A Maldição dos Santos

Capítulo Dois

Acordo abrindo os olhos e me espreguiçando, nesses dias sozinha eu conseguia dormir até dez da manhã sem ninguém me perturbar.

Fiquei mais alguns minutos na cama quando me levantei indo para o banheiro, tomei um banho para acordar de verdade. Depois coloquei uma blusa de manga verde escura, junto com um corpete marrom e uma saia da mesma cor do corpete, nos pés um par de botas de cano curto e sem salto.

Me olhei no espelho para me ajeitar, tinha a pele branca um pouco bronzeada, os olhos eram castanhos avelã e o cabelo castanho claro batia depois dos ombros, na altura dos meus seios.

Prendi meus cabelo em um rabo de cavalo baixo, desci do meu quarto e fui para a cozinha da casa, preparei um café da manhã com algumas frutas e mexido de ovos. Depois peguei algumas moedas de prata e uma cesta para ir à feira na cidade.

Sai da casa e caminhei até o local da feira, o céu estava aberto e o sol transmitia o calor e a luz, sentia a brisa do mar com o cheiro salgado.

Cheguei na feira em apenas alguns minutos, barraquinhas estavam montadas, comerciantes ofertavam seus produtos. Fui na barraca de verduras e comprei algumas, me segurei para passar reto pelas de doces mas acabei comprando alguns biscoitos.

Estava esperando as frutas que pedi para uma senhora quando escutei a conversa de dois marinheiros.

- Eu estou te dizendo, eu vi sereias no porto de Viser.- Viser era outra cidade litorânea perto da minha.

- Conte outra, você bebeu de mais e está imaginando coisas.

- Não estou, elas eram lindas e cantavam mas eu não consegui escutar a música, apenas vi suas bocas se mexendo.- o marinheiro disse amaçando seu chapéu com as mãos de tão forte que segurava.

- Então por que não pegou elas?

- Porque elas fugiram quando me viram.

- Conte outra.- o outro homem disse rindo.

- Cinco moedas de prata senhorita.- voltei minha atenção a senhora, coloquei o saco com as frutas na minha cesta que começava a ficar pesada. Entreguei as moedas para ela.- Obrigada e que o Santos te acompanhem.

- Você também.- me afastei indo em direção de volta para a minha casa.

Já tinha escutado lendas de sereias e bruxas contadas por pescadores, mas nunca soube se eram reais ou não, alguns juravam de joelhos que tinham visto elas de verdade, outros duvidavam das próprias palavras por terem vistos não totalmente sóbrios.

Voltei para a minha casa e arrumei minhas compras na cozinha e depois me sentei no sofá para começar a ler um livro.

Estava apenas na segunda página do livro quando eu escutei uma melodia, parecia um coro de vozes femininas. Me levantei fechando o livro, olhei para cada canto da casa procurando da onde poderia estar vindo o som mas não achei nenhum lugar.

Deixei o livro no sofá e abri a porta da casa, a melodia ficou mais alta, mais...encantadora, algo dentro do meu peito parecia acender com ela. Olhei nas duas direções da rua e ela vinha da esquerda, que dava para a praia.

Sem me tocar, comecei a segui-la como se estivesse me chamando. Desci as escadas de pedra que davam acesso para a praia, quando coloquei meus pés cobertos pelas botas na areia, a melodia se misturou com uma canção.

Há muito tempo atrás

Enquanto os homens choravam em prantos

Surgiu nossos Santos

Cheios de seus encantos

Era uma voz feminina doce e suave, o coro das outras vozes continuavam. Dessa vez, meu coração pedia para eu parar e dar meia volta, sentia um sentimento ruim mas não conseguia parar, meus pés não me obedeciam.

Sentia a brisa forte do mar no meu rosto e o barulho das ondas, andei até as pedras seguindo a voz.

Seres de segredos e grande poder em mão

Que decidem sua eternidade, antes que tudo tenha sido em vão

Paraíso ou inferno? Se pergunte essa questão

Andei pelas pedras até que achei uma parte aberta para o mar, cinco garotas estavam lá, me aproximei e percebi que elas que estavam cantando.

- O que vocês...- desisti de falar quando elas se viraram e me olharam, seus olhos se arregalaram como se não acreditassem no que viam. Me ajoelhei na pedra me aproximando delas.- Vocês querem ajuda?

Olho para a água e levo um susto, caudas, cinco caudas brancas com escamas brilhantes, seus cabelos longos que cobriam seus seios, a beleza sobrenatural.

Eram sereias.

Estava ferrada.

Mas elas não me fariam mal, nas histórias, elas apenas se interessam por homens para afoga-los.

Ia me afastar mas uma delas segurou meus braços.

- É ela!- gritou, as outras se aproximaram, tente me soltar mas mais duas me seguraram e me puxaram para a água.

Cai dentro do mar, meus olhos doeram por causa do sal, olhei para a cauda de cada uma, elas realmente eram sereias.

Tentei me levantar mas elas me seguraram de baixo da água, uma delas colocou a mão envolta do meu pescoço o apertando, me debati conseguindo me soltar de uma mas a mão apertou mais meu pescoço.

Estava perdendo o ar muito rápido, comecei a desmaiar vendo os raios de sol refletirem na água, então apaguei.