A noite em que nos conhecemos; Calango

Dalilah

Narrador

Dalilah estava sentada a uns bons minutos em sua cama apenas olhando a mala vazia em frente ao seu novo armário, que ficava em seu novo quarto, no seu novo apartamento, na sua nova cidade. Mudanças nunca foram o feitio dela, sair de sua zona de conforto era algo estranho e desconfortante e nesses últimos meses, o que mais aconteceu em sua vida foram mudanças. E mudanças enormes.
Ela solta um suspiro pesado, se forçando a dar um sorriso. "As coisas darão certo aqui pra você, Lila. Você vai ver." Ela pensa otimista, mesmo que estivesse morrendo de medo.
Dalilah desperta de seus pensamentos com o toque de seu celular, olhando no visor do mesmo, ela leu o nome "mãe" brilhando em letras grandes. Isso fez a garota sorrir.

— Oi... — ela é a primeira a falar enquanto levanta da cama e anda até a mala, fechando ela.

- Oi, como vão as coisas aí? - A voz de Felicia é suave mas a mais nova consegue sentir o tom de preocupação. Seu peito aperta em saudade mesmo que tenha se mudado a poucas semanas.

- Tranquilas por enquanto, terminei a última mala agora e amanhã vou procurar uma loja pra comprar algumas coisinhas de decoração. O apartamento ainda não tem minha cara. - Assim que ela fecha mala, ela empurra para cima do armário apoiando o celular entre o ombro e o ouvido. Do outro lado sua mãe solta uma risada fraca imaginando bem o que a filha queria dizer.

- Vai comprar plantas e luzes? - pergunta em um tom brincalhão.

- E quadros. - Lila concorda. Ela fecha o armário se encaminhando para a porta e sai do quarto andando pelo corredor até a sala que era junto da cozinha, apenas um balcão médio as separava.

- Dali, escuta... - Dalilah suspira. Sabia que quando a mãe a chamava assim era porquê o assunto seria delicado, ela também sabia o que a mulher falaria, ou melhor, perguntaria. De novo. - Eu sei que tu decidiu se mudar pra respirar novos ares, conhecer novas pessoas e também pelo seu emprego mas... - Dalilah senta no braço do sofá fechando os olhos. "Apenas pergunte logo pra acabarmos com isso." - Tem certeza que foi uma boa ideia?

- Mãe, já falamos sobre isso. - A garota murmura e se joga pra trás devagar até estar deitada no sofá com as pernas penduradas onde estava sentada antes.

- Eu sei, filha, mas aí tu não tem ninguém, e se acontecer alguma coisa? - o tom de preocupação estava bem mais explícito agora.

- Eu tenho a Fabiana aqui. - Ela sorri ao lembrar da madrasta.

- Mas e se quando tu precisar ela não puder ou estiver aqui com teu pai? Ela está aqui agora, não está? - Era verdade, Fabiana viajou para o Sul essa tarde para fazer uma surpresa ao seu pai, havia esquecido disso.

- Não vai acontecer nada, mãe. Mas eu prometo que se acontecer algo tu será a primeira a saber, ok? Não precisa se preocupar.

- Claro que preciso, eu sou tua mãe, nós nos preocupamos até quando estamos dormindo. Em breve tu vai saber do que estou falando.

- É... - Lila respira fundo e solta o ar em seguida. - Eu sei. - as duas ficam alguns minutos em silêncio, a mãe ouvindo a respiração calma da mais nova sentindo a saudade cada vez maior. Nunca havia ficado tão longe da sua menina. Sua única filha.

- Tu tá bem? - Felicia pergunta em um tom baixo.

- Eu tô, prometo. - Dalilah responde, forçando a sua voz a não sair embriagada por conta das lágrimas que estavam surgindo em seus olhos. A decisão de se mudar foi sua mas queria o colo da mãe agora.

- Tudo bem, vai comer alguma coisa e descansar. Amanhã nos falamos.

- Pode deixar, até amanhã. Te amo.

- Também te amo, filha. Tchau. - Dalilah sorri e encerra a chamada em seguida. Ela fecha os olhos novamente soltando o celular no sofá e passa as mãos no rosto afastando as lágrimas. Ela senta girando as pernas para o lado certo e passa os olhos em volta do apartamento.

Aquela era sua casa agora.