Capítulo Dezesseis

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Dias se passaram, neles eu tive aulas de auto defesa com Henry durante as manhãs e a noite eu treinava meus poderes com Abigail.

- A história de Aleksandra é que ela era uma garota de uma vila que reprimia as mulheres, mais do que reprimem hoje. Como a vila era pobre, Aleksandra se vestia de homem e caçava animais nas florestas para alimentar sua vila. Durante anos ela caçou, mas um dia o líder da vila descobriu que o Caçador era mulher e a condenou. Aleksandra sempre lutou pela justiça, ela queria que as mulheres perdessem o medo e que trabalhassem igual aos homens para a vila prosperar, ela lutou até o fim, mas o líder a decapitou no primeiro raio de sol da manhã.- Abigail me contou a história dela.

Toda noite eu sentava na cama e Abigail na minha frente, toda noite eu tentava conjurar aquela luz que salvou o navio.

- E se só funcionou naquele momento?- digo frustrada jogando minhas mãos no meu colo.

- Não, você liberou uma parte do poder dela, você precisa se concentrar, você anda muito eufórica por causa dele, poder necessita de concentração e calma, esvazie a mente e puxe essa maldita luz para fora.- Abigail disse e eu olhei para minhas mãos no meu colo.- Se não conseguir, você não vai na festa no convés.

Hoje a noite, toda a tripulação estava no convés em uma festa, escutava a música ecoar e os passos em cima.

Soltei o ar e fechei os olhos levantando minhas mãos na altura do meu peito. Limpei a minha mente até ficar em um vazio.

- Traga a luz.

Eu estava naquele lugar escuro da minha mente, tentava puxar qualquer indício da luz, apenas concentrada na minha respiração.

Eu chamava pela luz, na esperança que ela viesse, e um fraquimento veio, segurei com as duas mãos e o puxei. Não sentia nada, nenhuma dor.

- Sophia.- abri os olhos lentamente e sorri. Nas minhas mãos flutuava uma bola feita de luz branca com dourado dos raios de sol, era clara mas não chegava a doer meus olhos.

Eu ri fraco sem acreditar que eu tinha feito, fiz a bola diminuir até desaparecer.

- Boa garota, de novo.

Fiz uma nova bola, afastei mais minhas mãos e a bola virou um raio de luz, juntei elas e o raio sumiu.

- De começo você precisa fazer com concentração, depois vai ser como um estalar de dedos.

Abaixei minha mão direita e deixei apenas a esquerda levantada. Chamei ela sem fechar os olhos e luz se formou na minha mão, me concentrei mais um pouco e ela começou a ficar quente.

Abigail jogou uma folha de suas ervas dentro da luz, a folha atravessou e eu fechei a mão desfazendo o pequeno raio. Peguei a folha caída no chão e queimei um pouco meus dedos, ela era verde e agora estava marrom.

- Parece que além de conjurar luz, você pode transmitir calor e queimar. Isso é bom para queimar alguém ou derreter os olhos de uma pessoa.

- Abigail!

- Estou apenas dizendo.- deu de ombros.- Vamos, você precisa continuar.

Fomos até metade da madrugada treinando e eu começava a pegar o jeito. Abigail me liberou e eu fui logo para o convés, minha barriga roncava.

Eu usava o vestido que tinha comprado na cidade onde paramos, ele era parecido com o que as mulheres usavam, ele era com decote ombro a ombro, deixando meus ombros a mostra, o tronco era branco como uma blusa mas a saia era junta dele, a saia era lisa vermelha, sem volume.

Coloquei um corpete preto na cintura e minhas botas que sempre usava.

Subi as escadas e a festa não tinha acabado totalmente, a música tinha diminuído o ritmo e poucas pessoas dançavam, as mulheres seguravam um pouco as saias para cima para não pisar e dançavam de forma lenta quase que sensual.

Me aproximei de Kailani que estava sentada em um barril.

- Posso roubar ela?- disse para Jack.

- Claro.- ri fraco quando o Jack se afastava.

- Que bom que você chegou, mesmo que no final da festa.- roubei o pão que ela comia e Kailani nem reclamou.- Meus pés estão me matando, estou pensando em dormir no mar.

- Você não vai perder o navio?

- Eu sempre acho esse navio. Ai, sophi, eu dancei tanto, não sei como tem sereias que pensam que ter pernas é ruim.- terminei de comer o pão.

Percorri meus olhos pelo convés e encontrei Henry no convés superior para a frente do navio, uma mulher serviu seu copo e depois se afastou dando uma piscadela para o pirata.

- Vai lá.- Kailani me empurrou.

- Acho melhor não.

- Vai!- Kailani sorriu, limpei as migalhas de pão e andei indo na direção da escada.

Henry estava com os braços apoiados no corrimão de madeira enquanto olhava para o convés principal. Subi as escadas e ele me olhou ajeitando a postura com um sorriso fraco no rosto, seu olhar foi de baixo para cima pelo meu corpo.

Não usava chapéu, usava um sobretudo preto gasto, a blusa vinho, cinto marrom e calças pretas com botas. Ele colocou uma mão no bolso da calça e a outra continuou segurando o copo.

- Há que devo a honra da sua presença?- ri fraco.

- O que está fazendo aqui em cima se a maioria está ali embaixo?

- Subi para cá porque gosto de ficar sozinho, gosto de ver minha tripulação em uma noite de paz.

- Se deseja ficar sozinho...- fingi que ia virar.

- Agora você fica.- coloquei uma das minhas mãos no corrimão enquanto o olhava.

- Por que eu? Ah outras mulheres que podem te fazer companhia, talvez aquela ruiva que não para de olhar para você.- apontei com o olhar, a garota ruiva olhava na direção de Henry enquanto dançava. Henry olhou para baixo mas voltou a olhar para mim de novo.- Estava pensando em fazer companhia a Kailani.

- Isso é ciúmes, santa?- disse com um sorriso preguiçoso, cafajeste.

- Eu? Ciúmes de um pirata? Nunca.- ele riu fraco andando para outra parte do convés, longe do corrimão onde as pessoas poderiam nos ver.

- Vamos entrar nesse jogo então, santa. Você gosta de ter homens ajoelhados na sua frente? Implorando qualquer coisa para você?- fiquei na sua frente.

Nesses últimos dias, alguns piratas se ajoelharam pedindo perdão por algum pecado ou mostrando medalhinhas de Santos, claros que eu não sabia o que fazer, apenas dava um jeito de sair daquele lugar.

- Mas esse não é o lugar dos homens? Ajoelhados, implorando....- tirei o copo da mão de Henry e bebi o líquido, era rum. Senti o gosto doce descer pela minha garganta.

Abaixei o copo do meu rosto e Henry colocou um joelho no chão, ficando de joelhos na minha frente.

- Feliz, santa?

- Muito, capitão.- lhe entreguei o copo vazio e ele riu fraco.

- Você pode absorver meus pecados? Para que quando eu morra, eu vá para o paraíso?- fiz cara de pensativa.

- Se você dançar uma dança comigo.

- Muito fácil.- ele deixo o copo no chão em um canto.

Segurei um pouco minha saia e movi minha cintura para os lados como eu tinha visto as mulheres fazendo, de uma forma lenta. Senti as mãos de Henry na minha cintura, seu peito perto das minhas costas, nos movíamos no ritmo da música que ecoava do convés embaixo.

Meu coração batia fortemente no meu peito.

Henry pegou minha mão e me girou, fiquei na sua frente, ainda segurava minha saia e uma de suas mãos estava na minha cintura. Acabei rindo fraco, me afastei e girei, minha saia girando junto.

Crosswell segurou minha mão de novo e me girou, me afastei sem largar sua mão e depois ele me puxou para perto. Suas mãos foram para as minhas costas e ele me inclinou.

Henry me olhava e as estrelas pareciam brilhar no fundo.

Ele me puxou para ficar em pé normal e voltamos a dançar.

Acho que essa foi uma das melhores noites que eu já tive na minha vida.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora