𝙏𝙞𝙩𝙖𝙣, 𝙤 𝙘𝙖𝙘𝙝𝙤𝙧𝙧𝙤 𝙘𝙪𝙥𝙞𝙙𝙤

🐾QUINZE🐾

Levi e eu fomos até o Mich's depois de sair do seu trabalho. A cidade estava iluminada por um sol tímido e frio, o vento estava forte e eu estava com o mesmo vestido do dia anterior.
 
O Mich's tinha um ambiente quente e aconchegante, cheirava a café e bolo e estava com lotação média.
 
Mas como sempre, a mesa nove estava vazia. Olhei-a por alguns instantes e sorri com carinho, era hora de fazer novas tradições. Me juntei a Levi e Titan na mesa treze e logo um bule de café foi deixado na nossa mesa por Ramallo.
 
— Eu conheço vocês dois. — explicou o ato de deixar o bule sorrindo e me deu um beijo na testa antes de seguir para atender as outras mesas.
 
— Ele é um homem muito bom. —  Levi comentou e eu tive que concordar.
 
— Ele é uma das melhores pessoas que conheço, é um segundo pai para mim... — acrescentei e estiquei o braço para me servir de café.
 
— Negativo senhorita, eu estou aqui para servi-la.
Ele pegou o bule da minha mão e nos serviu o café.
 
— Negativo senhor — rebati —, se quer que isso funcione, não me coloque nesse pedestal.
 Acrescentei leite ao seu café e ele sorriu.
 
— Do jeitinho que eu gosto.  Obrigado, Brilove!
 
— De nada, Lovi — pisquei e nós rimos dos apelidos recém criados.
 
Apoiei minhas costas na cadeira e observei enquanto Levi abria o computador. Ele ficava tão lindo concentrado, seus olhos se estreitavam para ler e os lábios eram contraídos pela concentração, um vinco se formava entre suas sobrancelhas e, de vez em quando, ele piscava várias vezes para recuperar o foco.
 
— Tudo bem, vamos começar pelo básico — Levi me olhou por cima dos óculos — finja que eu sou uma velha rabugenta, ok?
 
— Vai ser difícil, mas ok.
 
— Nome completo? — Ele imitou a voz de uma velha e eu contive o riso.
 
— Brianna Savoia — respondi profissionalmente.
 
— Quando a gente se casar, Brilinda, eu vou querer aderir ao seu sobrenome, Sharman é muito sem graça... — comprimi os lábios e Levi sorriu — Tudo bem, idade.
 
— Vinte e dois anos.
 
— Altura?
 
— Um e setenta e cinco — receosa, perguntei: — Eles perguntam isso mesmo?
 
— Não todas as perguntas, eu estou fazendo algumas também... Sabe, já me ensinaram a aproveitar o que eu tenho.
 
— Você abusa muito do seu poder.
 
Levi apenas sorriu de canto e prosseguiu com as perguntas.
 
— Estado civil?
 
— Solteira.
 
Ele estreitou os olhos em minha direção.
 
— É mesmo?
 
Assenti com a cabeça, comprimido o sorriso. Pelo visto, Levi era ciumento também.
 
— Vamos mudar isso agora então. — Ele disse.
 
Olhei com dúvida na sua direção.
— Por favor, Ramallo — Levi chamou o adorável garçom, que chegou rapidamente.
 
— Mas já acabaram o bule de café?
 
— Não Ramallo — Levi riu — O senhor poderia trazer dois daqueles pirulitos em forma de anel? Um de abacaxi e outro de morango... Por favor? — Ramallo ficou confuso mas trouxe os pirulitos.
 
Observei com atenção a cena.
 
— Obrigado — Levi se virou para mim — Brianna Savoia, você aceita namorar comigo?
 
Estendeu o anel na minha direção e segurou minha mão.
 
— Isso tudo por causa do meu estado civil? — Me apoiei sobre a mesa.
 
— Talvez...
Eu ri.
 
— Tudo bem Lovi, eu aceito namorar com você. — Levi abriu um sorriso de orelha a orelha.
 
— Que respostinha mais mixuruca minha filha — Ramallo colocou a mão no meu ombro e eu ri.
 
— Eu sei, mas já que o senhor falou, eu vou fazer agora o que pretendia fazer mais tarde — pisquei para ele, que sorriu.
 
Tirei da minha bolsa o relógio, o famoso relógio do meu pai, aquele que mamãe tinha dado a ele quando ainda eram namorados. Observei a peça por um instante, a pulseira de couro marrom contrastava com o relógio prata de fundo preto. Às vezes, eu ainda sentia o perfume de papai, que ficou impregnado no couro. Mas como eu havia dito antes, estava na hora de começar novas tradições.
 
— Esse era o relógio do meu pai, Luigi Savoia. Tem até as iniciais marcadas atrás, junto com uma frase... Ironicamente se encaixa com o seu nome... — sorri e estendi o objeto para Levi, que o observava sério. — Ele não funciona mais, talvez funcione se trocar a pilha... Mas é muito importante para mim e eu quero que fique com você...
 
— Eu não posso aceitar... Isso é muito importante... — desviou os olhos do objeto e me entregou de volta.
 
— Você é mais importante, isso é só um objeto, não vou levá-lo comigo quando morrer, assim como meu pai não levou. Mas eu sei que tem muito amor ai dentro e que papai gostaria que ficasse com você... Não é Ramallo? 
 
— Com certeza!
 
— Por favor, aceite — insisti entregando o relógio na sua mão. — Aí está a resposta para a sua pergunta.
 
Levi pegou o relógio com carinho e desenhou com os dedos o seu contorno.
 
— "In me c'è un tempo che si ferma, in cui aspetterò sempre il tuo ritorno" — Levi leu a frase talhada no verso do relógio.
 
— "Em mim existe um tempo que está parado, no qual eu vou estar sempre te esperando regressar." — traduzi e os olhos de Levi lentamente se encheram de lágrimas.
 
— Eu não sei o que dizer... Esse relógio foi o primeiro presente que ganhei e já virou a coisa mais preciosa que eu tenho, além de você, é claro... — Ele se esticou sobre a mesa e me deu um beijo na testa — Obrigado, Brilinda.
 
Titan latiu, chamando a nossa atenção.
 
— Você também é precioso para mim, seu fujão. — Levi bagunçou os pelos do cachorro, que lambeu a sua mão em agradecimento por ser incluso no discurso.
 
— Agora, uma rodada de batatas-fritas grátis em homenagem ao casal! — Ramallo gritou e todos os presentes do restaurante nos aplaudiram.
 
Ramallo nos deixou a sós e Levi cochichou baixinho.
 
— Sabe, BriBri... Eu estava pensando numa coisa... Apesar de saber que iria me apaixonar por você logo que vi seu crachá no meu sofá... — Ele deu uma pausa e falou para Titan. — Aliás, obrigado por isso amigão! — Titan deu um latido e Levi voltou seu olhar para mim. — Agora, eu tive a certeza de que te amo desde o momento em que você chegou e isso aumenta cada dia mais... Obrigado, Brianna, por devolver o meu cachorro e, obrigado por ter trazido o amor para a minha vida.