Capítulo Dezoito

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Passou dois dias e o navio parou em uma cidade nova, a última antes de irmos para o templo quebrar a maldição.

Abigail cuidou dos meus ouvidos e não houve nenhum dano grave, perdemos alguns piratas no ataque das sereias.

Eu sai do navio junto com Kailani, o dia estava nublado e poucas lojas estavam abertas. Comprei poucas coisas, comprei alguns doces e um sentimento de saudades dos meus pais me atingiu.

Antes de voltar para o navio, passei em um correio e escrevi uma carta para eles, não disse onde estava porque nem eu sabia, apenas expliquei que estava bem e não sabia quando voltaria para casa.

Não disse que eu era uma santa ou que podia talvez morrer quebrando uma maldição, apenas disse que sentia falta deles e os amava.

Rezei aos Santos para que a carta seja entregue e voltei para o navio.

Coloquei uma bala na boca e olhei para o timão, Henry estava lá, dois piratas terminavam de descer as escadas. O navio estava iluminado pelas velas e o céu ficava escuro com a noite caindo.

Subi as escadas e fui para perto do timão, estiquei o saco de balas e Henry olhou para o mesmo.

- Que isso?

- Balas, diversas. Tem doces, azedas... Vai na sorte.- ele me olhou e depois colocou a mão no saco tirando uma vermelha, colocou na boca e mastigou.

- Doce. É boa, mas gruda no dente.- ri fraco e coloquei mais uma na boca.

Olhei para o horizonte escuro, as estrelas começavam a aparecer no céu, o navio já estava no mar.

- Quanto tempo até chegarmos no templo?

- Duas semanas, mais ou menos.- pegou outra bala.- O que foi?- olhou para meu rosto.

- Eu não sei, Silverstone está atrás de nós, eu lembro que ele queria me fazer sua prisioneira para sempre. Ele disse que eu sou mais valiosa que qualquer tesouro.

- Isso você é, mas prisioneira não. O barba suja é um dos piores piratas dessa geração, um dos mais velhos entre nós.

- E os outros?- Henry lambeu os lábios.

- A verdade é que não importa quem te leve para o templo e quebre a maldição, pelo que sabemos apenas temos que derramar o seu sangue e toda a maldição será quebrada, ou não, talvez estejamos enganados e só saberemos a verdade quando chegarmos lá.

- Então vocês não sabem o que realmente tem que fazer?

- Apenas temos que te levar ao templo, o resto descobriremos lá.- meu coração apertou.- Silverstone está atrás de nós porque você é importante, depois de quebrar a maldição...ele provavelmente vai querer fazer algo com você.

- Como se eu fosse um troféu.- digo, não falamos mais nada apenas comemos os doces até o saco ficar vazio.- Henry, eu tenho uma coisa para te contar.

- O que?

- A Santa Aleksandra que lançou a maldição nos piratas.- ele ficou em silêncio, eu me arrependi de ter falado.

- Como sabe?

- Ela me contou.- para minha surpresa ele riu.

- Que irônico, não acha? - ele me olhou.- Você acha que eu iria ficar com raiva ou chateado?

- Eu não sei, pensei...que você pudesse me odiar.

- Eu acho intrigante, os Santos brincam com nossos destinos, Sophia. Nós somos o entretenimento deles.

- Você sabe que eu sou uma santa né?- rimos.

- Não estou chateado ou com raiva, não se preocupe...Obrigada.

- Pelo o que?

- Por me salvar no ataque das sereias, nunca pensei que ia cair tão fácil no encanto delas.

- Homens caem igual patinhos.- olhei para ele e Henry me olhava.

- Sophia, você se arrepende do beijo?- olhei para o chão, meu coração palpitava rápido.

- Não.- ele ficou um tempo em silêncio.

- Nem eu.- sua mão direita foi para a minha cintura me puxando para perto, a sua esquerda levantou meu rosto e depois segurou o timão para ele não girar.

Henry me beijou, com o toque de sua língua meu coração acelerou. Coloquei uma de minhas mãos no seu ombro, enquanto ele apertava minha cintura, o beijo tinha um ritmo lento.

Ele não era o primeiro garoto que eu beijava, quando eu tinha dezessete eu tinha um amigo chamado Eric, antes dele se mudar com a família para a capital, ele me beijou sem meus pais saberem, na calada da noite e prometeu escrever cartas.

Até hoje não recebi nenhuma carta, talvez ele tenha se esquecido de mim.

Acho que minha avó está se revirando no túmulo, ela me mataria se soube-se que eu estava beijando um pirata.

Mas, o mais surpreendente, era que eu gostava, eu estava gostando de Henry.

Fomos interrompidos com uma pessoa limpando a garganta, separamos o beijo e eu virei meu rosto para o lado oposto escondendo o vermelho de vergonha.

Jack e Kailani estavam na escada, a sereia sorriu se segurando para não pular em cima de mim.

- Minha vontade de matar você aumenta a cada dia.- Henry diz colocando as duas mãos no timão.

- Você não teria coragem.- Jack disse se aproximando.

- Dúvida?

- Tá bom, esquentadinho. É minha vez de cuidar do timão.- Jack empurrou Henry, fazendo o garoto esbarrar em mim.

- Eu vou indo.- andei na direção da sereia e puxei Kailani descendo as escadas, nós duas rimos.

Mais tarde naquela noite, ia subir para o convés quando alguém puxou meu cotovelo, me levando para uma parte escura onde tinha os canhões.

Fiquei contra a parede e a pessoa colocou as mãos na minha cintura.

- Agora não seremos interrompidos.- ri fraco, Henry me beijou e eu passei meus braços envolta da sua nuca.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora