Capítulo Quatro

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A cela do calabouço era fria e um pouco úmida, tinha uma janelinha redonda com grades que entrava a luz da lua, as velas não conseguiam ficar acessas por muito tempo.

Eu estava no canto da cela, abraçada aos meus joelhos, eu chorei por algumas horas, não entendi o que estava acontecendo. Como assim do nada eu era uma santa? Uma santa, um ser poderoso e divino, não tinha sentido. Eu era apenas uma simples garota, não era adotada e tive uma família que nunca mentiu para mim.

Eu não podia ser uma santa, não aceitava, mesmo que algo dentro do meu peito confirmava que eu não era normal, a melodia e a canção ecoavam pela minha cabeça quase que me levando a loucura.

Rezei para Santa Aleksandra e para Santo Gavriel mas nem eles me responderam, talvez estivessem ocupados respondendo outras pessoas.

Estava com medo do que aqueles piratas iriam fazer comigo, não sei que tal maldição era essa que aquele homem disse mas ele me dava nojo.

Levantei meu olhar quando escutei passos, continuei no canto quando a pessoa se aproximava segurando um candelabro de velas iluminando o caminho.

- Eu...eu trouxe o seu jantar.- a garota parou na frente da cela, pelo vestido branco ela era uma das sereias. Não me movi.- Por favor, estou apenas tentando ajudar, você não pode ficar de estômago vazio.

- Por que? - disse disparada de raiva, a garota suspirou e se sentou no chão, colocou o candelabro ao seu lado e uma bandeja perto das grades.

- Deixe pelo menos eu te explicar o que está acontecendo, antes que alguém suspeite da minha demora.- demorei alguns segundos decidindo se confiava nela ou não. Eu precisava de respostas, me levantei e me sentei perto das grades na sua frente.

Na bandeja tinha um copo de água limpa, um pão meio duro e uma maçã vermelha.

- Eu peguei a maçã escondido, ficar só com o gosto do pão na boca ia ser ruim.- peguei o pão, o parti no meio começando a comer. A garota na minha frente era linda, tinha a pele marrom clara, os cabelos pretos longos com cachos e os olhos castanhos claros.

- Pode começar a falar.- digo mastigando.

- Há séculos atrás, um grupo de piratas desafiaram os Santos, eles acharam um templo antigo e quebraram tudo nele e saquearam as oferendas. Os Santos com fúria, castigaram todos os piratas os aprisionando no mar.

- Como assim?- bebi um gole da água.

- Todos os piratas estão proibidos de pisarem em terra firme, nem em uma ilha ou cidade. Muitos tentaram, acharam que era besteira, mas quando pisavam na areia, eles viravam pó.

- Nossa.- digo mastigando um pouco mais devagar, então os Santos tinham uma fúria grande.

- Os piratas voltaram ao templo e imploraram para os Santos para que tirassem a maldição, então eles deram uma profecia.

- Profecia?- ela assentiu.

- Em algum futuro, Santos reencarnados iram caminhar pela terra como humanos, o sangue deles pode quebrar a maldição. Então os piratas por anos, procuraram por eles, nunca reparou porque nunca mais houve relatos de piratas saqueando cidades?- assenti, fazia sentido, eu até achava estranho, era como se os piratas tivessem desistido de roubar das cidades.- Você foi a primeira que escutou o canto, talvez você seja a primeira e única esperança de quebrar essa maldição.

- Mas você disse que tinha outros.

- Se foi difícil achá-la, imagina os outros. Não é tão fácil achar reencarnações, vocês tem um escudo te protegendo e a aparência humana.

- Então eu sou uma reencarnação de um santo?

- Sim.

- Qualquer santo?

- Sim, iremos descobrir quando você manifestar seus poderes.

- Então eu realmente sou uma santa.- ela assentiu, respirei fundo, parecia impossível mas o sentimento dentro de mim dizia que era verdade.- o pirata desse navio...vai me matar?

- Eu não sei, na profecia diz apenas o sangue, não sei se isso significa matá-la. O capitão Silverstone é cruel, minhas irmãs aceitaram o acordo dele sem pensar duas vezes.

- Você é uma sereia mesmo?- ela assentiu sorrindo fraco.

- Mas não se preocupe, nós duas iremos fugir.- sussurrou.

- Como assim?

- Eu fiz um acordo com outro pirata antes de Silverstone, já o avisei que estou com você e iremos embora desse navio.

- Não sei se eu devo confiar em você. Não sei se devo confiar em algum de vocês.

- Vamos fugir desse navio, o pirata que eu fiz o acordo quer quebrar a maldição também, ele não vai te aprisionar ao contrário de Silverstone.

- Mas ele é um pirata, pode quebrar a palavra.

- E é um homem, posso enfeitiça-lo e ele vai morrer nas profundezas do mar.- mordi a maçã pensando nas possibilidades que eu tinha. Fugir para outro navio pirata com uma sereia ou ficar nesse com o capitão nojento?

- Por que você trairia as suas irmãs?

- É uma longa história, mas resumindo por agora, é um tipo de "vingança".

- Qual o seu nome?

- Kailani.

- Sou Sophia ou eu achava que era.

- Sophia...então, o que você acha?- dei outra mordida na maçã.

- Quando que eles chegam?- a sereia sorriu.

A Maldição dos SantosOnde histórias criam vida. Descubra agora