- Espere, pode repetir de novo?
- A maldição só pode ser desfeita com o sangue vivo de um santo reencarnado.
- Então eu não preciso morrer.
- Não, menina tola, apenas algumas gotas do seu sangue e tudo estará resolvido.- um alívio atingiu meu peito.- eu acho...- escutei a bruxa falar mais baixo e meu alívio se foi.
O sol iluminava no alto, estava no convés superior na ponta da frente do navio, Abigail estava misturando algumas ervas e colocando em um frasco. Kailani não estava no navio, estava nadando no mar.
O tanto de erva que ela misturava na água do frasco começava a me deixar enjoada, é provável que eu coloque o café da manhã para fora.
Usava a mesma roupa que Kailani me deu ontem, uma saia preta sem volume, um corpete marrom e uma blusa branca com as mangas puxadas até o cotovelo.
- Capitão no convés!- alguém gritou, olhei para o convés principal e vi o garoto de cabelo loiro acizentado, ele subiu as escadas indo para perto do timão onde o garoto dos revólveres estava manuseando.
- Menina.- a bruxa estalou os dedos e eu voltei a olhar para ela, Abigail estendeu o frasco. Ela escorreu as ervas deixando apenas o líquido, que estava com a aparência amarronzada.- Beba.
Segurei o frasco e levei para perto do nariz sentindo o cheiro, fiz careta o abaixando.
- Tem cheiro de merda.
- Não pense, apenas beba.
- Para que serve?
- Para acabar com esse "bloqueio" dentro de você, também vai ajudar a manifestar seus poderes para sabermos com que santo estamos lidando.- ela disse como se eu fosse perigosa, talvez eu fosse.
Levei o frasco para a boca e bebi o líquido em dois goles, o gosto era horrível, parecia terra com algo amargo e picante que queimava minha garganta. Coloquei o frasco na mesa e a mão na minha boca.
- Nem pense em vomitar, usei ervas raras para essa poção.- engoli a vontade de vomitar e respirei fundo.
- Estou bem.
- Ótimo.- senti uma tontura de leve e me apoiei na mesa.- Tontura e dor de cabeça são efeitos comuns.
- Quanto tempo dura esses efeitos?- digo com os olhos fechados esperando a tontura passar.
- Não tem um tempo determinado.
- Que ótimo.- digo com ironia abrindo os olhos.
- Olhe para o lado bom, se você fosse humana estaria morta agora, as ervas teriam destruído sua garganta de dentro para fora.
- E você avisa isso agora?
- Você não pediu para eu avisar antes.- a bruxa se afastou, mostrei meu de dedo do meio como alguns marinheiros faziam.- Pode parar de mostrar o dedo, menina.- disse descendo as escadas.
Abaixei o dedo e olhei alguns segundos para a mesa. Depois meu olhar caiu no timão, o capitão o manuseava, eu me peguei imaginando como seria um navio só meu.
Eu controlando o timão, sem olhar em bússolas ou mapa, apenas deixando o horizonte me guiar.
Volto para o presente percebendo que o capitão me olhava enquanto eu olhava para ele, cortei o olhar olhando para o chão e desci as escadas.
Desci para o convés e vi Kailani, sua cauda de sereia era branca com escamas azuladas que refletiam na luz do sol, ela se secou e em um piscar de olhos um vestido branco cobriu seu corpo e seu cabelo estava seco.
- Sophia.- ela se levantou e veio na minha direção.- tudo bem?
- Quase fui envenenada pela Abigail mas estou bem.- começamos a andar.- Então...como é ser uma sereia?
- É a melhor sensação do mundo, eu já nadei por todos os treze mares, eu amo a sensação da água e da minha cauda.
- Então por que fica com...pernas?
- Porque é mais prático e também assim eu posso conhecer o mundo humano. Levou alguns meses para eu me acostumar com elas, mas eu também gosto da sensação de ficar descalça. E você, qual a sensação de ser uma santa?
- Estranha, ainda não acredito que eu sou a reencarnação de um ser divino, pessoas rezam e pedem pelo meu nome. É até...chocante.
- Não deixe que suba na sua cabeça.- rimos e descemos para as escadas para o andar de baixo.
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A Maldição dos Santos
AdventureOs Santos são seres poderosos que julgam os vivos e mortos, decidem quem iria para o paraíso ou para o inferno. Há séculos eles lançaram uma maldição sobre todos os piratas dos treze mares, proibindo que eles pisassem os pés em terra firme. A princí...