Alone [percabeth]

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O fim chegou cedo demais para Annabeth Chase. E parecia o fim para Percy Jackson também.

*  •  *  •  *

 Não era para ter sido assim. Não fora desse jeito que planejaram. Era para ela ter cabelos brancos, era para ele partir primeiro. Estava tudo errado.

Ela iria se formar, ter seu próprio negócio de arquitetura. Ele a veria de branco no altar e no final deixariam uma garotinha loira de olhos verdes com a ousadia do pai e a inteligência da mãe. Mas, nada disso aconteceu, pois a vida de um semideus não é longa, e ele não devia ter se deixado levar por ideias tão sonhadoras.

Percy esfregou os olhos vermelhos e inchados tentando afastar os pensamentos, porém, seja o que fizesse, se dormia ou se bebia, ela sempre estava lá. Exausta depois de uma luta e sangrando em seus braços, segurando qualquer expressão de dor enquanto ele se derramava em lágrimas, murmurando para ela aguentar, que daria tudo certo, contudo ela soube antes dele que aquilo não era verdade, e aquela foi a última vez que trocaram um "eu te amo".

Ele não conseguira protegê-la, deveria ter sido mais rápido, mais forte, mais esperto. Queria ter sido capaz de salvá-la, entretanto, nem isso conseguiu, não conseguia salvar ninguém. Não lembrava por quanto tempo ficou abraçando seu corpo inerte, só lembrava de brigar quando o puxaram para longe, xingando quem quer que fosse que o afastava de sua amada.

Annabeth o reprovaria pelo seu estado, e ele sabia disso, assim como sabia que cochichavam ao seu respeito pelo acampamento grego. O tão famoso Percy Jackson já não conversava com ninguém, destruía os bonecos da arena sem piedade, ficava sentado na beira da praia pelo resto do dia e não aparecia para as refeições, ou também havia os dias que nem sair do chalé ele saia. Mas por que deveria continuar vivendo quando cada vez mais pessoas que amava já não viviam?

Perguntava-se o que Annabeth faria agora que estava no Elísio, e ele tinha certeza que estava, conhecia a namorada o suficiente para saber que ela renasceria e tentaria a Ilha dos Abençoados, porém esperaria por ele? Percy faria qualquer coisa para poder vê-la mais uma vez, para poder a abraçar e beijar novamente. Por mais egoísta que fosse o pensamento, ele queria que ela o esperasse, para poder, uma última, fazer carinho em seus lindos cachos loiros de princesa e olhar nos olhos tempestuosos que sempre diziam muito. Era absurdo, mas às vezes se pegava pensando em desistir e ir logo para seus braços.

Parecia tudo tão lindo antes, eles haviam superado Gaia e ainda lutavam contra os pesadelos do Tártaro, sorrir estava se tornando, contudo, cada vez mais comum, trabalhavam juntos para enfrentar suas dores e então... Isso durou um ano. Um ano de paz. Um ano de faculdade, de festas e encontros, de escapadas à noite para o dormitório um do outro. Até que saíram de Nova Roma para uma simples caminhada por São Francisco e os monstros surgiram de todos os lados. Um dia ensolarado, que era para ser cheio de risadas, terminou cinza, como o cinza apagado dos olhos dela que passaram a encarar o nada.

Percy não conseguia olhar para mais nada do mesmo jeito, qualquer coisa o fazia lembrar dela, e talvez tenha sido péssima sua decisão de voltar para o acampamento meio-sangue, não existia um lugar sequer que não o trouxesse lembranças, mas, pelo menos, a grande maioria delas eram felizes. Eles festejando o 4 de julho ou simplesmente colhendo os morangos – roubando um ou outro de vez em quando – o caça bandeira, seus chalés... Alguns dias depois, ele teve um surto nada heroico quando entrou no chalé de Annabeth e viu que já tinham juntado todos os seus pertences em uma caixa, como se quisessem se livrar dela logo, os filhos de Atena deixaram ele gritar.

O segundo pior dia desde sua morte foi no funeral. Sua mortalha feita pelos irmãos era a mais perfeita que ele já vira, e se alguém merecia uma mortalha épica, essa era Annabeth. Percy não conseguiu falar nada, um bolo se formou em sua garganta e quando abriu a boca para falar de sua relação com o amor de sua vida, o que saiu foi apenas um soluço. Quíron tomou seu lugar, mas o semideus não processou nenhuma das palavras, mesmo quando Grover falou e então Thalia, Piper... Percy só conseguiu pensar que não estavam todos ali, que nada era para ter sido assim. Um filme passou em sua cabeça.

Annabeth brigando com ele enquanto colocava néctar em sua boca, que na época ele achava ser pudim. Annabeth chorando em seus braços depois de ouvir o canto das sereias. Ela caindo de um penhasco e ele imponente. O seu primeiro beijo e então o ciúme exagerado de Rachel e Calipso que ele só percebeu tarde demais. Annabeth tomando uma facada por ele. O inicio do namoro, os meses que lembrava apenas seu nome, os dias com os amigos no Argo II, ele tendo que a deixar seguir a marca de Atena sozinha. O Tártaro. A guerra e as perdas. E a paz que antecipou o caos.

Voltou para a realidade quando o cheiro das cinzas o atingiu. Não conseguia lidar com isso, nunca conseguiria, não queria nem tentar.

A paixão, os sorrisos, as risadas, os beijos, as lágrimas, o amor, os toques, as piadas, as brigas, as provocações, o calor. Tudo acabado, ele nunca mais teria nada daquilo. Apenas mais um fio de lã cortado.

Esfregou os olhos mais uma vez tentando afastar as lágrimas e as imagens vívidas demais. Sua cabeça latejava pela noite mal dormida, pelo choro ou pela bebida, ele não sabia dizer. Só sabia que estava certo quando pensou que não conseguiria suportar a falta da namorada, era a pior dor que já sentira, e ele já tinha suportado muita dor, tanto física quanto mental, nada se comparava, contudo, àquele pedaço arrancado de seu coração.

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N/A:

Bom dia/tarde/noite, tudo bem?

Desculpem a demora por atualizações, eu tô realmente sem tempo esse ano e minha inspiração também não vem com muito frequência.

Mas espero que tenham gostado, e eu não me responsabilizo pela terapia de ninguém, vocês leram por sua própria conta e risco :)

Era isso, beijos e se cuidem.

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