Wonder | Percabeth

Capítulo XXVII

PERCY

- Você não deveria se preocupar tanto comigo. - Estelle diz afastando uma das mechas platinadas de seu cabelo e eu estava consciente de que estava sonhando. Era estranho, como sempre que eu sonhava com ela, eu sabia que era um sonho. Acho que simplesmente parei de fingir que havia chances dela volta.

- Ainda é minha irmã, não é? - digo olhando em direção ao mar, a poção do mundo que eu dividia com ela dentro dos nossos olhos e em seguida, olho para minha irmã, em meus sonhos ela era sempre muito mais tranquila do foi em vida. - Sinto sua falta.

Ela me olha e parece surpresa com minha constatação, como se fosse algo grande eu estar sentindo sua falta e não algo que acontecia diariamente, ela simplesmente sorri, as covinhas aparecendo em suas bochechas enquanto os seus pés se afundavam na areia da praia.

- Eu gosto dela. - Estelle diz enrolando uma mecha castanha entre os dedos e eu assinto em silêncio, sabendo de quem ela estava falando. - Você está sempre rindo quando está com ela. Conte a ela sobre mim, Percy, conte como você foi minha pessoa favorita até meu último suspiro.

Antes que eu tivesse a oportunidade de responder, eu sinto o meu próprio corpo me traindo ao querer me acordar justo agora. Assim que pisco os olhos devagar, fico consciente do calor do cobertor ao redor do meu corpo e como o meu rosto afundava no travesseiro, me trazendo a sensação de sonolência e um pouco de cansaço, meu corpo não estava da melhor forma possível por conta da fadiga que submeti o meu corpo e definitivamente me sentia devagar por conta dos remédios que tive de tomar. Não me importava muito, eu normalmente evito conversar depois de sonhar com Estelle, olho em direção ao porta retrato na cômoda ao lado da minha cama e deixo um suspiro audível me escapar, no mesmo momento, enrijeço na cama ao notar uma movimentação no colchão.

- Está acordado? - Olho em direção a dona da voz por cima do meu ombro e uno um pouco minhas sobrancelhas, confuso com a sua presença. Ela dá risada. - É tão ruim assim eu ser a primeira pessoa que você vê depois que acorda?

- Não é isso. - respondo baixo, minha voz ainda rouca por conta do sono e falta de uso recente. - Achei que já teria ido embora.

- Decidi me certificar que você ficaria bem, me sinto um pouco responsável por seu bem estar agora.

- Não foi sua cul...

- Não acho que foi minha culpa. - Ela me interrompe, arqueando um pouco as sobrancelhas loiras enquanto se apoiava em sua mão, ela estava sentada em minha cama até o momento. - Mas você é meu parceiro, preciso que fique bem.

Reviro os meus olhos e me viro na direção oposta a ela, olhando novamente em direção ao retrato de Estelle, ouço ela se aproximar e acho que vai fazer alguma piada, mas muda de ideia ao prestar atenção no que estou olhando. A observo pelo canto do olho e percebo que ela aperta os lábios antes de simplesmente se deitar ao meu lado e me abraçar por trás, enquanto apoiava o queixo em meu ombro. Aquele simples gesto faz com que algo em mim relaxe instantaneamente, uma tensão que eu não percebi se formar.

Ficamos em silêncio por alguns minutos e não é desconfortável, pelo contrário, gosto desse tipo de silêncio e o aproveito ao máximo, me lembrando de repente das palavras de Estelle em meu sonho: Conte a ela. Eu não sei porque decido ouvir a imagem da Estelle criada totalmente por conta da minha culpa e tormento, mas quando vejo, a frase já havia escapo por minha boca, as palavras que eu normalmente guardaria para mim depois desse tipo de sonho. As vezes, acho que por já ter visto um lado muito frágil de Annabeth, isso me da alguns impulsos de conversar com ela, de saber que existe uma espécie de compreensão ali, dentro dela, por trás de todas as piadas, sorrisos e encantos, nós dois parecemos compartilhar algo semelhante debaixo das nossas peles. A dor.