Capítulo Nove

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Não fui para o convés de cima pelo resto daquele dia, no seguinte, Abigail me perguntou se eu senti algo de diferente mas nada. Apenas dores de cabeça e tonturas forte.

Estava no convés ao lado de Kailani, sentadas em barris. Alguns piratas limpavam os convés de cima, mas onde estávamos alguns treinavam.

Quem cuidava do timão era outro pirata, Jack e Crosswell treinavam.

- Por que os homens ficam bonitos quando estão lutando?- Kailani disse baixo, eu acabei rindo.

Ele não lutavam com armas, lutavam com punhos e socos, Jack riu quando desviou de um.

- Você sabe lutar?

- Não, eu até sei alguns golpes por causa dos livros que eu lia, mas eu nunca bati em alguém. Tirando tapa.- digo.- Meu pai e minha mãe não deixavam nem eu subir em uma árvore.

- Por que?

- Porque não é coisa que uma dama faz.- digo a frase que meus pais mais me falaram durante a minha infância.

- Quer lutar?- Crosswell e Jack pararam de lutar, os outros piratas continuaram.

- Ah não, melhor não. Eu não sei nada, provavelmente eu vou levar uma surra.

- Se você quer ficar no meu navio, tem que aprender a lutar. Em algum ataque, você vai ter que estar sozinha e ninguém vai poder te ajudar.- revirei os olhos, me levantei e andei na sua direção. Prendi meus cabelos em um coque, vi que Kailani foi saltitando animada para perto de Jack que iria lhe ensinar.

Fiquei na frente de Crosswell, ele usava roupas normais, a camisa cor creme estava com as mangas arregaladas até os cotovelos, o cabelo estava um pouco molhado na testa por causa do suor. O sol castigava hoje.

Agradeço aos Santos que Abigail achou um par de calças limpas e me emprestou, elas ficaram um pouco largas na cintura mas eu amarei uma faixa marrom, fazendo de cinto e elas couberam.

- Primeiro, deixe seus pés assim.- ele mudou a posição dos meus pés com o seu pé.- Mãos na altura do peito e punhos fechados...Não..desse jeito, isso.- ele ajeitou minhas mãos.- Agora de socos o mais forte que você conseguir.

- Em você?

- Nas minhas mãos.- colocou as mãos para frente, as palmas abertas.

- Não tem graça.

- Não quero que machuque meu rosto bonito.

- Canalha.- comecei a dar socos na palma de suas mãos usando toda força que eu tinha.

- Deixe o corpo no lugar, não precisa levá-lo para frente.- continuei dando os socos, ajeitando minha postura.- Ei! Tá bom, você é mais forte que eu imaginava.

Parei de dar socos, as mãos de Crosswell estavam avermelhadas, igual os meus pulsos.

Talvez tivesse sido o peso que eu sempre carregava quando fazia compras nas feiras, subia e descia escadas todos os dias, não sei.

- Tudo bem, você sabe dar socos, agora vamos para alguns golpes importantes. Quando você estiver lutando com alguém, você pode dar uma cabeçada na pessoa se ela estiver muito perto, tente focar seus olhos em um ponto para não ficar tonta.- ele tocou minha testa.- além dos socos no rosto e barriga, você pode enfiar seus dedos nos olhos da pessoa aproveitando que você tem unhas grandes, com isso ela vai se afastar e depois você pode derruba-la.

Tentei enfiar minhas unhas nos olhos dele mas ele inclinou o corpo para trás e riu fraco.

- Comigo não, santa.

- Como eu posso derrubar uma pessoa?- disse colocando as mãos na cintura.

- Dando uma rasteira.

- Como que faz isso?

- Você vai usar o seu pé, com ele você vai fazer esse movimento, atingindo o tornozelo dele, você vai usar o seu pé para levantar o pé do seu oponente do chão.- ele fez o movimento com seu pé mas não me derrubou.

- Tá bom.- fiz como ele disse e derrubei o garoto, dei um passo para trás e coloquei as mãos na boca surpresa porque tinha conseguido.

- Ai!- Crosswell disse se sentando no chão, a mão na lombar, me segurei para não rir. Jack parou de treinar Kailani e seus lábios se formaram uma linha.- Se você rir, eu atiro você no mar.- ele apontou para Jack que apenas levantou as mãos como se estivesse se rendendo, ainda segurava o riso.

Crosswell se levantou e me olhou com um pouco de raiva nos olhos.

- O que foi? Vai me prender no mastro? Você que teve a ideia.- digo rindo.

Vi Crosswell abrir a boca mas de repente parecia que um raio de sol tinha entrado na minha visão, minha cabeça girou e eu fechei os olhos sentindo minhas pernas falharem um pouco.

Crosswell passou o braço na minha cintura me segurando, jurei que tinha escutado ele chamar meu nome.

- Estou bem, é apenas...mais uma tontura.- tive mais uma recaída e Crosswell me segurou mais forte para eu ficar em pé.

- Vou te levar para Abigail.

Parecia que eu não estava totalmente consciente, em um piscar de olhos, eu estava no meu quarto sendo colocada deitada na cama.

As vozes de Crosswell e Abigail pareciam longe mesmo estando no mesmo cômodo.

- Tem certeza que isso é saudável? Ela quase desmaiou agora.

- É parte da poção, não posso dizer se os efeitos são certos, nunca foi feita.

- Como assim nunca foi feita?- o tom de voz de Crosswell aumentou.- Ela pode morrer!

- Não, vai. Confie em mim, garoto.

Eles continuaram a conversar mas eu só ouvia as palavras se embolando e acabei desmaiando.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora