Raamiah

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°●°●°●°●°●°●°●°●ELLORA●°●°●°●°●°●°●

Olhei ao redor, A Casa da cidade, foi o nome que Azriel usou para se referir aquele local, haviam mais duas fêmeas lá.

"Estás são Nestha e Elain, minhas irmãs." Anunciou a Grã-senhora.

A fêmea, que presumi ser a mais velha das irmãs, tinha uma postura intocada e os cabelos estavam presos em uma coroa de tranças, Cassian se pôs ao lado dela, e eu percebi a tensão ali, ela curvou a cabeça em comprimento e eu repeti o gesto. A outra ao seu lado, tinha os cabelos soltos em ondas, um castanho mais claro que os das outras irmãs, seu sorriso era gentil e eu também dei a ela o meu sorriso gentil em resposta. A mais velha pareceu relaxar um pouco.

Cada um deles tomou um lugar a mesa, mas nenhum deles se sentou na ponta. Pela primeira vez em séculos me senti insegura, as mãos largadas ao lado do corpo, o desconforto de estar sendo avaliada.

"Ellora, pode se sentar nós não mordemos, a não ser que você peça." Disse Cassian.

"Você precisa mudar sua frase de efeito Cassian, está ficando repetitivo." A Grã-senhora falou, enchendo uma taça de vinho no lugar vazio a sua frente e ao lado de Azriel. Eu me forcei a ir até lá, as sombras quietas ao meu redor.

"Elas parecem gostar muito de você, mesmo afirmando não ser uma encantadora de sombras." Amrem, aquela que um dia foi um ser que pertencia a outro mundo, se pronunciou e eu senti a pergunta naquela frase.

"Encantadores, sejam eles escolhidos ou nascidos com o dom, podem controlar as sombras, eu apenas entendo elas e sou uma amiga."

"E como descobriu que podia entende-las?" Azriel perguntou ao meu lado.

"Eu tinha saído para voar e brincar, como sempre fui uma criança curiosa acabei me enfiando em uma caverna, só que eu me perdi e estava escuro, até mesmo para minha visão, lembro de me sentar e chorar, eu estava tão apavorada que comecei a cantar para me acalmar, foi quando senti elas se arrastarem e girarem ao meu redor após um tempo percebi que elas estavam cantando comigo, falando, e eu só...pedi ajuda e elas levaram minha mensagem até o encantador mais próximo. Desde aquele dia elas continuaram vindo até mim e eu indo até elas." Eles me olhavam de forma confusa então expliquei. "Pedir e mandar são coisas diferentes, elas me ajudaram por que quiseram e não por que eram obrigadas a isso, não sou encantadora de sombras." 

Olhei para a irmã mais nova, Elain, que agora vinha da cozinha com as duas espectros que eu tinha sentido alguns minutos antes. Agradeci as espectros, quando colocaram algumas comidas na mesa, mas quando a irmã se aproximou eu senti o cheiro do laço, e entrei em choque.

"Pela Mãe!" Exclamei baixinho. "Você é... é a parceira dele, de Lucien. Ele sabe? Quer dizer...Maldito Caldeirão, Alguém aqui sabia disso?"

"Sim, todos sabem e ele também, achei que fossem próximos ele nunca contou a você?" Rhysand perguntou, e um nó se formou em minha garganta, sim nós éramos amigos, mais que isso ele era como um irmão, todos eles, mas quem sou eu para julga-lo por esconder isso? Eu também escondi tanto dele, por vergonha e medo. E agora estava prestes a revelar tantos desses segredos para aquelas pessoas, e os motivos eu não conseguia entender, eu não queria entender.

"Eu sabia que ele tinha uma parceira, senti o cheiro dela, mas não, ele jamais me falou que a irmã da Grã senhora da corte noturna é sua parceira, eu até mesmo pensei que ele ainda não tinha a conhecido."

"Você sentiria o cheiro? Se nem mesmo ele tivesse sentido o laço ainda?" Cassian perguntou, e Azriel enrijeceu.

"Como expliquei ao encantador, meus sentidos são mais avançados que a de um Grão-feerico, então sim eu poderia, mas seria difícil de reconhecer que o cheiro vem de um laço, se eu já não estiver familiarizada com o cheiro do feérico." Coloquei algumas coisas no prato e me forcei a comer e desmanchar o bolo de tristeza que ainda queimava e tapava minha garganta.

"Ellora." O Grão senhor chamou minha atenção. "Tem algo acontecendo, algo que pode ou não por em risco tudo que lutamos para proteger, e você sabe de algo, não acho que Azriel explicou de que se trata este jantar, mas sei que você já entendeu."

"Sim, mas não sei se posso dar a vocês o que querem de mim, nem mesmo acho que eu tenha isso."

"Aceitamos qualquer informação, queremos sua ajuda mas não sabemos nada sobre você, o por quê de você ser diferente dos outros feéricos, ou de onde você veio, só sabemos que precisamos da sua ajuda e você precisa da nossa." Feyre falou.

Eu queria negar, mas eu precisava, eu precisava da ajuda deles, e eu queria ajudá-los. Então falei;

"Dois machos se casaram, mesmo que o mundo tivesse reprovado tal ação, não reprovaram pelo o amor que eles sentiam, mas sim pelo o que aquilo traria, pelo o que eles representariam a partir do momento que se unissem, decididos a provar aqueles que os reprovavam que não precisavam temer, eles planejaram um presente, uma benção."

Me lembrei de uma canção, aquela que era cantado para mim na intenção de me fazer dormir mas que trazia o efeito contrário.

Nas águas sagradas
Dois reis sangrara
Feita de luz, feita de raio
A que pertence o presente? Perguntaram
A terra que usaram, oh povo sagrado

Abençoada seja então a pequena criação.
E que nome eles deram a criatura então?
Um nome ganhou, mas Raamiah o povo clamou
Oh Deusa do trovão.

Eu me forcei a apagar aquela memória e prossegui. "Eles acharam o objeto que criou os mundos, e derramaram duas gotas de sangue cada, junto com um punhado e dois grãos da terra a qual pertenciam, eles rezaram para o objeto todos os dias durante nove meses, até que no último dia de oração uma forte luz saiu do Caldeirão e eles tiraram uma menina de lá, e chamaram ela de Ellora...A herdeira do trono de Vallahan.

Estremeci quando aquelas palavras, aquelas palavras malditas saíram da minha boca, por que elas eram reais, e durante tantos anos eu não me permite falar elas, mesmo agora eu não conseguia pronunciar as palavras como se não fossem apenas uma história, mas eram reais, por que eu era a herdeira, aquela que eles acreditavam ser uma benção.

Eles cultivam você como uma benção, lhe chamam de Deusa, mas você é um pecado minha doce Ellora, você é uma maldição, nascida da magia que é tão suja quanto você e seu povo maldito.

 Me lembrei de sua voz em meu ouvido. Tolos, eram todos tolos e eu era a pior entre eles.
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1100 palavras

•Ellora- significa "rainha das fadas", "resplandecente" ou "reluzente". Origem: Celta

Raamiah Nome bíblico que significa "Trovão".

A Corte de Sombras e Verdades- AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora