Capítulo III

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ANNABETH

Entro na arena com os meus patins nas mãos e observo que o local estava vazio, arqueio um pouco minhas sobrancelhas e percorro meu olhar pelo local, encontrando Jackson apoiado contra a divisória de vidro que separava o público do gelo, estava distraído o suficiente para nem perceber que eu havia entrado. Coloco meus patins em silêncio e quando piso no gelo, sua atenção automaticamente se desvia para minha direção. Ele ergue uma das mãos em forma de cumprimento.

- Pretende fazer a arte de invadir a arena uma rotina? - questiona quando me aproximo o suficiente para ouvi-lo e eu ergo os meus ombros.

- Talvez, vocês tem alguns metros quadrados a mais que nós da patinação e agora que o capitão do time está considerando uma proposta minha, preciso vir aqui para conferir se ele aceitou. - Ele dá uma risada de escárnio, negando com a própria cabeça.

- Então não conseguiu fazer seu parceiro mudar de ideia.

- Na verdade, eu disse para ele que eu não precisava mais da ajuda dele. - Olho em direção ao gol, que de repente, me parecia muito interessante.

- Como assim ajuda? Não estava patinando com um dos caras da patinação? - ele pergunta se virando um pouco em minha direção agora e eu nego com a cabeça antes de responder.

- Ele patina desde pequeno e é muito bom, mas não faz parte do time de patinação. Na verdade, ele faz parte do time de futebol americano e, por acaso, é o meu namorado também.

- Seu namorado tem deixou na mão de última hora? - Ele franze o cenho, quando não responde, xinga baixo antes de falar de novo. - Que merda, namoros são realmente complicados as vezes...

- Essa é a parte que você diz: "Por isso não namoro ninguém"? - pergunto olhando para ele e ele apenas dá risada.

- Eu não namoro porque não conheço ninguém que eu queira que seja minha namorada. - De repente, ele fica um pouco mais sério e suspira pesado, se encostando no vidro de novo. - Posso pedir um conselho completamente aleatório e que não tem nada haver comigo?

- Hm... Pode, acho que pode, se eu te aconselhar você aceita ser meu parceiro? - Sorrio o mais doce possível e ele apenas estreita um pouco os olhos em minha direção.

- Vou pensar no seu caso. Tem uma garota...

- Você está apaixonado? - pergunto sorrindo mais ainda e ele dá um peteleco em minha testa, me fazendo levar a mão até a mesma automaticamente.

- Não. Tem uma garota que eu fico a alguns meses e uma amiga tem dito que eu preciso parar, porque a tal garota está apegada e tal... E eu não quero nada.

- Que babaca. - falo automaticamente e antes de continuar, ele me olha emburrado e cruza os braços sobre o peitoral.

- Esquece. Já terminou as conclusões pelo visto.

- Ei, calma. Pode tentar explicar o resto, sabe?

- Por quê? Se você já deduziu por conta própria o que acontece entre Calipso e eu. - Parece que o buraco desse assunto era bem mais embaixo do que Jackson sai admitindo por aí. O tom cansado disse o suficiente sobre.

- Calipso? Oh, eu conheço de vista, muito bonita. Vai, pode falar, prometo que fico calada enquanto escuto. - O solto suspirar e quando percebo que vai continuar, faço nota mental de ficar quieta para escutar.

- Eu já tentei, mas meio que... De alguma forma ela sempre acaba na minha cama de novo, se você me entende. - Ele passa os dedos pela nuca de forma nervosa. - Fazia um mês que mal nos falávamos, achei que dessa vez era definitivo, ai ela apareceu lá em casa, uma coisa levou a outra...

- E vocês transaram de novo. Isso porque não tinha nada haver com você, por quê não simplesmente diz "não" se não tem interesse de levar pra frente e sabe que ela sente algo? - Ele me oferece um sorriso de culpa.

- Carne fraca? - Dou um tapa em seu braço. - Ei! Eu tentei, certo? Mas dessa última vez não deu, por isso minha agenda é cheia, quando o Jason me disse o que achava eu comecei a encher minha semana de compromissos para desse a entender que eu não tinha tempo para ninguém, depois disse a ela que não queria nada e mesmo assim ela insiste. E ontem teve uma brecha no meio das coisas que planejei e ela apareceu, eu não transava fazia tempos, estava acumulado, beleza? Desculpa se o carinha debaixo levou a melhor.

- É uma justificativa horrível. - Ele revira os olhos. - Mas sei como é não conseguir afastar alguém.

Eu não consigo afastar o meu namorado, por exemplo, basta um sorriso ali e umas flores aqui que eu já acho que pode dar certo de novo. Mesmo consciente disso, eu quero que dê certo, eu quero perdoá-lo. Eu quero aquela pessoa que ele era no início.

- Tive uma ideia. - digo de repente e ele me olha gesticulando para que eu continue a falar. - Se começar a treinar para se apresentar comigo, sua agenda estará ocupada e mesmo quando ocorrer esse tipo de situação, você pode inventar um treino na hora e eu treino com você para sustentar isso, o que acha?

- Você não vai mesmo desistir disso, né? - ele pergunta de forma monótona, mas eu podia ver que ele estava considerando a ideia, que era tentadora para ele, depois de longos segundos em silêncio, ele finalmente fala algo. - Chase, você sabe que pode dar errado, né? Tipo, eu nunca fiz patinação artística e é o seu futuro...

- Eu sempre terei o próximo ano. - Digo com uma convicção que eu não sentia, eu não queria que minha chance se transformasse em "no próximo ano". - E sou eu quem estou pedindo, tenho dois meses e duas semanas, vamos usar as duas primeiras semanas para ver como você se desenvolve e tiramos conclusões melhores a partir dai. Eu ganho um parceiro, você evita ser mais babaca ainda com a garota e ficamos bem, o que acha?

Estendo a mão em sua direção e ele demora tanto para apertar de volta, que penso que ele havia reconsiderado e desistido completamente da ideia que era um pouco absurda, mas tinha alguma coisa dentro de mim gritando que poderia sim ser uma boa.

- Temos um acordo, então. - Ele aperta minha mão com um sorriso pequeno nos lábios e eu sorrio para ele.

- Precisamos arrumar patins ideais para você, jogador de hóquei.

Wonder | PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora