🐾TRÊS🐾

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Era domingo de manhã e eu não tinha nada para fazer. Meu turno começaria à meia-noite na lanchonete e iria até às seis da tarde de segunda-feira. Quando cheguei em casa verifiquei a secretaria eletrônica e vi que Alicia, uma das minhas empregadoras, havia me ligado. Retornei no mesmo instante e não passado muito tempo ela me atendeu.

— Oi, Brianna?

— Sim, sou eu dona Alicia.

— Ah querida, preciso te pagar lembra?! E preciso da sua ajuda. Meu marido me avisou de última hora que minha sogra vai chegar amanhã e eu preciso de uma faxina geral. Não se preocupe, eu te pagarei bônus por ser domingo e por não ter agendado, por cortesia do meu marido...

— Fique tranquila senhora — sorri, eu precisava mesmo daquele dinheiro. — Eu estarei aí em meia hora.

O dia foi cansativo. Dona Alicia tinha uma casa grande com quatro quartos e três banheiros, além de sala, copa, cozinha, corredores e sótão. Eu estava cansada quando sai da casa finalmente limpa. Pelo menos eu tinha recebido o salário que eu estava precisando para comprar comida!

Passei no mercado e depois fui para casa com sacolas pesadas e com as costas doendo. Fiz bifes, purê de batatas e ovos cozidos, eu estava cansada para fazer um prato mais elaborado. Depois de comer, tomei um banho merecido e me joguei na cama.

Meu alarme tocou às onze horas, se eu contara bem, havia tido quatro horas de sono. Me levantei ainda cansada e vesti o uniforme brega e colorido, prendi o cabelo deixando a franja cair sobre os olhos e passei a maquiagem levemente. JáJá na porta, peguei meu casaco grosso, gorro e minha bolsa.

Estava muito frio do lado de fora, mas eu adorava ver as silhuetas de vapor que saiam de meus lábios. Com as mãos dentro dos bolsos e apertando o casaco contra minha pele, não demorei muito mais do que o necessário na caminhada até o trabalho, levando apenas oito minutos para chegar até lá.

Lara já estava no lugar de sempre mexendo no seu celular distraidamente e apenas olhou para mim quando a porta da frente da lanchonete foi aberta e o sininho soou.

— Amiga, você nem acredita no que eu consegui — deu gritinhos de alegria.

— Boa madrugada pequena — dei um beijo na sua testa e guardei a bolsa no gancho junto com o casaco. — O que você conseguiu?

— Dois ingressos para um show — sorriu mostrando as covinhas.

— Que show? — fiz careta tentando entendê-la.

— Eu não sei — Ela riu —, ganhei num sorteio. — deu de ombros e foi a minha vez de sorrir.

— Me avisa quando descobrir.

Peguei um vidro de spray com álcool e um pano e fui limpar as mesas. Recolhi os pratos sujos em uma bandeja e levei para Paul na cozinha. Enquanto estava limpando o balcão e a vitrine de salgados e doces, Lara continuou a falar:

— Aliás, um rapaz passou aqui hoje a sua procura...

Fiz careta e levantei bruscamente.

— Que rapaz?

— Ele não disse o nome, mas era gato — sorriu de canto. — Você não me contou que tinha conhecido um cara gato!

— Mas eu não conheci nenhum! Além do mais, quando eu tenho tempo para sair e conhecer pessoas?

— Verdade, acredito em você! — Ela deu uma pausa. — Mas ele trouxe isso. — Me entregou o crachá que Titan havia roubado. — Na real, ele só perguntou se tinha alguma Brianna que trabalhava aqui e me entregou isso já que eu disse que você não estava, mas ele pareceu decepcionado e foi embora...

Segurei o crachá e brinquei com ele entre os dedos. Era estranho como um crachá roubado por um cachorro voltou para mim por um desconhecido gato. Talvez Titan o tivesse derrubado do outro lado da rua na sua correria e esse homem o encontrou, era muito mais provável. Coloquei a peça no peito e voltei a limpar o balcão.

— Deve ter sido só uma coincidência —  respondi para Lara.

— Queria eu ter coincidências louras na minha vida também — comentou como quem não quer nada.

Me levantei novamente.

— Ele era loiro? — Lara sorriu.

— Rá! Eu sabia que você tinha queda por loiros! — Ela riu e eu revirei os olhos. — Mas sim, ele era loiro, um loiro meio ruivo eu acho. Não sei dizer, passei muito tempo encarando aquele terno cinza xadrez... Cara, como homens de terno ficam tão musculosos?

Eu gargalhei e ela me acompanhou.
Conversamos por algum tempo até o turno de Lara acabar e ela ir para casa descansar. Liguei a televisão da lanchonete e me sentei do lado do atendente no balcão. A verdade é que não era muito lucrativo uma lanchonete vinte e quatro horas nessa época do ano. É claro que os turistas tendem a gostar de viajar mais em finais de ano, mas ainda não estava perto do Natal e a lanchonete estava vazia.

Pude limpar o chão e passar pano, depois limpei as janelas e troquei uma lâmpada quebrada no banheiro. Ajudei Paul no preparo dos cookies e depois lavei a louça, e ainda era três da manhã quando terminei.

Decidi trocar os lixos e varrer a calçada da frente. Estava tudo tão limpo e ainda não tinha nada para fazer. Sete horas da manhã eu já havia desistido de tentar, então me sentei novamente no balcão e liguei o rádio.

— É impressionante como você não faz nada de útil garota! — Francesca começou com seu repertório matinal.

— "Queria ver madame aqui no meu lugar, eu ia rir de me acabar..." — cantarolei.

— O que você disse? Fale no meu idioma quando estiver comigo, abusada.

— Era apenas uma música — coloquei um sorriso no rosto para irritá-la. — Não se preocupe titia, não vou abusar da sua hospitalidade, com licença, vou limpar o chão que você acabou de pisar, está fedendo a cocô de cachorro — tampei nariz sorrindo e ela, com os olhos arregalados, olhou para os pés assustada.

— Eca, eca, eca, eca — saiu correndo aflita para o banheiro feminino.

Fiquei rindo e joguei um produto no chão, o esfreguei e depois passei pano. Eu deveria agradece-la, finalmente eu tinha algo para fazer.

𝙏𝙞𝙩𝙖𝙣, 𝙤 𝙘𝙖𝙘𝙝𝙤𝙧𝙧𝙤 𝙘𝙪𝙥𝙞𝙙𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora