Camaleão

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••••••••••••••••••••••Azriel•••••••••••••••••••

Fazem dois dias que ela continua adormecida, em um sono tão profundo que nem mesmo as sombras ousaram perturbar, por fim se acalmaram, voltando a ser parte de mim.

Elas não se agitavam mesmo enquanto eu estava lá sentado ao lado daquela cama, observando a garota que possuía cabelos com um preto tão profundo que pareciam sugar a luz ao redor, e me veio a mente como aquele era um contraste perfeito com seus olhos que tinham um tom de mel brilhante que por um momento imaginei se eles eram feitos de ouro, nunca havia visto olhos como aqueles, pareciam travessos, maliciosos e antigos, mas lindos, eram lindos de uma forma que faria um macho com menos controle perder o ar e se ajoelhar aos pés de quem os possuía.

E foi com esse pensamento que eu me retirei daquele quarto e encontrei Rhys na cozinha, apoiado no balcão de forma relaxada e duas taças de vinho na mão, ele me ofereceu uma das taça, aceitei parando em frente a ele.

"Como ela está?" Ele pergunta após tomar um gole de seu vinho, um da sua adega, e então percebi que aquela não seria uma das nossas simples conversas.

"Ela ainda dorme, mas o sono parece mais leve." Ficamos em silêncio por uns estantes até que eu tomo um longo e pesado fôlego e pergunto;

"Como descobriu que Feyre é sua parceira?" Ele me olha como se já espera-se essa pergunta.

"Acho que já contei essa história mas, eu tive sonhos com ela, fragmentos, acordava com seu cheiro e quando há vi pela primeira vez eu simplesmente sabia que estávamos conectados de alguma forma, mas apenas naquela noite em sob a montanha eu tive certeza."

"Sobre a sensação, o que sentiu?"

"Primeiro era como um puxão, que me levava até ela e quando eu estava longe era quase insuportável, na noite em que percebi eu não me lembro bem, foi tudo...rápido, quando dei por mim eu estava disparando contra Amarantha com uma adaga nas mãos..."

Eu puxo mais um fôlego e me repreendo por deixar minhas emoções tão claras, achei que Rhys tivesse terminado porém ele prossegue um tempo depois, como se lembrar de Amarantha ainda o ferisse mesmo após tanto tempo.

"Mas quando o laço realmente se encaixou, enquanto eu olhava para ela tão magra e abatida naquela varanda da corte primaveril, eu fui atingido por aquela sensação de forma tão forte que eu quase caí para trás, e o cheiro dela estava por toda parte eu entrei em desespero e atravessei para cá e aquele cheiro permaneceu a sensação desesperadora de ser de alguém que pertencia a outro me consumia a cada dia."

Eu virei minha taça de vinho, bebendo tudo com apenas um gole e sentindo a queimação em minha garganta, e Rhys logo encheu minha taça novamente.

"Tem algo lhe incomodando, irmão." Não era uma pergunta, e eu queria dizer que sim, que algo me incomodava mas eu não saberia dizer oque.

"Estou bem." Ele abriu a boca para falar algo, mas parou quando Cassian entrou na sala.

"Da próxima vez que decidirem se embebedar com um bom vinho, babacas, pensem em me convidar." Cassian finge aborrecimento pega a garrafa de vinho e vira as costas, indo em direção a sala de jantar.

"Feyre continua mal humorada, deveria se esforçar mais em seus trabalhos noturnos irmão, após ela comer três fatias de torta não creio que o estresse seja fome...não de comida pelo menos."

Rhys rosna em sua direção e segue para a cozinha e nós o acompanhamos. As três fêmeas já estavam sentadas e Feyre e Mor já pareciam um pouco bêbadas, Rhys sentasse ao lado da parceira após depositar um beijo na cabeça da mesma. Me sento a sua frente como de costume e Cassian ocupa a cadeira a minha direita.

"Recebi o relatório de meus espiões na corte Primaveril e eles disseram que houve uma certa agitação por lá, pássaros fugindo na direção da corte, vindos das terras mortais."

"Pássaros? Não me parece algo muito importante."

"Eram milhares deles, eles fugiram todos ao mesmo tempo no mesmo dia, tenho tentado entrar em contado com Lucien ou Jurian mas nem mesmo meus espiões daquelas regiões respondem."

"Oque sugere?" Rhys perguntou.

"Irei até as terras mortais para descobrir oque há de errado."

"Está cometendo um erro, encantador." Volto minha cabeça em direção a voz, e lá estava ela de volta a forma humana porém curada e de alguma forma impediu que notássemos sua presença.

As sombras se agitam tão violentamente que eu perco o controle e elas deslizam em direção a fêmea que nem mesmo se move ao ver aquele mar de escuridão indo em sua direção.

"Olá, estou bem, podem parar de ser umas mães corujas e voltar a obedecer a seu encantador, ele parece ser irritadiço." Ela acaricia as sombras ao seu redor e abre um sorriso sincero em direção a elas.

Eu estou paralisado enquanto ela segue em minha direção as sombras a acompanhando, cada passo que ela dava era firme e elas pareciam abrir caminho para ela, removendo até a menor partícula de poeira. "Aqui, desculpe as vezes elas fazem isso." Ela apenas estica sua mão em minha direção enquanto as sombras desciam de se corpo de volta a mim.

"A maioria dos encantadores, aqueles de sangue, costumam manter o laço tão apertado que elas esquecem o que são e que podem pensar e agir sozinhas, mas você...é diferente. muito interessante."

Volto a respirar sem ter percebido que havia prendido o ar, ela não é uma simples grã-feérica eu já desconfiava disso mas agora eu tenho certeza.

"Porque acha que estou cometendo um erro?" A fêmea se senta na cadeira ao lado de Mor sem pedir permissão, e Amren sentada a frente dela, mantém um olhar curioso de forma que eu jamais havia visto-a direcionar a alguém ou algo.

"Seus espiões estão certos pois realmente tem algo acontecendo por lá, a magia está fraca naquela região. Os poucos feéricos que vivem lá estão voltando para Prythian." Sua voz é calma como a brisa noturna, mas ela tem um tom arrogante e ameaçador que faz todos daquela sala avaliarem cada fôlego da fêmea.

"E você sabe o porque?" Pergunto

"Ninguém sabe." Mentira. "Tentei falar com Lu, mas ele não me mandou notícias." Verdade

Ela é uma boa mentirosa, do tipo que está tão acostumado a viver entre verdades e mentiras que nem mesmo precisa pensar, a mentira se torna automática.

"Lu? Está se referindo a Lucien Vanserra?" Feyre finalmente se pronúncia.

"Sim, minha senhora, mas devo lembra-la que ele não utiliza o nome da família" Ela responde com um tom delicado, uma mudança súbita.

"Ela não é sua senhora, você não pertence a essa corte, mortal." Cassian a lembra de forma cortante. Eles travam mais uma disputa de olhares tão ameaçadores que me preparei para ver quem atacaria primeiro, porém Amrem os interrompe.

"Olhe bem menino, ela não é mortal apenas muda de pele para se camuflar como um camaleão."

Um vento gélido atravessa meu corpo e quando olho para ela, as orelhas pontudas haviam voltado, os olhos brilhavam com diversão maliciosa, um sorriso presunçoso estampando os belos lábios rosados.
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.1198 palavras 

A Corte de Sombras e Verdades- AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora