🐾NOVE🐾

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Patinhas, uivos e pulinhos me separaram de Levi. Olhei para baixo, para a pequena bolinha peluda que implorava por atenção.

— Você quer beijinhos também? —  perguntei em voz infantil e o rabo de Titan balançou freneticamente.

O peguei em meu colo, ignorando o peso do animal, dei vários beijos em seu pequeno rosto, assim como uma vó que beija os netos.

Animado, Titan distribuía lambidas no meu rosto como gesto de retribuição.

— Vocês vão me deixar de fora? — Um Levi com olhar triste e beicinho se manifestou.
Titan deu uma lambida do seu queixo até a testa, deixando Levi irritado e eu gargalhando.

— Acho que vou ter que pedir para usar o seu banheiro.

Passou a mão no rosto limpando a baba de Titan então continuou:

— Estou com saliva canina até dentro dos olhos — resmungou sem perder o seu típico humor.

Abri a porta ainda rindo e Titan pulou direto para o chão, correndo em direção ao pote de água, Levi foi até o banheiro e eu tirei as sandálias.

Satisfeita com a sensação do encontro dos pés descalços com o assoalho de madeira e o relaxamento que isso proporcionava, fui até a cozinha, lavei as mãos e preparei café.

Sim, sim e sim, eu sou viciada em café.
Mas minha dieta não se baseia só nele, apesar de fazer parte da maioria.

A água borbulhava em fervura, e eu a observava distraidamente, pensando em tudo o que aconteceu em duas semanas.
Um cachorro que só falta usar asas e arco e flecha, um homem que derrete qualquer barreira que meu coração nem pensou em ter ainda. Jantares, interações, beijos...

Meu Deus, eu nunca havia beijado ninguém!

O curioso é que eu soube exatamente o que fazer quando ele me beijou...

Eu estava reparando, apenas agora, que eu havia perdido dez anos da minha vida para Francesca. Ela me privou de amor, amizade, conhecimento e crescimento.
Sempre fui muito grata pela minha vida, pelas minhas conquistas, mesmo que pequenas, mas agora eu começava enxergar que eu merecia algo melhor. Merecia poder estudar, merecia poder correr atrás dos meus sonhos, merecia poder amar, eu merecia o poder da escolha.

Não digo que não vou pagar as dívidas, longe de mim! Elas fazem parte da minha história, é questão de honra e respeito, por tudo o que meus pais passaram para cuidar de mim. É princípio!

Eu só não posso me prender a elas.
O que vai ser de mim quando tudo isso acabar? Vou ficar sem emprego, sem estudo, sem rumo? Sem histórias, sem companhia, sem nada? Meus pais não iriam querer isso, e nem eu quero.

Decidi que a partir daquele dia, eu lutaria pela minha vida!

Eu faria uma faculdade, nem que fosse pela internet, eu veria outras opções de emprego e pagaria minhas dívidas sem me submeter àquelas humilhações que Francesca adora, eu me daria o luxo, pela primeira vez na vida, de controlar o meu caminho.

Essa é a minha decisão.

— Bri? — Levi se aproximou por trás, apoiou o queixo no meu ombro e me abraçou pela cintura — A água...

Olhei para o bule pela metade, a água havia evaporado quase que completamente. Desliguei o fogo e coloquei o café para coar.

Ainda sentindo a respiração de Levi no meu pescoço, deslizei entre seus braços ficando frente à frente com ele.

— Que intimidade é essa? — O provoquei com o olhar, ele sorriu e retirou os braços da minha cintura, se afastando.

Nos encaramos por um tempo, sem dizer nada.

— O que está pensando? — perguntou.

— Que eu não gosto muito de você — Ele sorriu.

Qual era o problema daquele homem? Ele gostava de provocações ou de ser rejeitado? Apesar de divertido, eu queria muito saber.

— Você não gosta é de gostar de mim.

— De onde você tira toda essa confiança?

— Ergui a sobrancelha, surpreendida. — Você é muito metido!

Ele mordeu o lábio inferior na tentativa falha de esconder o sorriso.

— E irritante, meu Deus, como você é irritante!

— Não estou sendo metido, mas vamos pensar juntos: se eu te tiro do sério e te deixo incomodada, por que você ainda não me mandou embora?

Fiquei calada.

Eu nunca fui do tipo de mandar pessoas embora ou expressar qualquer tipo de autoridade, muito menos cometer uma ação que pudesse magoar alguém.

Levi interrompeu meus pensamentos.

— Você gosta de mim. — Não era uma pergunta, era uma afirmativa.

— Eu gosto do Titan, não te mandei embora por causa dele.

Servi o café nas canecas.

— Mas já que você me deu a liberdade de te mandar embora... Ou toma o café sem provocações ou vai embora.

Ele sorriu mostrando as covinhas.

— Você fica tão fofa brava. — apertou a pontinha do meu nariz — E tão linda...
Dei um passo para trás.

Mas que diabos ele estava fazendo comigo?

Era muito difícil não cair nos encantos daquele homem, era bomba atrás de bomba, eu realmente estava pensando em aceitar aquele maldito pedido de casamento e guardá-lo dentro do meu guarda-roupa.

— Você ainda não quer se casar comigo?

— O que você faria se eu aceitasse?

Foi a vez dele de dar um passo para trás.

Enquanto Levi pensava, fui até o meu quarto e coloquei o moletom de mais cedo. Encontrei uma surpresa canina na minha cama, dormindo como um bebê. Decidida a não incomodá-lo, tentei pisar sem fazer barulho no assoalho de madeira.

Quentinha e confortável, voltei para a sala onde Levi estava com um prato com croissants e os cafés sobre a mesa de centro.

— Você tem razão, eu fui precipitado — Ele me olhou sério. — Você deve ter um péssimo humor de manhã... Imagina acordar com uma velha chata de manhã... Misericórdia!

Eu ri e dei um empurrão em Levi, que riu junto comigo.

— Você não existe! — falei entre risos.

— E você é linda.

Ele deu um beijo na minha bochecha e pegou um croissant. Eu liguei a televisão e assistimos um filme, até às dez hora mais ou menos. Depois Levi foi embora acompanhado de Titan, que me deu uma lambida de boa noite.

𝙏𝙞𝙩𝙖𝙣, 𝙤 𝙘𝙖𝙘𝙝𝙤𝙧𝙧𝙤 𝙘𝙪𝙥𝙞𝙙𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora