tenho nenhuma disposição para entender. Mas decido dizer a minha primeira palavra desde que briguei com Luke no início da tarde.

- Desculpa. - Minha voz soa estranha e muito distante de mim, um pouco rouca por eu ter chorado por duas horas seguidas não faz muito tempo. Estou cansada.

- Pelo vômito? Tudo bem, tenho um amigo que sempre faz essas coisas, foi só mais um exercício rotineiro limpar o seu almoço. - ele diz tentando soar descontraído e eu ergo o olhar para ele, havia apenas a luz da luminária agora, eu não conseguia ver seus olhos muito bem.

Sua pergunta é boa. Desculpas pelo o que? Eu tenho vários pedidos de desculpas no momento: Desculpa por não ser suficiente, desculpa por estragar o meu relacionamento, desculpa por não ser uma boa amiga, desculpa por não ser uma boa namorada, desculpa por ter ficado acima do peso, desculpa por ter ficado abaixo do peso, desculpa por ter sido uma boa aluna, desculpa por ter tirado nota baixa após uma briga, desculpa por ser boa patinadora, desculpa por não aceitar "não" quando acho que estou certa, desculpa pelo meu orgulho, desculpa pela falta dele, desculpa por ter me atrasado para o nosso encontro aquela vez, desculpa por ser falha. Desculpa por existir.

Estou chorando de novo.

- Annabeth... - Percy murmura o meu nome e eu queria dizer a ele que eu não mereço o que ele está fazendo por mim, não mereço meu nome ser pronunciado com tanto cuidado.

- Desculpa. - Peço mais uma vez e alguma coisa parte dentro dele, por quê ele me olha como se entendesse?

- Nunca será sua culpa, nada do que você pensou, nunca será sua culpa. - Ele diz se aproximando da cama e se abaixando um pouco, deixando as mãos sobre o meu joelho e eu me lembro de quando me abraçou, no meio da pista de gelo. Eu queria que ele me abraçasse e fizesse juntar todos os pedaços que eu espalhei, um por um, estou tão carente e triste que aceito ajuda de uma pessoa que conheço faz duas semanas.

- Percy. - chamo seu nome e ele me olha com atenção, esperando que eu continue. Ficamos vários minutos apenas nos olhando, apenas reconhecendo um ao outro. - Patina comigo.

- Agora?

Assinto uma vez.

- Vamos.

E ele se levanta, me levando com ele para algum lugar que fosse atender o meu pedido as cinco e dezoito da manhã.

Wonder | PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora