Capítulo Dez

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Eu estava em um lugar escuro, não tinha nada envolta.

Olhei para o chão e era água, eu estava sob um lago infinito. Minhas botas não molhavam, dei um passo com medo de cair na água mas nada aconteceu.

Comecei a andar por cima dela, mas quanto mais eu andava, parecia que eu não ia a lugar algum.

- Olá?- digo, minha voz ecoou como se eu estivesse em uma caverna.

- Sophia.- me virei assustada, me assustei mais ainda vendo quem tinha me chamado.

Era eu, bom, outra versão de mim. Seu cabelo estava solto com um leve ondulado que lembrava ondas do mar, seu vestido era branco com pequenos detalhes em dourados, parecia ser simples mas dava para ver que o material era caro.

Ela sorriu fraco.

- Quem é você?- perguntei.

- Eu sou você, bom, eu sou parte de você. A parte que esteve adormecida todos esses anos, esperando o momento certo.

- Você é o santo ou a santa que eu sou? - ela riu fraco.

- Sou, mas logo seremos uma só.

- Como que...como que eu não percebi todos esses anos? Nenhum sinal?

- Somos seres divinos, Sophia. Nossa "magia" é poderosa, não é atoa que pessoas por todo o mundo rezar em nosso nome. Alguns Santos lembram quem são quando voltam a virar humanos, outros não, você não se lembrou, é uma das consequências do processo, ele é aleatório.

- Por que vocês fizeram isso?

- O que?

- Por que voltaram?

- Alguns dizem ser o fim dos tempos, mas não é verdade, a Terra só será destruída daqui a bilhões de anos, apenas fizemos isso porque ficamos entediados e queremos ver como a humanidade está.

- Também não queriam perder a própria humanidade.- ela assentiu, suas mãos se juntaram na frente do seu corpo, ela parecia a imagem de um anjo, talvez eu estivesse em julgamento.

- As vezes o poder pode subir na cabeça, isso acontece com todos, humanos, bruxas, magos...Não seria diferente conosco, alguns Santos pensam que podem tirar a vida de algumas pessoas antes do tempo só porque tem esse poder em mãos.

- Mas vocês não fazem isso?

- Não.- ela riu fraco.- Não sabemos quando uma pessoa vai morrer, isso é um mistério do universo, a morte é uma caixa de surpresas, pode acontecer a qualquer momento e não podemos controlá-la. Nós Santos apenas reinamos os céus, decidimos se determinada pessoa merece ir para o paraíso ou queimar no inferno. Não há deuses a cima de nós, anjos são nossos ajudantes.

- Agora eu entendi.- ela assentiu.

- É uma coisa necessária e também voltamos para proteger os humanos de demônios, aqueles que se lembram que são Santos, testam a bondade dos mortais.

- Demônios estão vindo atrás de mim?

- Estão te procurando, todo o mundo sobrenatural sabe da sua existência agora. Consigo sentir a presença deles, te caçando.

- Nossa, obrigada por isso.- digo ficando com mais medo.

- Não se preocupe, nós somos fortes contra esses bichos.

- Por que vocês fizeram essa maldição?- ela respirou fundo e voltou a me olhar.

- Não somos misericordiosos com algumas atitudes, os piratas fizeram coisas horríveis naquele templo, eram bárbaros, agora são mais pacíficos do que foram naquele tempo. Além de quebrarem quase que o templo todo, roubaram as oferendas e machucaram as sacerdotisas das piores formas.- meu coração apertou.- Sim, imperdoável. O pior, além de fazerem tudo isso em um lugar sagrado, eles zombaram de nós, duvidaram e debocharam. Então decidimos castiga-los.

Sua voz se tornou mais dura, mais séria, foi quando eu percebi.

- Você lançou a maldição neles.

- Irônico, né?- ela sorriu de lado.- Me juntei aos Santos e lançamos a maldição, depois que eles voltaram implorando de joelhos, fui misericordiosa e dei a profecia. Sabia que a reencarnação levaria anos, e não sabia que eu iria reencarnar, porque como eu disse, não é um processo previsto, apenas acontece de forma aleatória.

- Depois que eu quebrar a maldição, o que vai acontecer?

- Vamos deixar isso para o futuro, não?- suspirei assentindo.

- Então eu sou uma santa?

- Eu nunca disse que era, posso ser uma santa ou um santo. Apenas estou na sua aparência porque querendo ou não, ainda sou você.

- Você não poderia me falar?- olhei para baixo e senti como se a água estivesse me puxando, como se eu tivesse com os pés em uma areia movediça.

- Você vai descobrir em breve, aos poucos iremos ser uma só. Boa sorte, Sophia.

- Eu...- a areia me puxou para baixo e minha outra versão se virou se afastando, indo para o vazio.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora