Capítulo Oito

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Acordei com uma dor de cabeça forte, o quarto estava escuro, a única coisa que eu escutava era as ondas do mar e os roncos de Abigail na cama de cima do beliche.

Tentei voltar a dormir mas não consegui, me levantei calçando minhas botas e sai do quarto fechando a porta sem fazer barulho.

Passei pelo corredor escuro, subi as escadas passando pelos canhões até chegar no convés principal. Estava vazio, tinha um vento frio da manhã e o sol começava a nascer.

O céu ainda estava um pouco escuro. Olhei para o timão vendo ele vazio, subi as escadas me aproximando do mesmo.

Era um timão de madeira marrom escura, segurei nele sem fazer muito esforço para não mudar a rota. O vento fazia o meu cabelo solto voar, por um instante eu pensei que era tudo um sonho, que depois eu iria acordar com meus pais me chamando.

- O que está fazendo?- olhei para o início da escada e vi o capitão, tomei um susto e o timão começou a girar para o lado direito.

- Merda.- tentei fazê-lo parar, mesmo com medo de machucar meus dedos. O capitão subiu as escadas correndo e ficou ao meu lado segurando o timão junto comigo, nossas mãos próximas.

Soltei o timão e o garoto girou para o lado esquerdo voltando a direção original, me afastei um pouco.

- Desculpa...eu pensei...

- Tudo bem, a culpa foi minha. Não deveria ter deixado o timão sozinho de qualquer jeito.- disse ainda segurando, ficamos em silêncio apenas com as ondas do mar.

Percebi que estava com minha camisola creme longa, agradeci aos Santos que não tinha decote vulgar, mas eu abracei meu próprio corpo. Nenhum homem tinha me visto de camisola, tirando meu pai.

O capitão olhou para mim e depois para frente de novo.

- Segure aqui, desse jeito.- por um momento eu pensei que ele não estava falando comigo, me aproximei e segurei o timão, ele ajeitou minha mão.- Segure firme.

- O que...- ele se afastou, não olhei para trás com medo de virar o timão novamente.

Senti algo sendo colocado nos meus ombros, ele tinha colocado o seu sobretudo marrom escuro. O capitão segurou o timão, coloquei o sobretudo e fechei os botões.

- Obrigada.- disse, o cheiro era de mar e um leve rum.

- O que está fazendo aqui? Não deveria estar dormindo?

- Eu acordei com dor de cabeça e não consegui voltar a dormir, então resolvi vir para cá. Eu vi o timão vazio, então pensei...- parei de falar, falando em voz alta parecia uma ideia estúpida.

- Nunca andou de navio?

- Já, mas nunca mexi em um timão. Sei dar alguns nós porque observava os funcionários fazerem, mas só isso.

- Você segura o timão da forma que eu te mostrei, segurando firme para que ele não gire, você que tem que controlá-lo.- apertou os dedos com anéis contra a madeira.- Para direita é estibordo, esquerda é bombordo. Até poderia mostrá-la mas não quero acordar um navio inteiro de piratas mal humorados.- ri fraco.

- E o que você está fazendo aqui?

- Trocando de turno, Jack ficou parte da noite cuidando do timão e agora é minha vez. Gosto de ver o sol nascer.

- Jack?

- O garoto que te salvou do navio do barba suja.

- Barba suja?

- Você gosta de fazer perguntas né?- riu fraco, ele viu eu revirando os olhos.- Barba suja é um apelido carinho que eu e minha tripulação damos para Silverstone.

- Ah sim, combina com ele.- ri fraco com o pensamento que tive, já comecei a ver o céu mudando de cor.- Para onde estamos indo?

- A caminho do templo mas iremos fazer algumas paradas antes, não é um caminho muito fácil.

- Mas..eu pensei que vocês não podiam colocar os pés em terras firme?

- Não podemos, mas temos os nossos truques para receber mantimentos.- ele me olhou com aqueles olhos verdes.- Você não parece uma santa.

- Você não parece um capitão.- ele riu fraco.

- Touché, santa.

- Pode pelo menos me dizer seu nome?

- Crosswell, Capitão Crosswell.

- Esse é o seu nome?

- Não, é o meu sobrenome.

- Sou sophia, não precisa ficar me chamando de Santa toda hora.

- Por que? Não gosta?

- Não acho que é certo.

- Mas...é o que você é.- ele disse confuso.

- Eu sei, eu apenas...não me acostumei ainda. A uma semana atrás eu era apenas uma garota do litoral e agora eu sou uma reencarnação de algum santo que vai quebrar uma maldição.

- Preferia ter sua vida simples ou ter um pouco de aventura?- fiquei calada pensando.- Uhm?

- Um pouco de aventura.- ele sorriu de lado, cafajeste.

- Ainda tem muita coisa para acontecer, santa. Pare com esses pensamentos cabisbaixos.

- Você fala como se fosse fácil.- resmunguei para mim mesma.

- O que disse?

- Nada.

- Eu reparei que ontem você estava me olhando.

- Não estava.

- Olhava para o que então? Meu fantasma?

- Pensava comigo mesma.

- Em mim?

- Canalha.- ele riu.- eu vou tentar voltar a dormir, conversar com o senhor vai fazer eu perder a paciência.- andei para perto das escadas.

- Ah pelo amor dos Santos, não me chame de senhor, temos aparentemente a mesma idade.

- Que seja.- desci alguns degraus.

- Santa?- me virei e ele riu, revirei os olhos percebendo que tinha caído no seu truque.- Cuidado para não pegar sentimentos.

- Você também, pirata.- o provoquei e ele sorriu de lado, maldito.

Desci as escadas, tirei o sobretudo deixando em cima de um barril e peguei o caminho do meu quarto.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora