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AZRIEL

  Desde o momento em que pisamos na vila Ellora se manteve calada e distante, parecia evitar olhar nos olhos daqueles que passavam por nós e eles não se importaram com a nossa presença, apenas um ou dois olhares foram direcionados a mim e minhas asas. E Azriel também olhou muito para eles, fêmeas  e machos pequenos e de aparência peculiar que variavam de tons entre azul e verde, mulheres ainda menores que voavam por ai apressadas zumbindo em seus ouvidos, eram tantas espécies que Azriel nem mesmo sabia da existência, todas ali reunidas em um só lugar e convivendo bem entre si. Ele gostaria de ver como é aquele lugar sem o clima pesado da pobreza e da fome. 

"Illyrianos não são comuns em Vallahan, por isso eles olham duas vezes para você." Ela sussurrou para mim, fiquei em silencio por um instante como se temesse que a palavra errada a assustasse e ela não voltasse a falar.

"Eles não saem muito das montanhas." Respondi e ela pareceu notar meu receio por que roçou sua mão contra a minha levemente, um gesto que parecia dizer Estou bem, é apenas...difícil.

"Eu ouvi boatos de que existe um grupo de mulheres  ao norte do território, treinadas a séculos atrás por algumas guerreiras lendárias que decidiram espalhar seu aprendizado, alguns dizem que há refugiadas illyrianas entre elas." Ela ouvia muitos boatos, estava sempre falando para ele sobre coisas que ouviu os outros contarem.

"Você ouve muitas coisas dos outros e fala bastante sobre elas, mas fala tão pouco de você." Comentei quando paramos na porta da taverna. Ela não respondeu e hesitou para abrir a porta.

O som típico de uma taverna não existia ali, não tinham gargalhadas de bêbados escandalosos, nem conversas animadas ou musicas, ouvimos apenas o som dos copos batendo na mesa e talheres raspando nos pratos, silêncio pesado e sufocante nos puxava para aquela melancolia sem saída. Entrelacei minha mão a de Ellora, como se fosse o suficiente para mantê-la longe daquele abismo. 

"Ainda é muito cedo, devem estar com sono." Ela falou mais para si do que para mim, mas nenhum de nós acreditou.

"Venha, vamos nos sentar e pedir algo." Falei para ela, nos direcionando a uma pequena mesa no canto mais afastado do salão, mas ela fez um sinal para irmos para o outro lado onde havia uma quantidade maior de pessoas aglomeradas. Nos sentamos a mesa e franzi um pouco a testa quando vi as sombras cobrirem um pouco as mão de Ellora, enquanto ela escondia todos os guardanapos da mesa em nossa bolsa.

O salão era grande, e até agora só tinhamos visto duas garçonetes jovens mas de aparência cansada e dura, tudo estava perfeitamente organizado com mesas enfileiradas e alinhadas. Estranho estranho estranho  as sombras sussurravam. Ele já tinha frequentado tantas tavernas em sua vida que poderia dizer o que cada um pediria no balcão apenas pela forma como anda, mas ali naquele lugar tudo parecia errado, tavernas não eram tão limpas, as mesas não ficavam alinhadas, o silencio não deveria existir nesse lugar.

"Algo ruim está perto de acontecer e eles sabem disso." Ellora sussurrou, mas se calou e mudou rapidamente quando uma das garçonetes, essa de cabelos rosa um pouco desbotados e braços e pernas mais longas, as orelhas também eram bem mais pontudas que as de Azriel. 

 Ellora mantinha o capuz cobrindo o rosto, e com uma olhada ao redor ele notou que muitos também faziam o mesmo, se escondiam nas sombras. Ótimo seria mais fácil assim, ele não precisou falar nada, com um pensamento as sombras se espalharam e se esconderam junto a esses homens, ouvindo com clareza cada palavra que saia de suas bocas. 

"Vou querer um pouco de sopa e para o meu marido o prato frio que você tiver no cardápio. Ah e dois copos de suco com bastante gelo, obrigada" Ela fez o pedido com uma voz doce e apoiou sua mão sobre a minha quando fez meu pedido, Ellora também parecia estar movendo suas peças no jogo. Nada relevante estava sendo falado, eles pareciam ter medo de serem ouvidos.

A Corte de Sombras e Verdades- AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora