Capítulo Um

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Era o vigésimo quarto dia, do terceiro mês do ano.

Os sinos da igreja ecoavam enquanto as pessoas saiam de mais uma missa, eu tirei o véu branco da minha cabeça e soltei meu cabelo do coque que usava. Enquanto descia as escadas, recebi olhares de desaprovação das senhoras.

Apenas usava o véu nas horas da missa, apertei o coque muito forte hoje e estava me dando dor de cabeça.

Dobrei o véu e o guardei no bolso da saia do meu vestido, passei pela lateral da igreja vendo as imagens dos Santos. Os Santos eram nossos salvadores, aqueles que iriam julgar se vamos para o paraíso eterno ou o inferno.

Há tantas histórias sobre eles, todo o continente os adoram, algumas pessoas não acreditam, acham que são baboseiras e estamos adorando apenas imagens de desenhos e inventando histórias, outras seguiram as crença pagãs.

Eu acreditava nos Santos, quando eu mais precisava deles, eles atenderam meus pedidos. Todo final da semana eu venho na igreja da minha cidade rezar, quando era pequena não gostava, daria tudo por uma soneca de mais cinco minutos.

Porém minha avó me puxava pela orelha fazendo eu me levantar da cama, " ou você vai na missa todos os finais de semana ou vou fazer você ajoelha e rezar todo dia às cinco da manhã." Naquele dia eu fui na missa de cara emburrada, depois que minha avó morreu, eu continuei vindo a missa.

Meus pais tinham viajado para a capital, para tirar um mês de férias do trabalho de comerciante do meu pai, eu disse que ficaria bem sozinha. Nada melhor que a casa só para você, sem ninguém te perturbando durante o dia todo.

Sophia Harber é meu nome, tenho vinte anos, moro no litoral do continente de Helvar, em uma cidade de portos com o cheiro de mar e barulho de ondas chamada Seatorn.

Olhei para as imagens dos Santos na lateral da igreja, não sabia o nome de todos mas conhecia suas histórias, desde pequena fui fascinada. Meus Santos protetores são a Santa Aleksandra e o Santo Gavriel.

Não conseguia explicar a ligação que eu sentia com eles, sempre que pedia ou rezava para eles, eles me atendiam.

A santa Aleksandra tinha os cabelos longos brancos mesmo tendo a aparência jovem, os olhos eram castanhos bem claros e a pele branca, usava um manto Azul escuro com dourado e branco, na cabeça uma coroa kokoshinik* feita de ouro, as mãos estavam no coração juntas e raios de sol a cercavam.

A Santa da Justiça e Proteção.

A imagem do Santo Gavriel era de um homem adulto, a pele era marrom escura, os olhos azuis claros como o mar, usava uma armadura de prata e nas mãos tinha uma lança prata, na cabeça nos cabelos curtos escuros tinha uma coroa de louros prata.

O Santo dos mares.

Passei na frente das duas imagens e abaixai a cabeça demonstrando respeito. Segui reto me afastando da igreja, indo na direção do caminho de casa.

Sobre a minha infância, eu passei a maior parte dela com a minha avó, meus pais viajavam bastante por causa do trabalho do meu pai de comerciante, eu cheguei a fazer algumas viagens com eles.

Não tive muitos amigos na infância, apenas dois mas eles se mudaram para a capital e me deixaram, nem escrevem cartas.

Meus pais acham que está na hora de eu me casar mas eu não quero, o que eu queria era comprar um navio e navegar pelos mares e continentes. Mas como meu pai diz " Mulheres não servem para pilotar um navio sozinha, encontre um marido da guarda marinha da rainha ou um comerciante rico que te banque, então você terá o seu sonhado barco."

Não era justo, eu ainda tinha uma vida toda pela frente, porque eu deveria me casar justamente para ter um barco. Minha mesada não era alta o bastante para eu juntar e comprar um barco eu mesma.

Apenas voltei para a casa afastando novamente esse pensamento.

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Coroa kokoshinik*:

Coroa kokoshinik*:

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A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora